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Entrevista

"Adoro que os brasileiros tenham se relacionado com a mitologia nórdica", diz Neil Gaiman sobre novo livro

Autor comentou processo criativo do mais recente projeto e falou sobre como é para ele ver Thor nos cinemas

11.05.2017, às 14H25.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H43

Neil Gaiman sempre mostrou apreço pela herança cultural escandinava, relativa aos povos que viviam no norte da Europa - não por menos, o escritor já introduziu o deus Odin em obras como Deuses Americanos e Sandman. Nada mais justo, portanto, que seu mais recente trabalho fosse dedicado a mergulhar de vez neste universo: Mitologia Nórdica, novo livro de Gaiman lançado no Brasil pela Intrínseca, reconta diversos mitos escandinavos através da ótica do autor. Em entrevista exclusiva ao Omelete, Gaiman conta que, apesar da familiaridade com o tema, demorou dois anos para que ele organizasse as ideias e embarcasse de forma definitiva no projeto.

"O livro começou a nascer em 2008, quando um editor me perguntou se eu estaria interessado em escrever um livro sobre a mitologia nórdica. Passei dois anos pensando até dar a resposta positiva. Levei dois anos pensando em como seria escrever sobre o tema, tentando descobrir qual seria o estilo e como eu faria isso. Eu queria que fosse algo que funcionasse e que fosse real."

Mitologia Nórdica é uma coletânea de quinze contos, começando com a história da origem do mundo e mostrando a relação, permeada pelos mais diversos conflitos, entre os deuses. A saga vai até o Ragnarök, o cenário apocalíptico que levaria ao fim do planeta. Intercalando passagens sombrias com narrativas divertidas, o livro é uma tentativa de trazer de volta ao imaginário popular histórias que foram fonte de entretenimento para povos antepassados.

Aliás, em relação ao passado, Gaiman diz  que gostaria de ver o antigo costume de organizar reuniões para contar lendas e fábulas acontecendo no mundo contemporâneo. "Eu adoraria que as pessoas lessem histórias para crianças ao redor da fogueira ou na beira da praia no Brasil". Gaiman pontua ainda que exerga com certa curiosidade a relação entre os brasileiros e suas histórias sobre deuses nórdicos.

"É interessante, essas histórias não são nem um pouco brasileiras, é tudo muito frio. A história é contada em uma realidade em que o mundo te mata, o clima te mata, não há nada prazeroso. O verão nos países nórdicos tem apenas alguns meses em que pessoas no Brasil pensariam que era apenas um dia fresco. Acho que isso é o melhor nos brasileiros. Tudo sobre eles é tão destemido. Eu adoro que os brasileiros tenham se relacionado com mitologia nórdica."

Sobre o processo de produção do livro, Gaiman conta que a primeira das histórias em que se debruçou foi a que é abordada no sétimo capítulo, "O Casamento Incomum de Freya". "Assim que terminei esse eu sabia que tinha feito algo que seria engraçado, acessível, mas que também poderia assustar", conta. O livro, então, ficou pronto no começo de 2016, após Gaiman se reunir com seu editor, terminar as últimas histórias e colocar todas elas em ordem. "Esse foi um tema que me deixou muito contente, pelo qual eu me apaixonei e a ideia de que eu posso dar isso para o mundo é uma coisa muito interessante para mim".

Um dos pontos principais para o autor foi que nenhuma história do livro seria criada do zero - o que Gaiman se permitiria fazer seria dar uma nova roupagem a elas. Ele conta que o processo de criação foi cansativo para alguém acostumado a criar seus próprios universos. "O que eu sou bom em fazer é justamente criar coisas e a minha regra era que eu não poderia. Mas eu podia criar a nível de detalhes colaborativos, ou seja, se a história diz que um personagem foi de um ponto para outro, eu podia fazer uma interpretação pra ele de como foi ir de um ponto ao outro." Gaiman diz que fez muito disso ao longo do livro - por exemplo, para construir a história do capítulo "O Hydromel da Poesia", o autor precisou buscar detalhes em outros contos para deixar a trama bem amarrada.

E é interessante lembrar que não é só Gaiman que usa a mitologia nórdica para alimentar a cultura pop: um dos principais personagens da Marvel tanto nos quadrinhos quanto no cinema hoje é ninguém menos que Thor, deus dos trovões e das batalhas. Gaiman revela que ama o destaque que o universo de Thor tem recebido nas múltiplas mídias. "Os filmes são ótimos, adoro o Thor do Chris Hemsworth e o Loki do Tom Hiddleston. Eu adoro o fato de esses personagens ganharem o mundo. Qualquer forma que as pessoas possam descobrir a mitologia nórdica é boa, não importa como."

Lançado no Brasil pela Intrínseca com tradução de Edmundo Barreiros, Mitologia Nórdica mostra Neil Gaiman caminhando na trilha dos manuscritos originais sobre Argard, escritos em holândes por eruditos medievais.

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