Rodrigo Santoro ficou chocado ao descobrir que pessoas como Jerônimo, seu personagem maquiavélico em Bom Dia, Verônica, existem de verdade. Em entrevista ao Omelete, o ator disse que acessou redes sociais como Twitter, Instagram e YouTube como uma espécie de “pesquisa de campo” para saber onde estava a linha entre ficção e realidade.
“Fui pesquisar referências que pudessem se aproximar desse personagem, e encontrei”, comentou. “O que não deixa de ser muito triste, porque indica que a série não é inteiramente uma ficção. Encontrei perfis que se aproximavam de quem é o Jerônimo, e fiquei chocado, pensando: 'Eu não acredito que essa pessoa existe e está fazendo isso'. É claro que existe uma licença muito grande aqui, um descolamento da realidade, mas você vê que o personagem levanta questões que são muito verdadeiras”.
Na trama (spoilers de Bom Dia, Verônica a seguir), Jerônimo é um investidor multimilionário do agronegócio, que clandestinamente opera um esquema de tráfico humano, “leiloando” jovens mulheres capturadas à força, além de utilizá-las como barrigas de aluguel para bebês destinados a casais incapazes de conceber. Santoro não entrou em detalhes sobre os perfis que encontrou nas redes sociais, mas indicou que, para ele, Jerônimo levanta questões nas quais Bom Dia, Verônica ainda não tinha tocado.
“A violência e a forma como o abuso misógino está na sociedade, produto de tantos anos de patriarcado... esse é o tema da série desde a primeira temporada”, comentou. “Mas acho que o meu personagem levanta outras questões além dessa, como por exemplo a busca pela perfeição. A gente vive em um tempo em que isso é muito discutido, e o meu personagem tem uma visão de mundo baseada nisso. É um eugenista”.
O termo utilizado pelo ator, para quem não sabe, descreve um conjunto de crenças baseado na “melhoria” da humanidade através da multiplicação ou eliminação de determinados traços genéticos. Utilizada pelos nazistas para justificar o Holocausto dentro de sua busca pela “pureza racial”, a eugenia entra no contexto de Bom Dia, Verônica quando descobrimos que Jerônimo e sua mãe, Diana (Maitê Proença), geram eles mesmos os bebês que inseminam nas mulheres sequestradas, buscando assim perpetuar seus traços genéticos.
Até por conta desse elemento do personagem, Santoro disse que a preparação para interpretar Jerônimo também envolveu muito trabalho físico: “Achei que era fundamental para o personagem que meu corpo parecesse de certa maneira. Até porque, no roteiro, o Jerônimo era descrito de forma muito específica, então o visual dele claramente era importante para a trama. Rolou muita dieta, nada de sorvetinho durante muito tempo! Também muita ginástica, muito rigor nesse sentido”.
Mas gravar Bom Dia, Verônica na pele de um homem que o próprio Santoro descreve como capaz “do mais vil tipo de violência” também foi difícil de um ponto de vista psicológico. “A energia era pesada [no set], é claro que era. O ator sempre se empresta, então não tem como algo não ficar em você. Depois das filmagens você tem que sair e depois das filmagens fazer uma massagem, porque seu corpo está todo duro. Você tem pesadelos à noite, tudo isso”, comentou.
Bom Dia, Verônica: A Caçada Final já está disponível para streaming pela Netflix.