Troque Gotham City por São Paulo, e o Coringa por algum ex-galã global dos anos 1990, e Bom Dia, Verônica é exatamente como um gibi do Batman. Pelo menos é assim que pensa Tainá Müller, protagonista da série, que contou ao Omelete sobre os paralelos entre a personagem e os vigilantes das HQs de super-heróis.
“Estamos falando aqui de uma alegoria, de uma personagem que vai ficando cada vez mais parecida com uma heroína de HQs. É a mesma coisa de ver o Batman, o Homem-Aranha, todos eles”, enumerou Müller. “Eles têm suas contradições, têm sua luz e sombra, têm seus paradoxos. Estamos muito acostumados com os homens fazendo isso, temos poucas super-mulheres, mas com a Verônica estamos diante de uma heroína ou anti-heroína que também tem suas luzes e suas sombras”.
Por isso que, para a atriz, é justificada a revolta violenta comandada por Verônica na terceira e última temporada da série, que chega à Netflix na próxima quarta-feira (14). Embora Müller pessoalmente se defina como “alguém que acredita na democracia e nas instituições”, e que por isso não seguiria “qualquer caminho fora da lei” para lidar com os abusos misóginos encontrados pela personagem, na ficção o papo é outro.
“Tudo o que a série preparou até aqui foi conduzido a essa revolta da Verônica. E é uma revolta real, que existe em todas as mulheres que saem na rua com medo de não voltarem mais para casa, que sabem que no mínimo vão ouvir algo desagradável. É a arte como uma experiência catártica, uma lavada na alma, e isso é interessante porque na arte tudo é permitido, diferente da vida”, comentou ela.
Em sua jornada de cinco anos com Verônica (ela foi escalada no projeto em 2019), no entanto, Müller viu essa linha entre a verdade e a ficção se confundir o tempo todo. Não só as tramas sobre violência doméstica, tráfico humano e abuso sexual que a série abordou acabaram ecoando em casos reais que ganharam a manchete dos jornais durante esse tempo, como a relação do público com Bom Dia, Verônica - e, especificamente, o público feminino - se mostrou particularmente intensa.
“Fico muito satisfeita quando, por exemplo, as mulheres se aproximam de mim na rua e agradecem pela série… e isso acontece quase todo dia, tá?”, contou a atriz. “É impressionante, eu não estava esperando esse alcance, esse impacto nas pessoas. As mulheres dizem que a série salvou a vida delas, e eu penso que é um exagero, mas elas contam que precisaram ver com os próprios olhos o ciclo da violência para entender que estavam vivendo aquilo”.
“É óbvio que a gente está falando de entretenimento. Nossa responsabilidade não é educar, isso é função do Estado”, completou. “Mas não tem satisfação maior para mim, porque penso 'ufa, pelo menos fiz alguma coisa legal na minha vida”.
Bom Dia, Verônica: A Caçada Final chega à Netflix em 14 de fevereiro.