Uma das maiores falhas estratégicas na indústria cinematográfica são os trailers cheios de informações sobre os filmes. Algumas prévias enviadas pelos grandes estúdios entregam as histórias bem mastigadas para o público que tem pouco interesse em ser surpreendido ao comprar um ingresso às escuras. Por essa estratégia, encontram-se também filmes que não passam de trailers estendidos, como no caso do novo filme de Tyler Perry para a Netflix. Se alguém assistiu ao trailer de O Limite da Traição, não encontrará muitas novidades ao clicar “play” no serviço de streaming.
Na trama, a inexperiente advogada Jasmine Bryant (Bresha Webb) se torna a encarregada de um caso que está em evidência na mídia: Grace Waters (Crystal Fox), uma mulher mais velha que aparentava não ter defeitos, é acusada de assassinar brutalmente o marido (Mehcad Brooks) e sumir com o corpo. A resolução parece ser simples, principalmente quando Grace assume a autoria do crime e aceita que um acordo seja feito para que ela fique encarcerada perto da família. É aí que Jasmine, mesmo contra a vontade do chefe, resolve investigar um pouco mais e, bem, nem tudo é o que parece.
Escrito, dirigido e coestrelado por Perry, mais conhecido em Hollywood por ser um empresário bem sucedido, o longa entrega poucas ambições narrativas. Conhecemos a história de Grace narrada por suas memórias e aprendemos que Shannon, o falecido, é tão charmoso quanto pilantra. Em poucos minutos, vamos do golpe dado pelo amante nem-tão-bonzinho-assim à jovem que quer se provar como profissional e salvar a sua cliente. Diversos clichês são jogados em tela e, apesar do esforço de Crystal e Phylicia Rashad (que vive a melhor amiga de Grace, Sarah) para trazer alguma dramaticidade à trama, fica clara a falta de qualidade do roteiro.
O esforço das atrizes veteranas merece ser destacado muito por conta do péssimo trabalho de Webb. Encarregada de ser o ponto de equilíbrio da trama, a atriz é incapaz de fazer com que se torça por sua personagem. Sua Jasmine sofre com uma discrepante falta de carisma, talvez por conta da agilidade com que foi gravada a produção – Perry levou apenas cinco dias para finalizar as filmagens. Com o tempo curto, a atriz não teve tempo de construir uma personalidade mais bem definida para a protagonista.
Previsível, a trama também sofre com a tentativa de Tyler de criar expectativas. Toda a construção do julgamento de Grace, que deveria ser parte importante de sua história, parece preguiçosa. O relógio avança e as cenas parecem perder o seu propósito, como se o resultado estivesse definido desde o primeiro momento. Tivesse o diretor um pouco mais de clareza para conduzir sua própria criação, o resultado poderia ser menos decepcionante.
Com tantos erros em seu desenvolvimento, nem as reviravoltas do terceiro ato salvam O Limite da Traição de ser mais um filme na categoria de suspense que poderia estar ao lado de algumas das (piores) comédias do serviço de streaming.
O Limite da Traição
A Fall from Grace
Ano: 2020
País: EUA
Duração: 1h55 min
Direção: Tyler Perry
Roteiro: Tyler Perry
Elenco: Phylicia Rashād , Tyler Perry , Bresha Webb , Crystal Fox
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