Kevin Hart não é conhecido por filmes sutis. O comediante, ao invés disso, construiu uma carreira baseada em produções que apelam para o mais básico do humor americano de caricatura, confiando na energia ilimitada do ator para conquistar e prender o espectador. Até por isso a parceria dele com Dwayne "The Rock" Johnson, outro intérprete que entende do mínimo denominador comum do entretenimento, deu tão certo.
Essa não é, necessariamente, uma avaliação negativa da carreira do ator - às vezes, o básico do entretenimento é mais do que o bastante para relaxar após um dia estressante, e está tudo bem. Mas é por causa desse histórico que Paternidade, lançado hoje (18) no catálogo da Netflix, surpreende tanto.
No filme, Hart interpreta Matt, que se torna viúvo no dia seguinte ao nascimento de sua primeira filha, Maddy. Precisando encarar, inesperadamente, a vida de pai solteiro, ele ainda tem que lidar com uma sogra (Alfre Woodard) que não acredita que ele é capaz de cuidar de sua neta recém-nascida; com as pressões de um trabalho exigente; com amigos que não sabem se comportar diante da sua nova situação... e com as fraldas sujas e noites sem dormir, é claro!
Paternidade é inspirado na vida de Matt Logelin, que contou a sua história no livro Dois Beijos para Maddy, adaptado para o cinema pelo também diretor Paul Weitz (Um Grande Garoto) e por Dana Stevens (Cidade dos Anjos). O problema é que o roteiro, em si, vacila no ritmo da narrativa, escolhendo momentos desconfortáveis para fazer seus saltos temporais e lutando para encaixar o humor de Hart e Cia em seu tom mais sóbrio.
Às vezes, esse desequilíbrio se traduz em uma confiança exagerada no humor de constrangimento, vide o embaraço exagerado com o qual os dois melhores amigos de Matt (vividos por Lil Rel Howery e Anthony Carrigan, bons atores que merecem melhor do que recebem aqui) agem após a morte de sua esposa. Às vezes, ele se traduz nos personagens tomando decisões injustificadas, no calor do momento, para mover a trama adiante, o que afasta o espectador do núcleo emocional da história.
Mas Paternidade também tem acertos flagrantes. Um dos mais recompensadores é o quanto ele permite que todos os seus personagens sejam maduros, adultos mesmo - incluindo o próprio Matt, das decisões cotidianas que ele toma na criação de sua filha à maneira como lida com os atritos causados por sua posição de pai solteiro, passando pela forma como navega o seu ambiente de trabalho. Esta não é, ainda bem, mais uma história de um homem bobão e mimado "aprendendo" a ser pai. É simplesmente a história de um pai enfrentando os dilemas que muitos outros enfrentam.
E Hart, é preciso dizer, encarna esse papel com brilhantismo. Desde a angustiante cena, no início do filme, em que Matt recebe a notificação da morte de sua esposa, ele aborda o desafio diante de si com sensibilidade medida, nunca ultrapassando o tom do humor ou do drama, construindo um personagem que não é só crível, como também envolvente, durante toda a 1h50 de Paternidade.
Este não é um filme perfeito, evidentemente, mas é um drama maduro que vai falar ainda mais alto aos pais e mães solteiros (e seus filhos!) que acabarem apertando o play. Para eles e para qualquer um que estiver disposto a ver um filme "de gente grande", é uma boa pedida.
Ano: 2021
País: EUA
Classificação: 12 anos
Duração: 109 minutos min
Direção: Paul Weitz
Elenco: DeWanda Wise, Kevin Hart, Lil Rel Howery, Alfre Woodard