Chega ao catálogo da Netflix o primeiro filme de Natal produzido inteiramente em solo brasileiro e que é parte do grande investimento da plataforma em títulos do gênero. Tudo Bem no Natal que Vem chega como um produto natalino padrão, que promete diversão e boas mensagens sem ousar demais, e ao mesmo tempo é uma comédia de erros típica da produção popular nacional - nessa mistura, os responsáveis pelo longa entregam um filme nervoso, que atira para todos os lados.
Tudo Bem no Natal que Vem tem um argumento promissor e que, apesar das semelhanças com outros filmes, reserva uma abordagem inusitada: Jorge (Leandro Hassum) é um Grinch, odeia o Natal e tudo que ele representa. Na celebração do ano de 2010, ele cai do telhado e sua consciência daquele dia só acorda de novo na véspera do Natal de 2011. Ou seja, ele vive o ano inteiro normalmente, mas para seu cérebro - e seu azar - o único dia em que ele está desperto de verdade é a véspera de Natal, ano após ano.
O roteiro surpreende estabelecendo as regras desse Dia da Marmota natalino. Quando Jorge desperta no dia 24, ele passa o dia inteiro tentando resolver as porcarias que fez no resto do ano, já que quando acorda no dia 25 não se lembra mais do dia 24. A dinâmica mantém as duas personalidades de Jorge bem separadas. O roteiro de Paulo Cursino enche a vida do personagem de parentes exagerados, e o filme trabalha em torno desse grande terreno de possibilidades de situações novas. A cada ano, quando o “Jorge do Bem” acorda, são as relações mudadas com os familiares que tonalizam o filme. É o bom e velho feitiço do tempo a serviço de um conto moral, em que o protagonista encara a consequência direta das decisões que toma na vida.
Farofa Natalina
Hassum e companhia não mudam muito sua fórmula, nessa migração para a Netflix. Diretor de sucessos como De Pernas Pro Ar, Roberto Santucci traz sua linguagem direta, quase televisiva, que depende essencialmente do trabalho dos atores e do texto, e sua parceria com Paulo Cursino é afinada. Com Hassum, os dois já fizeram O Candidato Honesto (2014) e a franquia Até Que a Sorte Nos Separe (2012), e até a presença de Danielle Winits em cena com Hassum deixa o novo filme com cara de déjà vu.
A familiaridade é central aqui. Desde a premissa (marido estressado às vias da separação com a mulher) até o enredo que explora diferentes versões das mesmas personas, Tudo Bem no Natal que Vem parece não apenas reciclar ideias como partir mesmo para a autorreferência. Em determinados pontos, o filme vai buscar nos signos do subgênero natalino outras várias formas de conexão com o que já está estabelecido no mercado. Ao final, a sensação é de que o espectador viu vários filmes em um, todos eles em reprise.
A presença de Hassum é central nessa reunião eficaz de elementos. A exemplo de Adam Sandler e The Rock, quando usam suas personas conhecidas em filmes-família, Hassum é a garantia do conforto. Lá está o ator de comédias que todos conhecem, parte Grinch, parte Nicolas Cage em Homem de Família (2000) e parte Natasha Lyone em Boneca Russa (2019). Todas as reviravoltas de Tudo Bem no Natal Que Vem e seus vários saltos de encontros e desencontros só servem para levar ao mesmo resultado que todos conhecem - e esperam.
Ano: 2020
País: Brasil
Duração: 100 min min
Direção: Roberto Santucci
Roteiro: Paulo Cursino
Elenco: Louise Cardoso, Danielle Winits, Leandro Hassum