Uma Invenção de Natal

Créditos da imagem: Netflix/Divulgação

Netflix

Crítica

Uma Invenção de Natal

Musical de Natal surpreende com canções de John Legend e atuações de Forest Whitaker e Ricky Martin

13.11.2020, às 10H59.
Atualizada em 13.11.2020, ÀS 17H47

Filmes de Natal costumam padecer do mesmo problema: é quase impossível lançar mão de certas ousadias. Tudo acaba sempre envolvido numa atmosfera de otimismo inevitável, onde cabem os sofrimentos apenas como base para a superação. Uma saída é a sátira, outra é contar a mesma história muitas vezes, tentando domar os clichês para que o resultado seja inspirador.

O novembro natalino da Netflix encheu a plataforma de títulos desse segundo tipo; longas como Missão Presente de Natal jogam com o linear e Amor Com Data Marcada tenta o mínimo de ousadias. De todas as produções planejadas para esse “esquenta”, Uma Invenção de Natal é a mais ambiciosa, mais calculada e, por isso, a que carrega consigo mais expectativas. O filme do diretor David E. Talbert mistura Natal, musical, fantasia e comédia numa só receita, e chega muito perto da implosão criativa. O que acaba sendo mais inesperado é a sensação final de que tudo isso funciona.

Talbert tem experiência nos quesitos. O diretor e roteirista de Uma Invenção do Natal tem um longo currículo de romances publicados e espetáculos teatrais montados. O gênero do Natal em convergência com o gênero dos musicais também é providencial. Talbert dirigiu outros longas natalinos e os musicais já fazem parte de sua trajetória. Outra coisa em comum entre seus trabalhos são os elencos majoritariamente pretos, o que lhe rendeu até mesmo o comando de um reality show em 2008, onde atores e atrizes disputavam papéis em sua próxima peça. O novo longa do diretor acaba sendo uma espécie de fundição de todo seu apelo comercial.

A ambição de Talbert está em absolutamente tudo: na direção de arte extremamente bem cuidada, nos figurinos exagerados, nas transições que fundem o live-action a um competente trabalho de animação e nos arranjos musicais, dois tons pop acima do que se espera de produções do tipo. Todo o universo proposto pelo filme é completamente inverossímil, mas a ideia é construir uma identidade fantasiosa, como se as casas, as ruas, as roupas e a rotina daquela pequena cidade fossem sempre dedicadas ao Natal e às pequenas doses de mágica que são consideradas absolutamente naturais por todos. É como em A Fantástica Fábrica de Chocolate, onde o irreal é real para os que compartilham daquele pedacinho fictício de mundo.

Sem Invenções

A trama de Uma Invenção de Natal, contudo, não é nada ousada. Jeronicus (Forest Whitaker) é um protagonista clássico das tramas de superação. Uma versão suavizada de Scrooge, mas recorrente ao gênero: um velho ranzinza que perdeu o espírito de Natal e que vai se transformar no decorrer da narrativa. No caso de Jeronicus a coisa toda é ainda mais corriqueira, já que é com a chegada de sua neta Journey (Madelen Mills) que Jeronicus começa a reacreditar na celebração. Os coadjuvantes também seguem todos uma cartilha pré-fabricada, mas conseguem com carisma desviar das obviedades com que foram construídos.

São esses coadjuvantes, enfim, que dão ao longa um frescor. O enredo mostra Jeronicus perdendo tudo depois que um ajudante lhe rouba seu livro de invenções. Anos depois, com as invenções do livro esgotadas, Gustafson (Keegan Michael-Key) retorna para a vida do antigo patrão à caça de um novo brinquedo revolucionário. O charme do filme se constrói em torno dos clássicos personagens cômicos do gênero: o novo ajudante atrapalhado, a viúva apaixonada que persegue Jeronicus e o boneco que ele inventou ainda jovem e que acabou traindo-o após ganhar consciência. O boneco em questão ganhou a voz de Ricky Martin, que surpreende com uma entrega admirável. É dele a performance mais forte do longa.

As versões em português das canções perdem um pouco da elegância das letras, o que torna as versões originais mais atrativas. Pode parecer um detalhe tolo, mas em produções tão ligadas ao apelo sentimental, pequenos alívios do amontoado de chavões são preciosos. Por ser um musical, Uma Invenção de Natal ainda tem uma vantagem a mais na construção do seu universo fantástico: com canções animadas e coreografias enérgicas, somos blindados contra o tédio do “faz de conta”.

Embora tudo no filme não seja inventivo, ele faz o trabalho "correto", entretendo e inspirando, transmitindo aquela ideia estilizada da data que não se correlaciona com a nossa realidade, mas que nos fascina. Não há nada de novo nas mensagens de fé e esperança, mas o Natal é uma festa que só pode ser totalmente aproveitada se nos entregamos totalmente ao sabor do clichê. Se o cinismo for sua força motora, passe longe... Ou se arrisque, olhe para o filme por uma lupa otimista e, quem sabe, pode até acabar sendo convencido.

Nota do Crítico
Ótimo
Uma Invenção de Natal
Jingle Jangle: A Christmas Journey
Uma Invenção de Natal
Jingle Jangle: A Christmas Journey

Ano: 2020

País: EUA

Duração: 122 min min

Direção: David E. Talbert

Roteiro: David E. Talbert

Elenco: Madalen Mills, Forest Whitaker, Keegan-Michael Key, Ricky Martin

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