Taça Jules Rimet

Créditos da imagem: STF / AFP

Netflix

Artigo

O roubo da taça Jules Rimet, uma história real (e brasileira) à la Lupin

Conheça o caso do desaparecimento desta peça valiosa e histórica que, por mais que pareça, não aconteceu em Paris, nem foi obra de Assane e Ben

16.06.2021, às 16H12.
Atualizada em 16.06.2021, ÀS 17H01

“O roubo da taça Jules Rimet” parece nome de novela policial. Somada à referência ao antigo presidente da Federação Francesa de Futebol, então, o título leva a imaginação do “leitor” direto para as ruas de Paris, onde Arsène Lupin cometeu crimes tão ousados quanto o histórico furto da estatueta adornada com a imagem de Niké, a deusa grega da vitória. No entanto, este caso e sua petulância não são obra do ladrão de casaca. Aliás, sequer são ficcionais -- muito embora a história tenha virado quase uma lenda entre os amantes de futebol. Acredite se quiser, o roubo aconteceu aqui no Brasil, até hoje ninguém sabe ao certo que fim levou a taça e mais: esses não são os únicos paralelos entre essa emblemática história e o anti-herói que inspirou a série da Netflix.

Como o colar de Maria Antonieta em Lupin, a taça Jules Rimet era muito valiosa por duas razões. A primeira e a mais óbvia está atrelada ao fato de que era feita à base de materiais preciosos. Enquanto o colar tem seus diamantes, a estatueta tinha 1,8 kg de ouro maciço e era avaliada em cerca de 50 mil francos, o equivalente a algumas dezenas de milhares de dólares hoje em dia. A segunda e, talvez, mais importante das razões, porém, é seu significado. Se a joia conta parte da história da França, a taça é também símbolo da memória do povo brasileiro. Em um país tão apaixonado por futebol, como esquecer o tricampeonato mundial conquistado em 1970, com Pelé, Rivelino e companhia?

Pelé erguendo a taça Jules Rimet
STF / AFP

Não bastasse isso, como a joia, a taça passou por muitas mãos ao longo da história. No caso, todas as seleções vencedoras da Copa do Mundo até o nosso saudoso tri. Isso porque, segundo o regulamento da FIFA, o troféu ficaria em definitivo com o país que primeiro ganhasse o campeonato três vezes. Mas a gente pôde de fato saborear essa conquista por apenas 13 anos.

Uma história aos moldes de Lupin

Em 1983, a taça Jules Rimet foi levada do antigo prédio da CBF. Na época, ela estava na sala do presidente da confederação, Giulite Coutinho, enquanto a réplica ficava em um cofre. Apenas uma pessoa infiltrada na organização saberia que a original estava assim, tão exposta. Quer dizer, ela estava protegida por vidros à prova de bala, mas em última instância ao alcance de qualquer pessoa ousada o suficiente para tentar roubá-la. E é aí que entra não Arsène Lupin, nem Assane Diop (Omar Sy), mas sim Sérgio Peralta.

Como representante do Atlético Mineiro, ele circulava livremente pela confederação e tinha pleno conhecimento de onde estava o troféu original. Mas, assim como Assane nos seus planos, Peralta não seria capaz de roubá-lo sem ajuda.

Diferentemente de Ben (Antoine Gouy), porém, a dupla de capangas que cooperou com Peralta tinha apelidos cômicos e bem brasileiros: Barbudo e Bigode. Foram os dois que invadiram o prédio, renderam o vigia e roubaram não somente a Jules Rimet, como também outras três taças. A dupla, então, levou a peça para um ourives derretê-la. Detalhe -- e este é especialmente cruel para qualquer brasileiro aficionado por esporte --: o encarregado de destruir a taça foi um argentino, Juan Carlos Hernandez.

Trailer do filme O Roubo da Taça (2016), inspirado na história real do sumiço da taça Jules Rimet

Assim como todos os roubos de Assane, o caso da taça Jules Rimet repercutiu muito na imprensa, que evidenciou -- aqui, de um jeito mais trágico do que propriamente cômico -- as trapalhadas dos investigadores e da CBF. É, o detetive Guedira (Soufiane Guerrab) e seus colegas podem dormir tranquilos que não foram os únicos passados para trás. Mas, ao menos no Brasil, os assaltantes escaparam apenas uma vez, sendo eventualmente julgados e presos.

Um deles, no entanto, teve o mesmo destino de Leonard (Adama Niane), o capanga de Pellegrini (Hervé Pierre), na Parte 2 de Lupin: Barbudo foi assassinado em 1989, enquanto esperava o julgamento da apelação, em liberdade. Peralta e Bigode, por sua vez, cumpriram alguns anos de pena e foram soltos. Já o argentino Juan Carlos Hernandez sequer foi preso pelo caso. Foi parar na prisão anos depois por se envolver com tráfico de drogas. Antes disso, mais especificamente um ano após o roubo da taça, ele encarnou o descaramento de Assane e abriu uma loja especializada em compra e venda de joias chamada Aurimet, que nada mais é que a junção das palavras auri (ouro) e Rimet. Discreto, né?

Se Assane e Ben um dia desejarem dar um pulo aqui no Brasil para viver novas aventuras, a história da taça Jules Rimet certamente poderá servir de inspiração. Até lá, os melhores amigos, vividos por Omar Sy e Antoine Gouy, seguem causando muitas confusões nas ruas de Paris em Lupin, da Netflix.

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