Os amantes da animação japonesa estão em festa, tudo porque a Netflix começou a disponibilizar em seu catálogo todos os filmes do Ghibli. O estúdio de Hayao Miyazaki, conhecido como o Deus do Anime, é responsável por diversas obras conhecidas mundialmente, como A Viagem de Chihiro, Meu Amigo Totoro e Princesa Mononoke, e esta é a primeira vez que (quase) todos os filmes do estúdio são disponibilizados oficialmente no Brasil.
Lembrando que a lista do serviço de streaming não inclui os curtas animados, o longa Túmulo dos Vagalumes, o videoclipe de "On Your Mark" e nem o anime Ronja, dirigido por Goro Miyazaki em 2014.
Os filmes entrarão na Netflix em três levas até abril. Confira o nosso guia com todos os filmes disponibilizados no catálogo:
O Castelo no Céu (1986)
Mais conhecido no Japão como "Laputa" (se lê "lá-pyutá"), o longa metragem sobre um castelo no céu foi a primeira produção oficial do Ghibli, afinal Nausicaa foi lançado antes do estúdio se formar. Tal qual o antecessor, O Castelo no Céu foi dirigido por Hayao Miyazaki, produzido por Isao Takahata e contou com a belíssima trilha sonora de Joe Hisaishi, trio presente em muitos outros clássicos.
O Castelo no Céu oferece uma história repleta de aventura, ação e uma pitada de características do gênero steampunk (em que os humanos utilizam maciçamente máquinas a vapor para o progresso). A trama é protagonizada por Sheeta, uma jovem detentora de uma pedra mágica, que é capturada por um bandido cujo objetivo é usar os poderes da pedra para acessar a cidade de Laputa. Após escapar, Sheeta conhece o órfão Pazu e os dois se unem para explorar a tal cidade.
O nome "Laputa" pode ser um pouco estranho para nós latinos, mas isso é uma referência a uma ilha flutuante que apareceu no livro As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift. Por também ter esse elemento da verticalidade, Hayao Miyazaki usou e abusou de suas famosas cenas de voo que viriam a aparecer em quase todos seus longas.
Meu Amigo Totoro (1988)
Em 1988 o estúdio Ghibli chegou aos cinemas com dois filmes lançados no mesmo dia. Enquanto o diretor Isao Takahata levou o Japão às lágrimas com seu longa O Túmulo dos Vagalumes (não presente no pacote da Netflix), Hayao Miyazaki apareceu com um dos filmes mais emblemáticos (e fofos) do estúdio, Meu Amigo Totoro. O personagem título, um espírito da floresta peludo e gigantesco, acabou se tornando o mascote do Ghibli e a venda de produtos licenciados ajudou a deixar o caixa do estúdio no azul.
Em Meu Amigo Totoro, acompanhamos a mudança de Tatsuo e suas duas filhas, Satsuki e Mei, para o interior do Japão para ficarem próximos do hospital no qual a mãe das crianças está internada. Tatsuo estimula a criatividade de suas filhas contando sobre os espíritos responsáveis por cuidar da natureza, e as meninas encontram o gigantesco Totoro durante um passeio pela floresta. Não se deixe enganar pelo roteiro "bobinho", Meu Amigo Totoro é um dos melhores filmes do Ghibli e é capaz de deixar o espectador maravilhado pela animação e apreensivo pelos acontecimentos perto do final.
Totoro é, sem sombra de dúvidas, um dos personagens mais importantes da história da animação japonesa. O personagem aparece em uma infinidade de produtos, é uma das atrações do Museu do Ghibli e a música tema de abertura é cantada até hoje para crianças pequenas em escolas.
O Serviço de Entregas da Kiki (1989)
Com o sucesso de Meu Amigo Totoro, o Ghibli continuou investindo em histórias mais leves para toda a família como foi o caso de O Serviço de Entregas da Kiki. Contando novamente com a direção de Hayao Miyazaki e a trilha sonora de Joe Hisaishi, o filme é uma adaptação de um livro lançado alguns anos antes sobre uma bruxa chamada Kiki e de suas entregas feitas com sua vassoura.
A história de O Serviço de Entregas da Kiki não traz nenhum grande antagonista e nem dramas muito pesados. Durante o filme a gente vê Kiki fazendo entregas, limpando seu quarto, fazendo amizades com vizinhos e conhecendo pessoas novas e fascinantes. O filme esconde temas como "crescer" em meio a uma trama muito gostosinha de se assistir.
Hayao Miyazaki com Kiki reforçou uma de suas principais habilidades em seus filmes: mostrar mulheres protagonistas fortes. O filme chegou a ser lançado nos EUA, mas passou por adaptações severas... além da trilha sonora alterada, foram incluídas várias piadinhas inexistentes no original. Na versão americana o gato Jiji faz muitos comentários engraçadinhos quando não aparece na tela, já no original ele é muito mais contido.
Memórias de Ontem (1991)
O diretor Isao Takahata, de O Túmulo dos Vagalumes, voltou ao posto de diretor de um filme do Ghilbi em Memórias de Ontem. Após uma série de filmes fantásticos e repletos de criaturas místicas, o estúdio apresentou um longa com um pouco mais de pé no chão.
Memórias de Ontem é protagonizado por Taeko, uma mulher de Tóquio um pouco viciada em trabalhar. Com o objetivo de visitar a família de sua irmã, ela se despede momentaneamente da cidade grande e viaja a Yamagata, e no caminho ela reflete se sua vida atual é o que sempre sonhou mesmo.
A história, bem mais adulta se comparada às dos filmes antecessores, é uma adaptação de um mangá homônimo publicado em 1982 no Japão, e é um dos menos lembrados longas do estúdio. Contribui para isso o fato de não ter Hayao Miyazaki diretamente em alguma função, mas não pense se tratar de uma animação dispensável. Como as demais produções do estúdio, é um deleite de se assistir.
Porco Rosso: O Último Herói Romântico (1992)
Uma das grandes paixões de Miyazaki é a aviação, e talvez por isso tenhamos tantas cenas aéreas caprichadas em seus filmes. Com Porco Rosso ele foi além e criou uma história ambientada no mar Adriático no período entre-guerras, numa trama repleta de aviões e combates aéreos. O protagonista? Um porco!
Porco Rosso conta a história de Marco Porcellino, um piloto de avião que acabou se transformando em um porco antropormófico e passou a trabalhar como caçador de recompensas na região do Adriático. Em suas aventuras ele conhece a jovem Fio Piccolo e participa de uma competição contra o egocêntrico piloto Donald Curtis.
Acostumado a histórias fantásticas, Hayao Miyazaki criou uma trama um pouco mais realista (nas devidas proporções, afinal o protagonista é um porco piloto de aviões). Porco Rosso se passa em um momento específico da História Mundial e há alguns questionamentos políticos na história. Uma cena, que chegou a virar meme recentemente, mostra Marco em um cinema afirmando "melhor um porco a um fascista".
Eu Posso Ouvir o Oceano (1993)
Ao contrário dos demais filmes do Ghibli presentes nesta lista, e no catálogo da Netflix, este filme não foi lançado para o cinema. Eu Posso Ouvir o Oceano foi uma animação feita exclusivamente para a televisão, exibido em 5 de maio pela Nippon TV, e foi tratado internamente pelo estúdio como uma proposta muito específica de treinar a equipe.
O filme se passa na cidade de Kochi, e mostra os amigos Yutaka e Taku vivendo suas vidinhas até conhecerem Rikaku, uma aluna vinda de Tóquio, e nasce um triângulo amoroso entre esses adolescentes. Uma história bem simples, mas que surpreende pela profundidade dos personagens.
O longa foi dirigido por Tomomi Mochizuki (com 34 anos na época) e roteirizado por Nozomu Takahashi e Seiji Okuda. Boa parte da equipe de produção é composta por pessoas mais novas, pois a ideia do Ghibli era realizar um filme mais simples para essas pessoas pegarem prática do trabalho. Embora a ideia original fosse a de fazer um filme mais "baratinho", no final das contas eles acabaram gastando muito mais do que o esperado.
Contos de Terramar (2006)
Em meados dos anos 1980, Hayao Miyazaki pediu uma oportunidade à autora Ursula Le Guin para adaptar sua séries de livros sobre o arquipélago de Terramar. A princípio Ursula recusou a proposta, mas reconsiderou após ter se encantado com Meu Amigo Totoro. O sonho de ver sua série de livros virar um belo anime na mão do renomado diretor foi por água abaixo, pois Hayao Miyazaki ficou de fora da produção de Contos de Terramar, deixando a direção e roteiro para seu filho, Goro Miyazaki.
Contos de Terramar segue mais ou menos a história do primeiro livro da série, O Feiticeiro de Terramar. O protagonista é Ged, um mago que decide investigar a aparição de dragões em Terramar, e sua relação com o príncipe Arren, um garoto que ganha uma força muito grande em momentos críticos.
A estreia de Goro Miyazaki não foi das melhores. Embora o filme tenha conseguido boa bilheteria no Japão, a repercussão geral foi bem abaixo dos longas anteriores do estúdio. Ursula Le Guin chegou a declarar que o filme tomou liberdades demais e se distanciou do livro original, mas que ainda assim havia achado um bom filme. Já Goro Miyazaki levaria seis anos para voltar a dirigir um longa metragem do Ghibli.
Nausicaä do Vale do Vento (1984)
Mesmo fazendo parte do pacote de filmes do Ghibli, foi somente após o sucesso de Nausicaä que o famoso estúdio de animação se formou de fato. Reunindo nomes conhecidos como Hayao Miyazaki na direção e Joe Hisashi na trilha sonora, Nausicaä apresenta várias ideias constantes nos filmes do estúdio como a importância da preservação da natureza e belas cenas aéreas.
O filme se passa num futuro após uma guerra ter devastado o planeta e fragmentado as nações. Neste cenário conhecemos Nausicaä, a princesa do Vale do Vento, uma jovem com uma grande conexão com a natureza cuja missão é evitar uma destruição ambiental causada pelo reino de Tolmekia.
Após dirigir O Castelo de Cagliostro, um longa do personagem Lupin III, Hayao Miyazaki foi convidado a publicar um mangá na revista Animage. Foi lá que ele lançou a quadrinização de Nausicaä, e seu sucesso de público teria animado produtores dispostos a investir em um longa. Esse mangá original de Nausicaä tem uma história especialmente triste para os brasileiros: a editora Conrad licenciou e começou a publicar o título no Brasil em meados dos anos 2000, mas problemas financeiros levaram ao cancelamento faltando apenas um volume para terminar. Desde então outras editoras brasileiras teriam entrado em contato para republicar o mangá, mas a editora japonesa não estaria mais disposta a licenciar após o cancelamento da Conrad.
Princesa Mononoke (1997)
Fruto das preocupações crescentes com o meio ambiente levantadas em debates no começo da década, Princesa Mononoke é considerado um dos melhores filmes de Hayao Miyazaki. Após uma produção demorada, custosa e repleta de efeitos visuais, o diretor criou uma trama tão heroica quanto seus primeiros trabalhos.
Em Princesa Mononoke assistimos a uma luta entre Ashitaka e um demônio que atacou sua aldeia, e o confronto leva uma maldição ao corpo do jovem. Em busca de uma cura, Ashitaka conhece a misteriosa San, que lhe ensina sobre a relação entre o homem e a natureza, e enfrenta uma luta épica contra um grupo disposto a destruir a floresta.
Uma curiosidade interessante sobre esse filme é que chegaram a cogitar sua exibição no Brasil em meados dos anos 90, muito antes do novo "boom" de animes originado de Pokémon e Dragon Ball Z. Princesa Mononoke até recebeu uma dublagem bem feita, realizada no Rio de Janeiro, mas os planos de lançamento deram errado. Durante muito tempo, a única forma de assistir à dublagem brasileira era comprando a edição especial do DVD japonês que trazia versões em vários idiomas, mas em meados da década passada o filme foi lançado oficialmente em DVD e Blu-Ray pela Versátil Filmes no nosso território.
Meus Vizinhos, Os Yamadas (1999)
Todos estavam ansiosos para o novo filme do estúdio depois do estouro que foi Princesa Mononoke, mas ninguém poderia imaginar algo como Meus Vizinhos, Os Yamadas chegando. O Ghibli deixou de lado a narrativa épica e a crítica social para... adaptar uma série de tirinhas japonesas de humor bem leve.
Baseado numa série de quadrinhos yonkoma (tirinhas de quatro quadros), Meus Vizinhos, Os Yamadas conta a história da família Yamada, composta por um pai, uma mãe, um filho no começo da adolescência, uma filha de 5 anos, uma sogra e um cãozinho. O filme é uma sucessão de pequenos episódios da vida dessa família, sempre com muito bom humor.
A premissa pode parecer estranha, ou até muito parecida com a série A Grande Família da Globo, mas é um gênero adorado pelos japoneses. O anime mais assistido até hoje no Japão é Sazae-san, uma série sobre relações familiares. Meus Vizinhos, Os Yamadas foi dirigido por Isao Takahata e chama a atenção por usar um outro design de personagens, diferente do habitual dos filmes do Ghibli, e pela colorização digital.
A Viagem de Chihiro (2001)
Foi com A Viagem de Chihiro que boa parte do ocidente conheceu Hayao Miyazaki e o estúdio Ghibli, afinal foi o primeiro longa a disputar e ganhar o Oscar de Melhor Animação, em 2003. O "sucessor" de Princesa Mononoke pode não ter cenas de ação incríveis, mas surpreendeu com uma história belíssima e uma animação impressionante.
Chihiro é uma garota de mudança com sua família, até que seus pais fazem uma parada inesperada. Eles encontram um lugar cheio de comida e começam a beliscar tudo por lá. Isso faz com que eles se transformem em porcos graças ao poder da bruxa Yubaba. Chihiro passa a trabalhar para essa bruxa em sua casa de banhos, mas perde o próprio nome e passa a ser chamada de Sen. O filme conta como a garota tenta fugir da megera com a ajuda do rapaz Haku em uma história repleta de significados e interpretações.
A Viagem de Chihiro foi o primeiro longa do estúdio Ghibli a ser lançado nos cinemas brasileiros. Hayao Miyazaki chegou a dizer que esse seria seu último filme, mas a aposentadoria do diretor acabou sendo adiada um pouquinho...
O Reino dos Gatos (2002)
O Reino dos Gatos é um projeto mais "humilde" do estúdio Ghibli. Dirigido por Hiroyuki Morita (do anime Golden Boy, um clássico erótico dos anos 90) e com roteiro de Reiko Yoshida (de Kaleido Star e K-On!), esse longa não-tão-longo-assim (tem pouco mais de uma hora) adapta o mangá Baron Neko no Danshaku de Aoi Hiiragi.
O filme começa quando a garota Haru salva um gato de um atropelamento. Ela não imaginava que ele era o príncipe Lune do Reino dos Gatos e por ter salvado o felino ganha o direito de se casar com ele. Haru é levada a força para o reino dos gatos e Barão (o mesmo gato de Sussurros do Coração) invade o reino para salvá-la desse casamento.
O Reino dos Gatos é um filme bem Sessão da Tarde, com bastante aventura, humor e uma história sem muita pretensão. O filme foi produzido porque Miyazaki tinha interesse em fazer uma história sobre gatos, então a autora do mangá de Sussurros do Coração criou um mangá derivado protagonizado pelo gato Barão. Esse longa chegou a ser lançado no Brasil direto em DVD.
O Mundo dos Pequeninos (2010)
Assim como outros filmes do Ghibli, este é mais uma adaptação de um clássico da literatura infantil. Dessa vez o livro é Os Pequeninos Borrowers (The Borrowers no original), de Mary Norton, um romance que Hayao Miyazaki queria há muito tempo transformar em um longa animado.
Neste mundo existem seres minúsculos que habitam as casas e "tomam emprestado" as coisas dos humanos, uma possível explicação para itens desaparecidos numa casa. A protagonista deste filme é Arrietty, uma garota pequenina que ocupa uma casa antiga com sua família, mas tudo muda quando ela faz amizade com o humano Shou.
Aqui no Brasil uma outra adaptação de Os Pequeninos Borrowers fez muito sucesso em meados dos anos 90. Os Pequeninos foi uma série produzida pela BBC com atores de verdade e teve seus episódios exibidos a exaustão pela TV Cultura no Brasil.
O Conto da Princesa Kaguya (2013)
Previsto para ser lançado junto de Vidas ao Vento, repetindo a dobradinha de Meu Amigo Tororo e o Túmulo dos Vagalumes, o longa da princesa nascida de um bambu acabou saindo antes da então despedida de Miyazaki (que felizmente não foi cumprida).
Kaguya nasce de dentro de um bambu especial e é adotada por dois pais humildes. Durante a juventude ela se muda para a capital e ganha a alcunha de "princesa Kaguya", sendo disputada por vários homens. Como não ama nenhum, Kaguya pede que cumpram tarefas quase impossíveis em troca do seu amor.
O Conto da Princesa Kaguya foi um dos poucos filmes do estúdio Ghibli que fugiram ao estilo tradicional, adotando um visual parecido com aquarela. A escolha por essa história tem a ver com as experiências pessoais do diretor, apaixonado pelo conto original quando criança. Esse foi o último longa dirigido por Isao Takahata, que faleceu em 2018.
Pom Poko: A Grande Batalha dos Guaxinins (1994)
Isao Takahata tinha a fama de fazer filmes mais "pesados" no Ghibli, então em 1994 ele teve a chance de produzir um longa mais no clima dos clássicos Kiki e Totoro. Os protagonistas da vez são guaxinins, mais especificamente uma espécie japonesa presente no imaginário cultural do país: o tanuki.
A trama infelizmente é muito atual: com o desmatamento, os guaxinins estão sendo despejados de seus lares. Eles têm o poder de se transformar em outras coisas, igual aos tanukis das lendas, então tentam utilizar esse poder para afastar de vez os homens da floresta.
O filme foi um sucesso e líder de bilheteria no ano de 1994, como já acontecia com os longas do estúdio. Já no ocidente ele passou por alguns problemas curiosos de cortes: nas lendas japonesas, há um foco bem grande nos testículos dos tanukis, e algumas dessas cenas incomodaram os licenciantes ocidentais. Tem até uma cena na qual os guaxinins voam usando os próprios testículos como balões... imagina a dor de cabeça que deu para os americanos.
Sussurros do Coração (1995)
Em 1995 o público japonês presenciou uma situação inédita: o filme do Ghibli daquele ano não era dirigido nem por Hayao Miyazaki e nem por Isao Takahata. Produzido diretamente para a televisão, Sussurros do Coração ficou a cargo de Yoshifumi Kondo e teve sua história baseada em um mangá da autora Aoi Hiiragi.
O cartaz de Sussurros do Coração nos leva a crer que se trata de uma história de aventura fantástica, mas na verdade é um filme "slice of life". A jovem Shizuko ama ler e percebe que seus livros favoritos da biblioteca também foram pegos por uma mesma pessoa, no caso um garoto irritante com quem implica a princípio. Os dois se aproximam e começam a conversar sobre a vida e seus sonhos.
Yoshifumi era uma promessa do Ghibli, mas o diretor infelizmente veio a falecer em 1998. Anos depois, o personagem Barão que aparece nos sonhos da Shizuko ganharia um filme próprio no estúdio, O Reino dos Gatos, também imaginado pela mangaká Aoi Hiiragi. Uma das cenas mais lembradas pelos fãs é o musical cantado pela protagonista com a música "Country Roads".
O Castelo Animado (2004)
Após um filme mais "pipoca" como O Reino dos Gatos, o estúdio Ghibli voltou aos grandes épicos com O Castelo Animado, dirigido e roteirizado por Hayao Miyazaki e baseado no livro homônimo da autora Diana Wynne Jones.
Na história, a jovem Sofia passa por um mal entendido e é vítima de um feitiço que a transforma em uma senhora idosa de 90 anos de idade. Com um corpo diferente e movimentação limitada, ela vai atrás do Castelo Animado de Howl, a única pessoa capaz de ajudá-la a se recuperar.
Além da mensagem de paz do filme, Miyazaki aproveitou uma protagonista idosa para falar um pouco sobre a terceira idade. O filme tomou algumas liberdades em relação ao livro original, principalmente na temática, já que a publicação retrata tudo com um drama maior. Em 2013, o diretor chegou a dizer que O Castelo Animado era o filme favorito de sua carreira.
Ponyo - Uma Amizade que Veio do Mar (2008)
Dois anos após o controverso Contos de Terramar, Hayao Miyazaki retomou o leme do estúdio Ghibli e lançou Ponyo - Uma Amizade que Veio do Mar, mais um longa familiar com várias de suas características marcantes. Muitos elementos ali lembravam outros sucessos do passado do diretor, como Totoro ou Kiki.
O filme conta a história de Sosuke, um garoto que mora próximo ao oceano. Num belo dia, ele conhece uma peixinha chamada Ponyo e os dois criam um forte laço de amizade. Ponyo decide se tornar humana e precisa enfrentar a ira do feiticeiro Fujimoto, seu "pai".
A Disney foi a responsável por lançar esse filme nos EUA um ano após a estreia no Japão, aproveitando o sucesso do nome Ghibli deste lado do globo, e muitos atores famosos foram chamados para a dublagem, como Matt Damon e Tina Fey. Para a voz da Ponyo, a Disney escalou Noah Cyrus, a irmã mais nova da Miley Cyrus (na época em alta pelo sucesso da Hannah Montana).
Da Colina Kokuriko (2011)
Embora seja recente, este é um dos longas do estúdio Ghibli menos comentados pelas pessoas. Da Colina Kokuriko foi escrito por Hayao Miyazaki e baseado no mangá shoujo de Tetsuro Sayama. A direção ficou com Goro Miyazaki, filho do famoso diretor e responsável pelo criticado Contos de Terramar.
Em Da Colina Kokuriko acompanhamos jovens da cidade de Yokohama tentando evitar que o clube escolar deles seja demolido para dar espaço à estrutura da Olimpíada de Tóquio realizada em 1964.
A produção teve uma trajetória de pouca sorte. A produção foi afetada pelo tsunami ocorrido em 2011 no Japão, e o filme não foi o estouro de público esperado. Na verdade, ele estreou atrás de dois longas: a parte final da saga Harry Potter e o filme do Pokémon exibido naquele ano, com o monstrinho Victini. A versão americana não foi distribuída pela Disney, e sim por uma empresa menor, mas contou com uma atriz bem conhecida: Gillian Anderson, a Scully de Arquivo X, interpretou a doutora Yuriko.
Vidas ao Vento (2013)
Durante muito tempo Hayao Miyazaki declarou que Vidas ao Vento seria sua despedida dos animes. Ele já havia falado isso sobre outros filmes, mas desta vez todo mundo estava acreditando. Este foi o último projeto lançado do diretor até o momento, e conta com seu nome assinando tanto o roteiro quanto a direção.
O longa é uma livre-interpretação da biografia de Jiro Horikoshi, um homem cujo sonho é construir um avião no período da Segunda Guerra Mundial. Ele então conhece a jovem Naoko, mas o amor entre os dois é afetado por uma doença.
Vidas ao Vento foi bem recebido pela crítica, mas não pelo pessoal mais ligado à política. A forma como Miyazaki retratou a Segunda Guerra Mundial, às vezes exaltando a participação do Japão, foi alvo de críticas. A versão japonesa desse filme tem uma curiosidade bem inusitada: o dublador de Jiro Horikoshi é ninguém menos que Hideaki Anno, o diretor da série Neon Genesis Evangelion.
As Memórias de Marnie (2014)
As Memórias de Marnie foi o último longa-metragem lançado pelo estúdio Ghibli até o presente momento, com direção de Hiromasa Yonebayashi e roteiro do trio composto pelo diretor, Keiko Niwa e Masashi Ando. A história é uma adaptação do livro homônimo escrito por Joan G. Robinson.
O filme mostra a vida de Anna, uma jovem de 12 anos que vive uma vida bucólica e triste. Durante um passeio, Anna conhece uma misteriosa menina chamada Marnie, e então elas começam uma amizade. Com o passar do tempo, Anna vai descobrindo mais sobre sua vida e sobre as circunstâncias que levaram à sua adoção.
As Memórias de Marnie não foi nenhum sucesso de ingressos no cinema japonês, mas também não passou vergonha. O longa fez com que mais países se interessassem pela publicação do livro original, mas infelizmente ele nunca foi lançado no Brasil, até agora.