O Legado de Júpiter

Créditos da imagem: Netflix/Divulgação

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Por que O Legado de Júpiter da Netflix decepcionou muitos fãs da HQ original

Série não atendeu expectativa de vários leitores

19.05.2021, às 17H51.
Atualizada em 20.05.2021, ÀS 09H45

Embora tenha uma taxa de aprovação relativamente alta entre os espectadores da Netflix, é justo dizer que a versão televisiva de O Legado de Júpiter decepcionou a grande maioria dos críticos, especialmente os mais acostumados com o trabalho do quadrinista Mark Millar, mente por trás da HQ que deu origem à série. A obra original, publicada em 2013, traz um olhar crítico para a popularidade cada vez maior de anti-heróis violentos e sanguinários, com a narrativa dinâmica característica do roteirista.

O que se viu na produção da Netflix, no entanto, não condiz nem um pouco com o material original. Além de transformar os diálogos ácidos dos gibis em discursos truncados e rasos, a trama chocante criada por Millar foi deixada de escanteio até basicamente o último segundo da primeira temporada. afetando o desenvolvimento de personagens e privando o público de alguns dos momentos mais emocionantes da história da família Sampson.

Abaixo, listamos alguns dos pontos que mais incomodaram fãs dos gibis em O Legado de Júpiter da Netflix - confira [contém spoilers dos quadrinhos e provavelmente das próximas temporadas da série]

A trama

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Logo na primeira edição de O Legado de Júpiter, os planos de Walter para substituir Sheldon como principal nome da União da Justiça são colocados em prática. O Onda-Cerebral usa seus poderes para manipular vários heróis da nova geração, incluindo Brandon, seu sobrinho e filho do Utópico. Essa "tramóia" atinge seu ápice já na terceira edição, quando o vilão, aliado aos seus parceiros mais jovens, assassinam Sheldon e Grace a sangue-frio, com Brandon dando o golpe final no pai.

Não que fosse necessário recriar cada quadro das HQs, mas a maneira como a produção da Netflix fugiu desta trama principal surpreendeu da pior maneira possível. Na série, o único indício de que esse plano existe está nos últimos segundos da primeira temporada, que usa flashbacks para revelar que o personagem de Ben Daniels estava por trás de todo o infortúnio que caiu sobre os heróis.

A história de Chloe e Hutch também foi muito prejudicada. Se na série o casal se junta de maneira relativamente forçada e apressada, os super-pombinhos já estão em um estágio bem mais avançado de seu relacionamento nas primeiras páginas de O Legado de Júpiter. O namoro dos dois é bem mais orgânico e crível na HQ, em que os dois passam a criar um filho superpoderoso.

A história desnecessária nos anos 1930

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Millar nunca revelou completamente o que aconteceu na misteriosa ilha que concedeu poderes aos heróis originais, preferindo manter o segredo que envolve a jornada dos personagens. O Círculo de Júpiter, livro prelúdio de Legado de Júpiter, aliás, tinha como objetivo ressaltar as diferenças entre as duas gerações de heróis e explorar o racha que levou Skyfox a se tornar “o maior vilão da história”. Enquanto as peças de divulgação da série já haviam adiantado que a primeira temporada alternaria flashbacks e trama presente, os acontecimentos do passado não só removeram o suspense da história, mas também criaram uma barriga desnecessária que deixou a primeira temporada cansativa, repetitiva e incômoda.

Personagens estagnados

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Uma das maiores qualidades do trabalho de Mark Millar é sua capacidade de construir personagens. Kick-Ass, Entre a Foice e o Martelo, Velho Logan e Os Supremos mostram como acontecimentos cruéis podem desequilibrar até o maior super-herói de todos os tempos. O Legado de Júpiter não é exceção. Embora aconteça de forma ágil, a transformação de Chloe em uma dedicada mãe e heroína ou de Walter de um super-herói em um ditador impiedoso são realistas e condizem com uma construção cuidadosa feita por Millar e pelo artista Frank Quitely.

Embora foque mais nos personagens do que na ação, a versão da Netflix paradoxalmente não desenvolve de verdade a história de nenhum deles e poucos são aqueles que terminam o primeiro ano diferente do que começaram. Brandon e Chloe, protagonistas do quadrinho, são o principal exemplo desse problema, já que nenhum dos dois irmãos chega ao capítulo final realmente diferente de como eram no começo da temporada.

A representação do Código

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Nas páginas, o Código criado pela primeira geração da União aborda uma variedade de dilemas recorrentes na vida dos super-heróis. Além do uso da força letal, usar a influência para conseguir favores sexuais, namorar civis e influenciar na política local e internacional também são ações condenáveis de acordo com o Código. Embora a série trate brevemente da limitação política, ela foca demais no uso da força letal, como se esta fosse a única regra que os heróis realmente devessem seguir. Para piorar, a justificativa para que ela seja quebrada é problemática.

Diferentemente dos quadrinhos, em que os grandes vilões estão mortos, presos ou aposentados, permitindo que os jovens superpoderosos aproveitem suas habilidades para ganhar fama, O Legado de Júpiter da Netflix traz antagonistas cada vez mais brutais e impiedosos, implicando em uma perigosa filosofia de revanchismo na segunda geração da União.

Diálogos tediosos e repetitivos

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Outra frustração na maneira como O Legado de Júpiter foi adaptado pela Netflix está nos diálogos. Se o quadrinho usa e abusa de ironia, dinamismo e troca de farpas entre personagens, a série se prende a discussões repetitivas, com falas que tentam ser muito mais profundas do que realmente são. Os oito episódios abordam praticamente da mesma forma como o Código limita as ações dos heróis, colocando-os em risco, com personagens insistindo nos mesmos argumentos durante toda a temporada.

Essa constante repetição ao mesmo tempo verborrágica e simplista faz com que acompanhar o primeiro ano de O Legado de Júpiter se torne uma tarefa tediosa e ingrata. O foco nesse problema único cria uma obviedade na série que em momento algum se faz presente no quadrinho, que trazia praticamente uma grande reviravolta por edição.

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