Quando O Legado de Júpiter foi anunciada pela Netflix, não era difícil se deparar com comentários sobre como a plataforma estava tentando surfar na onda do sucesso da concorrente Prime Video com The Boys. A comparação, obviamente, vem pelo fato de ambas trazerem aspectos revisionistas às clássicas histórias de super-herói, mas as maneiras como elas enxergam o gênero não poderiam ser mais diferentes, a começar pelos valores dos super-humanos que protagonizam suas histórias.
Enquanto The Boys expõe as fortes opiniões de Garth Ennis sobre o gênero de super-heróis, O Legado de Júpiter procura por um meio-termo entre a narrativa cínica e violenta que dominou os anos 1990 e 2000 e o otimismo colorido que moldou a indústria. Conhecido por Superman: Entre a Foice e o Martelo, Os Supremos e Velho Logan, Mark Millar teve grande contato com algumas das principais propriedades intelectuais das duas maiores editoras do mundo e, apesar de ter sido um dos grandes agentes da desconstrução dos heróis, mostrou em Legado e Círculo de Júpiter uma grande paixão pelo significado desses personagens e pela estrutura de suas histórias.
The Boys é, desde a publicação de sua primeira edição, uma paródia exagerada que refletia a frustração de Ennis com a censura de seu trabalho na Marvel e na DC. Destruir os principais símbolos dos selos foi uma válvula de escape natural para o roteirista. Na TV, Billy Bruto serve como um porta-voz desenfreado que age diretamente na destruição dos símbolos quase divinos que dominam a indústria do entretenimento atualmente.
Millar, ao contrário, traz em O Legado de Júpiter uma visão muito mais conciliatória entre gerações aparentemente antagônicas. Ao mesmo tempo em que homenageia as Eras de Ouro e Prata dos quadrinhos ao fazer de Utópico e Lady Liberdade pilares de esperança inabalável, ele compreende a necessidade de adaptar essas histórias para gerações cujos conceitos de Bem e Mal ganharam camadas muito mais profundas por questões ideológicas. O roteirista passa a usar a violência e o gore que marcaram sua obra como um disfarce para essa discussão geracional. Assim como nos quadrinhos, os métodos cada vez mais brutais dos vilões da série da Netflix é que levam ao questionamento dos heróis mais novos à abordagem pacifista de seus predecessores. Enquanto O Legado de Júpiter usa o sangue como ferramenta narrativa, The Boys o utiliza apenas com o intuito de chocar o espectador e mostra a maioria de seus personagens completamente indiferentes com a chuva de tripas que cai aos seus pés.
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Por mais que a comparação entre os títulos seja compreensível - especialmente porque a Netflix ficou “órfã” de séries de super-herói próprias após o fim da Marvel Television -, dizer que O Legado de Júpiter foi criado para imitar The Boys é no mínimo equivocado. Com temas, críticas e mensagens completamente diferentes, é mais fácil dizer que a única coisa que realmente une as duas produções é o fato de ambas colocarem pessoas superpoderosas de collant em plataformas de streaming gigantes.
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