O cancelamento de The OA foi uma paulada na cabeça dos fãs, que já haviam sofrido com o hiato entre o primeiro e o segundo ano. Em outros tempos, a Netflix teria dado à série uma terceira temporada, mesmo que os espectadores não fossem tantos. No último ano, contudo, esse quadro mudou e produções foram canceladas com duas ou até uma única temporada de existência. Disputando com Hulu, Amazon, HBO GO e tantas outras, a Netflix encontrou uma nova política: priorizar seriados que não custem tanto e que sejam muito assistidos. Salvando-se algumas exceções, como Stranger Things.
A criadora Brit Marling sabia que a primeira temporada, embora muito elogiada, não tinha alcançado popularidade - um reflexo da sua trama extremamente complexa. Por isso, a decisão de expandir o universo e levantar mais questões, ainda que consciente, foi muito arriscada. Sem que a produção tivesse se mostrado relevante nas premiações, esse passo afastou fãs e colocou a série numa posição em que tudo virou uma questão de fé. Seria mesmo possível contornar tantas dúvidas e entregar um desfecho?
Confira a seguir algumas questões importantes que ficaram em aberto:
Prairie, Nina e o Multiverso
Quando começamos a acompanhar a história de The OA, fomos conduzidos por uma narrativa que parecia ser essencialmente mística, com Prairie levando um grupo de desconhecidos até uma espécie de clímax sensorial que daria mais respostas sobre as experiências de quase-morte. Contudo, após o intenso final desse primeiro ano, descobrimos que, na verdade, não estávamos diante de planos místicos – não completamente – e sim de realidades múltiplas. The OA tinha, então, revelado que era parceiro de produções como A Torre Negra e Fringe, em que os multiversos eram a base da mitologia.
Porém, quando fomos transportados para outra dimensão, uma série de outras perguntas foram criadas. Prairie saltou para a consciência de Nina, sua equivalente no outro lado, que conduzia pesquisas que buscavam abrir frestas entre esses universos. Ela contava com a ajuda de um cientista que era o equivalente a Hap e ele usava pessoas que tinham conseguido perceber os outros universos para capturar deles essa habilidade e fazer funcionar os mecanismos construídos para produzir as passagens.
A grande questão em aberto nisso tudo é justamente: por que Prairie? A série não estabeleceu se essa era uma habilidade dela, se havia outras como ela, se o fato de ser o Original Angel era estabelecido por forças maiores. E quanto a Nina? Ela passa a ser mesmo simbiótica com relação a Prairie? Em quase todas as tramas sobre multiversos, eles estão se chocando por alguma razão. The OA teria uma resposta para esses saltos? Essa resposta estaria na pesquisa de Hap?
Os “Outros”
Quando a série estabeleceu que às vezes a noção de morte é apenas uma passagem para outra realidade, estava, na verdade, tomando um caminho muito interessante. É curioso pensar que a consciência pode ser tão poderosa que após a morte do corpo, ela procure por um novo “hospedeiro”, saltando entre os universos até encontrar um.
Sendo assim, talvez fosse possível admitir que Rachel e Scott, por exemplo, estivessem vivos. Steve, que também tem uma ligação um pouco mais intensa com Prairie, sempre foi uma peça importante desse quebra-cabeças. Ele parece ter atravessado totalmente. Mas, Karim não, ele apenas olhou por uma fresta. Se a “morte” possibilita o salto, estariam mortos em seus mundos originais? Claro, com exceção de Karim, que só olhou por uma espécie de véu. Será que ele realmente não atravessou? Porém, a grande questão acerca disso é: a morte é realmente um salto para outra dimensão ou essa “outra dimensão” é só mais uma forma de interpretar a morte e Prairie, Hap, Steve, estariam enterradinhos num cemitério qualquer?
Possuídos
Outra teoria muito bacana proposta pela série foi a de que pessoas com personalidades múltiplas são na verdade esponjas de consciências de suas outras versões, que escapam eventualmente. Mas, o transtorno de múltiplas personalidades é uma ocorrência bastante rara. Por que isso acontece? Se a série tocou no assunto talvez seja um sinal de que tinha um plano maior. Pessoas que conseguem viver com tantas consciências alternativas poderiam ser, por exemplo, um trunfo para as pesquisas em torno do assunto.
Original Angel
Falamos bastante de como a série acabou misturando o misticismo da primeira temporada com a ficção científica da segunda. Muito do misticismo acabou ficando para trás depois que até mesmo uma máquina para executar os movimentos foi construída. Mas, não podemos esquecer desse fator místico, que está imposto até no nome da produção: Original Angel.
Vejam bem, estamos falando de quase-morte, que é teorizada como uma ação em multiversos, enquanto ainda assim a protagonista é chamada de Angel... Será, então, que em algum momento, a série trataria as figuras que conhecemos como anjos de uma maneira a insinuar que eles podem ser pessoas que adquiriram as mesmas habilidades de Prairie? O que é ciência e o que é divino? O que é “céu” e o que é “universo”?
The OA
No último episódio, vimos Prairie atravessar para uma outra realidade onde ela era, na verdade, sua própria intérprete Brit Marling. Esse imenso twist pegou todos de surpresa e lançou outra grande pergunta: como seria essa dinâmica entre a atriz viver uma personagem e a personagem ser, de fato, uma parte da consciência da atriz? Veríamos a série ser idealizada pela atriz ou pela personagem? Os outros personagens-atores teriam a mesma consciência dos fatos? E a busca de Prairie por Homer teria levado-a até o universo onde Homer era, na verdade, uma versão do ator Emory Cohen? A coisa toda é tão fascinante que chega a ser uma insinuação de que o trabalho de todo ator é, de certa forma, saltar até versões alternativas de si mesmo.
Infelizmente, nenhuma dessas perguntas encontrará respostas. Os contratos da Netflix impedem que algumas séries sejam salvas por outros canais e dificilmente veremos um especial ou um filme como aconteceu com Sense 8. A não ser que Brit vá a público dizer em voz alta quais eram os planos para o futuro, jamais saberemos onde a série pretendia chegar.