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Crítica

Ender's Game - O Jogo do Exterminador | Crítica

Adaptação literal não consegue preservar a gravidade do livro de Orson Scott Card

20.10.2014, às 17H36.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H43

O fato de Ender's Game - O Jogo do Exterminador ser uma adaptação bastante literal do livro homônimo comprova a capacidade do escritor Orson Scott Card de antever com sua ficção científica, há quase 30 anos, a realidade das guerras despersonalizadas travadas hoje no mundo real. Qualquer soldado dos EUA que controla drones à distância por um console depara com os mesmos dilemas morais enfrentados pelo menino Ender Wiggin no livro de 1985.

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Na trama, depois que uma raça alienígena insectoide chega à Terra em 2086, governos organizam uma academia em órbita para treinar futuros comandantes da Frota Internacional, e assim impedir que o próximo confronto com os aliens seja o último. Ender é um jovem cadete que chega à academia com o peso de ser a esperança da humanidade. No livro (o primeiro de uma série de 13), seguimos Ender dos seis aos dez anos de idade; no filme, o tempo é condensado, e o ator Asa Butterfield, de 16 anos, dá a Ender um perfil mais de puberdade.

Esse desafio de comprimir o livro sem perder sua força - que está justamente no passar do tempo e na repetição de situações de treinamento na academia - é o principal obstáculo no caminho do roteirista e diretor Gavin Hood. Ele elimina toda a subtrama geopolítica e ideológica na Terra (o que acaba reduzindo a importância dos irmãos de Ender ao mínimo) e se concentra nos jogos em gravidade zero, que afinal são o grande chamariz de Ender's Game em termos cinematográficos. O resultado é um filme que flerta timidamente com o espetáculo e, na obrigação de ser fiel ao material original, dilui as muitas ideias do livro.

Pode ser frustrante para os leitores de Card, por exemplo, identificar personagens conhecidos da série e ver que eles perdem seu sentido - como Bean, que não representa mais a continuidade do treinamento de Ender e passa a ser só mais um no esquadrão. Questões importantes como o isolamento do herói são amenizadas: no filme, todos os amigos de Ender o acompanham em sua jornada, mesmo quando ele muda de time na academia. São problemas pontuais que somam no principal: em nenhum momento Ender parece envelhecer (e amadurecer) de fato, física ou mentalmente.

Quando Card publicou O Jogo do Exterminador, o cinema de ficção científica já tentava assimilar a nova aproximação entre os videogames e a realidade, com filmes como Jogos de Guerra (1983) e O Último Guerreiro das Estrelas (1984). Da mesma forma que muita gente questiona a moralidade de Ender's Game (que procura justificativas para os maus atos do protagonista), colocar o livro nessa perspectiva, ao lado de outras obras, ajuda a remover todo o limo de autoimportância que se acumulou sobre ele ao longo dos anos.

A partir disso, a adaptação do livro ao cinema se beneficiaria se não tratasse com tanta reverência o material. Colocar as coisas em perspectiva ajuda a lembrar também que Hollywood, naqueles anos 80, sabia aliar diversão e pertinência em suas ficções científicas adolescentes de um jeito mais satisfatório.

Ender's Game - O Jogo do Exterminador | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Regular
Ender´s Game - O Jogo do Exterminador
Ender´s Game
Ender´s Game - O Jogo do Exterminador
Ender´s Game

Ano: 2013

País: EUA

Classificação: 10 anos

Duração: 114 min min

Direção: Gavin Hood

Elenco: Asa Butterfield, Harrison Ford, Hailee Steinfeld, Abigail Breslin, Ben Kingsley, Viola Davis, Aramis Knight, Suraj Partha, Moisés Arias, Khylin Rhambo, Jimmy "Jax" Pinchak, Conor Carroll

Onde assistir:
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