Christopher Tolkien, o filho de J.R.R. Tolkien que há dácadas se dedica a manter e dar continuidade ao legado do pai, revelou ao Le Monde (via Badass Digest), na sua primeira entrevista em 40 anos, os motivos pelos quais rejeita a versão para o cinema da trilogia O Senhor dos Anéis.
senhor dos aneis
Aos 88 anos, Christopher critica a necessidade de transformar os filmes em um produto vendável e a demanda dos fãs, com sua ânsia em se apropriar de alguma forma do universo tolkiano: "Tolkien se tornou um monstro, devorado por sua própria popularidade e absorvido pelo absurdo do nosso tempo. O abismo entre a beleza e a seriedade do trabalho e o que se tornou é demais para mim. A comercialização reduziu a nada o impacto estético e filosófico da criação. Para mim existe apenas uma solução: me afastar."
"Eles tiraram as vísceras do livro, transformando-o em um filme de ação para pessoas entre 15 e 25 anos. E parece que com O Hobbit acontecerá a mesma coisa", completa o escritor, revelando seu pessimismo em relação ao novo trabalho de Peter Jackson. Christopher, que tentou impedir a produção de O Hobbit, teria se negado a conhecer o diretor.
Entre seus trabalhos para manter o trabalho de Tolkien estão a conclusão e publicação de O Silmarillion e os 12 volumes da História da Terra Média. Seus esforços também se concentram em evitar a exploração excessiva do espólio, impedindo a criação de um parque temático, por exemplo. Ainda de acordo com Le Monde, para proteger o nome do avô, Adam Tolkien, filho de Christopher, parece disposto seguir os passos do pai: "Normalmente os executores do espólio querem promover um trabalho o máximo que puderem. Somos o oposto disso. Queremos colocar o foco em algo que não seja O Senhor dos Anéis", declarou.
Vale lembrar, contudo, que os livros de O Senhor dos Anéis tiveram suas vendas altamente impulsionadas pelo lançamento dos filmes e a ambiciosa enciclopédia em 12 volumes de Christopher Tolkien vendeu meio milhão de cópias, em parte graças a exposição criada pelas versões cinematográficas.
Os direitos de adaptação ao cinema de O Senhor dos Anéis e O Hobbit foram vendidos pelo próprio Tolkien, em 1968, para a United Artists, que, em 1976, revendeu os títulos para a Saul Zaentz Company. A empresa fundou então a Middle-earth Enterprises, atual detentora dos direitos de adaptação para o cinema e para os games do universo criado pelo escritor.