Cena de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder (Reprodução)

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Os Anéis de Poder recaptura o melhor de O Senhor dos Anéis ao preparar batalha

Série reencontra personagens dolorosamente divididos que fizeram de Tolkien um mestre

Omelete
3 min de leitura
19.09.2024, às 04H00.

ATENÇÃO: Spoilers de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder a seguir!

Em certo ponto do novo episódio de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, lançado hoje (19) pelo Prime Video, Adar (Sam Hazeldine) e Galadriel (Morfydd Clark), tateando em torno de uma possível aliança para derrotar Sauron (Charlie Vickers), “trocam figurinhas” sobre suas experiências com o Lorde das Trevas - e percebem que, apesar de por vezes ser chamado de “o Enganador”, o vilão na verdade entregou a eles exatamente o que eles queriam. Você percebe? Não são as mentiras dele que precisam ser extintas. É ele próprio, declara Adar, deixando nas entrelinhas que o procedimento mais letal de Sauron não é mentir, mas sim reconhecer as verdades mais profundas, secretas e nocivas daqueles com quem interage, e agir para trazê-las à superfície.

É um dos diálogos mais engenhosos, mais intrincados e mais conectados ao que há de especial em O Senhor dos Anéis que Os Anéis de Poder entregou até hoje. Mérito de Justin Doble, veterano de Fringe e Stranger Things que faz parte do time de roteiristas da série desde o primeiro ano, o que só mostra que as sementes da grandeza que Os Anéis de Poder tem demonstrado nos novos episódios foram plantadas mesmo lá em 2022. De fato, é ele quem essencialmente faz este capítulo funcionar - muito preocupado em armar os conflitos com os quais a série vai se preocupar em suas duas últimas semanas, este sexto episódio poderia ter sido uma formalidade protocolar em uma temporada empolgante, mas se mostra muito mais do que isso.

Isso porque a caneta de Doble traça um paralelo muito claro entre as subtramas da série, encontrando em cada uma delas personagens em posições de poder ou liderança que se veem divididos entre dois caminhos: se seguirem por um, podem alcançar o que mais desejam, o que acalmaria o seu coração; se optarem por outro, fortificam as comunidades e ideais aos quais pertencem. Entender quando esses dois caminhos se alinham, se separam e as consequências de seguir cada um deles é a verdadeira sabedoria, prega Os Anéis de Poder - e uma sabedoria que nenhum de nós é capaz de sustentar o tempo todo.

Assim, tanto Nori (Markella Kavenagh) quanto o Estranho (Daniel Weyman) escolhem se plantar nos lares postiços que encontraram e reconheceram como seus destinos, ao invés de partir em busca um do outro. Já Elendil (Lloyd Owen) inspira a sua rainha aprisionada Míriel (Cynthia Addai-Robinson) a encontrar uma forma de resistir ao tirano Pharazôn (Trystan Gravelle), ao invés de se dobrar a ele por uma exigência pragmática de sobrevivência. O príncipe Durin (Owain Arthur) e sua esposa Disa (Sophia Nomvete) se afastam da docilidade paralisante da aristocracia para se afirmarem como líderes legítimos na luta pela alma de Khazad-Dûm. E Celebrimbor (Charles Edwards) tenta lutar contra a dominação de Sauron e se reconectar aos seus compatriotas, mas o Lorde das Trevas sabe que a vontade de reconhecimento e glória do elfo suplanta qualquer outra preocupação. 

Mas e aquela tal aliança de Galadriel e Adar? Em duas cenas muito rápidas, que explicitam uma clareza de visão narrativa impressionante, o episódio nos faz entender por que a comandante élfica cede à ideia, e por que é óbvio que a parceria é insustentável. Desejos e possibilidades, mágoas e ambições que lançam sombras sobre o certo e o errado… ao iluminar personagens dolorosamente divididos entre uma coisa e a outra, logo antes de iniciar uma batalha que vai alterar o destino de todos eles, Os Anéis de Poder reencontra exatamente o que fazia de Tolkien um mestre. É sobre quem está no chão, não sobre as bolas de fogo que voam pelo ar.

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