ATENÇÃO: Spoilers de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder a seguir!
Lembra quando Game of Thrones parava absolutamente tudo o que estava acontecendo em sua trama para passar uma hora (e, normalmente, muitos trocados) só empilhando corpos em cima de corpos em cima de corpos em algum campo de batalha enlameado de Westeros? Pois é, O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder - apesar das algumas concessões que ela faz à ideia de épico de fantasia criada pela série da HBO -não vai fazer isso. No capítulo lançado hoje (26) pelo Prime Video, o cerco da fortaleza élfica de Eregion pelo exército de orcs comandado por Adar (Sam Hazeldine) explode em um confronto sangrento, brutal e crucial para a história da Terra Média que a temporada está contando - mas, nem por isso, a série se esquece de ser um novelão de primeira.
Na verdade, a impressão é até que os showrunners J.D. Payne e Patrick McKay (assumindo o roteiro pela primeira vez na temporada) e a diretora Charlote Brandstörm se esmeram no melodrama para dar mais peso aos acontecimentos desse momento climático de sua história - e para compensar a ação que é o foco principal do episódio. Quando Elrond (Robert Aramayo) vai negociar com Adar e observa sua amiga Galadriel (Morfydd Clark) prisioneira, portanto, os dois dividem um ostensivo beijo de despedida, pontuado por um crescendo de violino. E importa muito pouco, no fim das contas, que o tal beijo tenha sido uma desculpa para que Elrond passasse para Galadriel uma ferramenta com a qual ela podia se libertar, porque o momento ainda é minado inteiramente por seu valor de choque dramático quando acontece.
Similarmente, o capítulo faz pausas frequentes para nos mostrar Celebrimbor (Charles Edwards) lutando contra a dominação de Sauron (Charlie Vickers), em um teatrinho de poder elaborado através de diálogos sugestivos e alusões oblíquas ao passado do vilão. Os dois atores brilham nestes momentos, com Edwards se apoiando na estupidez muito humana de Celebrimbor para entregar uma performance de quebrar o coração, e Vickers se mostrando muitíssimo mais hábil em extrair verdade das sombras mais profundas de Sauron, revelar o tortuoso caminho que o levou até ali, do que poderia parecer na primeira temporada. Aqui, ele é um vilão odiável, perturbador e compreensível - uma versão de Sauron perfeita para a história que Os Anéis de Poder está contando.
E a terceira frente do drama do episódio são as minas de Khazad-Dûm, cenário de um discurso bombástico do príncipe Durin, entregue com garra pelo ator Owain Arthur diante de outro floreio inspirado da trilha de Bear McCreary. E ele não é o único - durante todo o capítulo, Os Anéis de Poder pontua imagens brutais e sujas (mas nunca escuras demais para ver!) de batalha com narrações em off que versam sobre os conceitos de luz e escuridão, fidelidade e traição, força e fraqueza, legado e sangue. A série faz valer o dinheiro investido pelo Prime Video com cenas de ação grandiosas, executadas com excelência - mas, acima de qualquer outra coisa, ela também entende que sangue e tripas não fazem uma história.
É na aspiração ao drama de nobreza e derrocada humana que foi a fundação de J.R.R. Tolkien que Os Anéis de Poder ganha o jogo. E a decisão de não parar esse drama (na verdade, de aumentar o seu volume) quando chega a “hora do vamos ver” é mais um grande acerto dessa segunda temporada.