É difícil ficar impassível ao fim dos dois episódios que abrem O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder. Para os fãs do universo criado por J.R.R. Tolkien, é uma bela viagem de volta à Terra Média, capaz de provocar um encantamento similar ao dos filmes de Peter Jackson; mas os não-iniciados também devem ser fisgados pela produção, embalada por personagens cativantes e visuais dignos de seu orçamento extravagante.
Seja você fã de carteirinha ou um interessado que está chegando agora, não importa: é indiscutível que a série, que estreia no Prime Video na noite desta quinta-feira (1º), é uma incursão de grande escala, a começar pelo escopo da história. A trama se passa milhares de anos antes da trilogia cinematográfica, no período conhecido como a Segunda Era da Terra Média, e começa a estabelecer bases para alguns eventos decisivos que veremos no curso das (já planejadas) cinco temporadas da produção – notadamente, a ascensão de Sauron e a forja dos anéis que ele usou para dominar a Terra Média.
Mas os criadores de Os Anéis de Poder, J.D. Payne e Patrick McKay, demonstram ter consciência do quão vasto é o mundo em que estão trabalhando. Depois de um belo prólogo, que ajuda a situar a história dentro da mitologia tolkeniana, os dois primeiros episódios tomam tempo para introduzir seus múltiplos núcleos e seus muitos personagens, tratando-os com cuidado enquanto mantêm um ritmo ágil.
Por cerca de duas horas, fazemos uma viagem fascinante pela Terra Média e seus habitantes: conhecemos os simpáticos pés-peludos, antepassados dos hobbits, personificados especialmente nas divertidas Nori (Markella Kavenagh) e Papoula (Megan Richards); passamos pelo reino élfico de Lindon, onde vive o Alto Rei Gil-Galad (Benjamin Walker); vamos às Terras do Sul, onde o elfo silvestre Arondir (Ismael Cruz Córdova) vive um romance proibido com a humana Brownyn (Nazanin Boniadi); adentramos Khazad-Dûm, lar do príncipe anão Durin IV (Owain Arthur); e reencontramos dois velhos conhecidos: Galadriel (Morfydd Clark) e Elrond (Robert Aramayo).
É particularmente interessante ver estes dois últimos em cena, já que, embora haja elementos suficientes que conectem suas personalidades com as que vimos nos filmes de Jackson, em Anéis de Poder os dois personagens são bem menos experientes e sábios, e ainda estão em um processo de aprendizagem. Clark, em especial, sai como a grande revelação desta reta inicial, criando uma Galadriel destemida e carismática, mas profundamente afetada pelo luto.
O encanto pelo olhar e o espírito de Tolkien
A história de Os Anéis de Poder começa em tempos de abundância e uma relativa paz na Terra Média, quando alguns reinos estão em seu ápice, como é o caso de Khazad-Dûm. Isso se exprime principalmente nos visuais imponentes da série: os cenários são grandiosos e bem-construídos, em uma boa mistura de sets reais e efeitos especiais, e surpreendem pela riqueza de detalhes.
O mesmo cuidado se estende às cenas de ação, e, em tempos de grandes produções afetadas por CGI questionável, a série acaba por ser um bem-vindo alento para os olhos. A impressão que fica é que os quase US$ 500 milhões gastos na temporada certamente foram bem empregados.
Obviamente que dinheiro não é (e nem deve ser) tudo em uma produção, mas os fãs preocupados podem ficar tranquilos: a série mantém vivo o espírito das obras de Tolkien, trazendo já nesta reta inicial temas que lhe são caros, como o companheirismo, o heroísmo e, claro, as dicotomias bem/mal e morte/imortalidade.
Com dois dos melhores episódios feitos para uma série este ano, Os Anéis de Poder tem um início mais do que promissor – e eu não vejo a hora de passar mais tempo nesta Terra Média.