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Artigo

Aqui Dentro e Lá Fora

Capitão América: Operação Renascimento e Stitches

12.11.2009, às 08H00.
Atualizada em 05.01.2017, ÀS 17H02

Agora, as colunas AQUI DENTRO e LÁ FORA se fundem e ganham uma periodicidade semanal. Era um projeto antigo e que vai servir pra gente dar mais vazão para as coisas que saem no Brasil e manter você também atualizado sobre o que está acontecendo longe das nossas bancas.

Vamos lá?

Stitches

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Capitão América: Operação Renascimento

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AQUI DENTRO: Capitão América: Operação Renascimento

O quê: republicação de histórias do Capitão América da década de 90, período em que o personagem foi recuperado após anos de histórias atacadas pela crítica. O heroi enfrenta o Caveira Vermelha e é acusado de traição pelos EUA.

Quem: O escritor Mark Waid (na época, conhecido pelo bom trabalho em Flash) e o desenhista Ron Garney (até então com poucas participações em séries, como Motoqueiro Fantasma).

Por quê: As histórias reunidas em Operação Renascimento foram publicadas entre 1995 e 1996 nos EUA, e no final da década passada no Brasil. O contexto é tudo: a série do Capitão América vinha de um período de dez anos sob comando de um poderoso editor da Marvel, Mark Gruenwald. Enquanto nos primeiros anos suas histórias eram bem vistas, os últimos são considerados sofríveis.

Após histórias em que o Capitão América virava lobisomem ou passava a atuar com uma superarmadura cheia de armas - influência da era Image -, um novo regime na Marvel trouxe Waid e Garney para reformular a série. (Gruenwald, por coincidência trágica, faleceu no ano seguinte).

Na época, foi a glória para os fãs do personagem. É o que os americanos chamam de back-to-basics: a essência do personagem, o heroi nos seus moldes clássicos enfrentando vilões clássicos. Some-se a isso Waid, escritor que até hoje defende um retorno ao heroísmo clássico da Era de Prata para superar os personagens atormentados e sombrios da década de 80.

Embora a fase tenha funcionado na época, comparada ao estado dos quadrinhos de hoje (inclusive os do próprio Capitão América), ela só tem valor pela nostalgia. O back-to-basics de Waid leva a um desfile de todos os clichês das HQs de aventura. Com o mercado recuperando-se do "efeito Image" - histórias com péssimos roteiros, mas desenhos poderosos -, era interessante ver uma história com estrutura competente. Não é o contexto do mercado hoje.

O "efeito Image" também pode ser visto na arte de Garney, cheia de splash pages e poses de anatomia duvidosa (é possível ver inclusive uma influência liefeldiana).

Coincidentemente, a primeira fase Waid/Garney foi cortada nestas poucas histórias reunidas na coletânea. Debaixo de críticas, a Marvel entregou Capitão América a Rob Liefeld - um sucesso de vendas inicial, mas que acabou em uma experiência desastrosa. Waid/Garney voltaram ao personagem posteriormente, mas esta segunda fase é, em grande parte, considerada pior que a primeira.

Onde e quanto: nas comic shops e nas bancas (distribuição setorizada, disponível em São Paulo e Rio de Janeiro desde setembro). Preço de capa: R$ 29,90.

LÁ FORA: Stitches

O quê/quem: A autobiografia em quadrinhos de David Small, ilustrador de livros infantis cuja infância foi marcada por pais despreparados e uma cirurgia que deixou marcas permanentes em seu pescoço e nas suas cordas vocais.

Por quê: O gênero da autobiografia em quadrinhos sempre rendeu grandes obras nos EUA, desde as primeiras graphic novels de Will Eisner até Retalhos, entre várias outras. Em 2007, Fun Home, de Alison Bechdel, foi o momento em que uma grande editora literária americana, a Houghton-Mifflin, descobriu o filão - e gostou muito.

O mercado, obviamente, está atrás de outra obra assim: quadrinhos autobiográficos com peso literário. Stitches é a nova aposta - David Small, assim como Bechdel, é pouco conhecido no mainstream dos quadrinhos e publica por uma grande editora, a WW Norton (mesma que reedita o material de Eisner nos EUA). Grande editora significa distribuição e visibilidade acima da média para uma HQ.

E Stitches está sendo vendida, desde o início, como o grande lançamento do ano neste nicho. Distribuída com antecedência, entre grandes nomes da indústria e pela imprensa especializada, gerou um burburinho muito antes dela chegar às livrarias. Expectativa lá em cima.

E a obra dá conta da expectativa? Sim. Por mais que o mercado queira mais e mais obras como Fun Home ou como os bons Eisner, elas não podem ser criadas por comitê. Saem somente quando paridas, a muito suor e sangue, por criadores que resolvem abrir momentos dolorosos de sua vida - com a capacidade artística de transformá-la em uma história poderosa.

Small é um desses autores. O estilo que ele escolhe, por si só, já é significativo: a aquarela, sempre usada para explosões de cor, aqui só aparece em tons de cinza. A história é da mesma forma cinzenta: com pais crueis, Small cresce em uma casa que lhe é estranha. E um problema de saúde grave acaba complicando as relações familiares.

Ficava a dúvida também se Small, ilustrador, daria conta da narrativa visual própria dos quadrinhos. Se a dúvida não desaparece nas primeiras páginas, some por completo na sequência em que, adolescente, ele ouve de um psiquiatra a dura verdade, aparente para todo leitor desde o início, sobre sua vida. Nas próximas sete páginas, cai uma chuva fina lavando todos os cenários. Não é uma lamúria, um choro. É como se toda a parte suja da historia fosse levada pela água.

Esses momentos - no caso, talvez uma das melhores seqüências que já vi nos quadrinhos - fazem o álbum valer a pena. E o filão das autobiografias, queira o mercado ou não, continua muito bem representado.

Onde e quanto: Nas livrarias online, com preço sugerido de US$ 24,95 (R$ 43).

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