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All-Star Superman: a criação de uma obra-prima; Amazing Spider-Man: tudo de novo

06.04.2008, às 22H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H35

Na coluna "LÁ FORA", o Omelete lê e comenta todos os grandes lançamentos em quadrinhos nos Estados Unidos

All-Star Superman #10

All Star Superman 10

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Amazing Spider-man

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Muita gente desconfiou da coincidência, mas não passou disso. Na mesma semana - ou melhor, no mesmo dia - em que saiu a decisão judicial sobre a divisão dos direitos autorais sobre Superman, foi lançada nos EUA a décima edição de All-Star Superman.

A edição é composta por várias histórias paralelas. Uma delas trata da experiência de Superman em criar um universo paralelo para testar se um mundo sem Superman seria possível. A história deste universo acaba seguindo o mesmo caminho do nosso, em poucos e sutis quadros de Frank Quitely, que você pode queimar alguns neurônios para entender: os aborígenes reverenciando seres do espaço, o nascimento do humanismo, Nietzsche escrevendo sobre o übermensch e, ao final (é a penúltima página do gibi), um solitário desenhista colocando no papel o rabisco do primeiro super-herói.

É a resposta de Superman: não, qualquer universo tem uma tendência a criá-lo. Ao mesmo tempo é uma homenagem às mentes criativas que lhe deram vida. Pode ter certeza que, se a história estivesse para sair daqui a alguns meses, esta parte mudaria. A DC/Warner não ia querer fazer um agrado ao pessoal que está movendo uma ação devastadora contra eles.

Não é só isso que torna a edição especial. Como eu disse, são várias histórias paralelas, que formam talvez a melhor história de Superman do século. Além de criar um universo com as próprias mãos, na mesma edição ele resolve a relação com Lois Lane, dá um fim ao problema de Kandor, cura o câncer (!) e salva uma emo suicida.

Esta última ação, aliás, é uma das páginas mais bonitas da história dos quadrinhos de super-heróis.

Se você ainda não lê Grandes Astros: Superman (o nome da série no Brasil), está perdendo a chance de ver a construção de uma obra-prima. É a única justificativa válida para estar saindo tão lentamente - a edição 12, final, deve aparecer em julho ou agosto.

Existem alguns poucos gibis que gosto de reler uma vez por ano ou a cada dois anos. Quando o Superman de Morrison e Quitely estiver completo, é certo que vai entrar para a lista.

Amazing Spider-Man #555

Não reclamei de "One More Day" como os fãs revoltados que queriam a cabeça de Quesada ou que nunca mais comprariam Homem-Aranha. Concordo que foi uma solução porca para resolver um problema de vendas, mas pelo menos os editores reconheceram o problema e tentaram uma solução maluca. Soluções malucas são sempre bem-vindas, para balançar as coisas.

Estou prestando atenção no que veio depois, a fase "Brand New Day". Agora Amazing Spider-Man é a única série aracnídea, com três edições (uma história completa) por mês. Quatro escritores - Dan Slott, Marc Guggenheim, Bob Gale, Zeb Wells - fazem rodízio com desenhistas variados, sob comando do editor Steve Wacker.

Mas "Brand New Day" está infectada por uma praga terrível, da qual achei que o Aranha tinha se livrado: saudosismo.

Sempre que uma Wizard da vida faz reportagens sobre o Aranha, fãs e jornalistas falam que querem "o bom e velho Aranha", com seus problemas de dinheiro, a tia doente e o azar na vida pessoal. O meu medo era que a Marvel realmente ouvisse esse pessoal.

O novo Aranha é solteiro, nunca tem dinheiro, sofre nas mãos de um chefe ranzinza e anti-ético, fica sem teia no meio das brigas, a bateria (não dá mais pra falar em filme) da câmera fotográfica acaba quando ele mais precisa, Tia May continua arranjando problema e todo dia tem uma vilão novo para atazanar.

Estamos de volta aos anos 60. "Que bom", você diz, "pois os anos 60 são a melhor fase do Aranha!". O problema é que todas estas histórias já foram escritas e repetidas ad nauseam nas últimas três décadas. Você já conhece a estrutura, as piadas (sim, são as mesmas), os problemas... Existe alguma emoção em ler um herói previsível?

É claro que o Aranha é propriedade de uma empresa em crescimento, que tem interesse em mantê-lo meio estático para vendê-lo em filmes, desenhos animados, videogames e lancheiras. É mais ou menos o que acontece com o Superman há décadas. Mas é possível manter um status quo criando alguma tensão de mudanças de tempos em tempos - para que você não ache que toda história vai ser a mesma coisa.

O próprio Aranha Ultimate, de Brian Bendis, é um ótimo exemplo: você pode pegar qualquer edição sabendo o básico do personagem, e entrar no meio da história sobre os Osborn. É a mesmo lógica dos bons seriados de TV atuais: o básico se mantém de episódio para episódio, mas alguns avanços vão transformando os personagens ao longo da temporada. Já a lógica que se adota para os quadrinhos do Aranha "Brand New Day" parece a dos velhos seriados: os personagens começam e terminam cada episódio do mesmo jeito, e nunca há progressão.

Sinto falta de boas histórias do Aranha. Creio que elas ainda podem acontecer em "Brand New Day". Mas em três meses de novo regime, elas não dão sinais de que estão vindo.

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