A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas revelou a lista de indicados ao Oscar 2023 nesta terça-feira (24) e, contrariando os pequenos avanços das últimas duas edições, que reconheceram Chloé Zhao (Nomadland) e Jane Campion (Ataque aos Cães), dessa vez nenhuma mulher marca presença na categoria de Melhor Direção.
Embora os candidatos à estatueta Martin McDonagh (Os Banshees de Inisherin), Daniel Kwan & Daniel Scheinert (Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo), Steven Spielberg (Os Fabelmans), Todd Field (Tár) e Ruben Östlund (Triângulo da Tristeza) tenham motivos, sim, para estar ali, não faltaram também ótimas produções comandadas por mulheres para cavar ao menos uma vaguinha nesse seleto grupo; confira algumas delas a seguir:
CHARLOTTE WELLS (AFTERSUN)
São poucos os cineastas com essa destreza, mas a estreia de Charlotte Wells à frente de um longa-metragem é, sim, digna de um Oscar. Sua sensibilidade foi indiretamente reconhecida em Aftersun, uma história autobiográfica na mesma medida que universal, através da indicação da performance de Paul Mescal. Porém, o que parece ter escapado à Academia é como as nuances trazidas pelo ator foram captadas pelas lentes da diretora com um olhar generoso, mas irremediavelmente incompleto, da mesma forma que as diferentes visões de Sophie (Frankie Corio e Celia Rowlson-Hall) se combinam num misto de descoberta dolorida e memória calorosa para fazer sentido deste retrato entrecortado. A boa notícia é que Aftersun certamente é só a primeira de muitas chances que Wells deve ter na premiação. É bom o Oscar abrir o olho!
SARAH POLLEY (ENTRE MULHERES)
Entre Mulheres poderia marcar o primeiro reconhecimento mais mainstream da carreira de Sarah Polley como diretora, já que seu trabalho se destaca há anos no cenário independente. No entanto, mais uma vez, a Academia a indicou apenas para roteiro. Uma pena, porque sua adaptação do romance de Miriam Toews é, segundo os críticos estrangeiros, pulsante, conforme expõe um debate intenso entre vítimas de abuso em uma comunidade religiosa isolada. Comandando um elenco estelar, composto por nomes como Rooney Mara, Frances McDormand, Claire Foy e Jessie Buckley, Polley entrega um longa com todos os ingredientes para ser digno de um Oscar. Sem a indicação à direção, quem sabe a estatueta não vem com o roteiro?
GINA PRINCE-BYTHEWOOD (A MULHER REI)
A forma como A Mulher Rei foi esnobado no Oscar 2023 é chocante, para dizer o mínimo, considerando como o épico histórico foi marcante no último ano. Baseando-se em fatos, a diretora Gina Prince-Bythewood equilibrou a força física e visceral das guerreiras Agoji na sua luta contra os invasores com a doçura, o amor e, consequentemente, a humanidade das suas heroínas. Em outras palavras, não apenas injetou emoção nas coreografias de ação, lindamente executadas pela equipe, como deu espaço para cada uma das atrizes trazer complexidade e nuance às suas personagens. É um trabalho que merecia a lembrança da Academia, nem que fosse na forma da indicação de Viola Davis como Melhor Atriz.
CHINONYE CHUKWU (TILL - A BUSCA POR JUSTIÇA)
Chinonye Chukwu não precisa mostrar a violência da qual o jovem Emmett Till foi vítima para frisar a gravidade do crime, nem a relevância do que sua mãe, Mamie Till-Mobley, representou dentro no Movimento dos Direitos Civis nos Estados Unidos em meados do século XX. Na realidade, a ausência, muito bem pensada, aliada à performance tocante da Danielle Deadwyler, são apenas dois dos indícios da precisão com que a diretora recontou a história que marcou profundamente seu país, e que infelizmente encontra ecos até hoje.
SOPHIE HYDE (BOA SORTE, LEO GRANDE)
Já sei, você vai dizer que o filme de Sophie Hyde nunca teve grandes chances de figurar entre os melhores do ano do Oscar, e você pode até ter razão. No entanto, o fato de ser ou não um azarão não diminui em nada o êxito da diretora nessa história que, apesar da sua natureza contida, se agiganta nos detalhes. Ambientada quase que exclusivamente em um quarto de hotel, a dramédia acompanha a jornada de autodescoberta, prazer e troca de uma viúva (Emma Thompson) ao contratar um jovem garoto de programa (Daryl McCormack). No entanto, a sensualidade é apenas a ponta do iceberg nessa relação.
MARIA SCHRADER (ELA DISSE)
Embora a Academia adore reconhecer longas que falem sobre o fazer cinematográfico e investigações jornalísticas, a dramatização da história real que denunciou os assédios e abusos sexuais do então mega produtor Harvey Weinstein nos bastidores de Hollywood ficou de fora da lista. A trama, dirigida por Maria Schrader, é certamente delicada para um evento como o Oscar, no qual Weinstein foi tão proeminente por anos. Mas talvez, pensando pelo lado político da coisa, esta fosse inclusive uma ótima oportunidade para a organização fazer um singelo mea culpa. Encabeçado pelas atrizes Carey Mulligan e Zoe Kazan, o filme adapta o livro Ela disse: Os bastidores da reportagem que impulsionou o #MeToo.