Em fevereiro de 2018, a Marvel vai quebrar barreiras e apresentar o primeiro filme de seu universo cinematográfico que trará um protagonista e super herói negro, o Pantera Negra. Felizmente, a empresa escalou Ryan Coogler para a direção do filme, o afro-americano conhecido por ter escrito e dirigido Creed: Nascido Para Lutar, de 2015.
Hoje, foi revelado um maravilhoso trailer para o longa. E atores, cenas, vilões e temas à parte, o vídeo de pouco mais de dois minutos tem um triunfo enorme na escolha da trilha.
A Marvel geralmente acerta em termos de música. Em um recente trailer de Thor: Ragnarok, a empresa foi responsável por elevar “Immigrant Song” do Led Zeppelin para o 16º lugar nas paradas da Billboard. É impressionante o poder da empresa em alavancar uma música de 1970, que quase 50 anos depois, foi também para o topo da lista de vendas digitais de hard rock. Recentemente, o universo cinematográfico também acertou em cheio com “One”, do Metallica, no trailer da série O Justiceiro - saiba mais.
Mas as trilhas dos filmes de super-herói recentes geralmente tem algo em comum: elas apostam principalmente no rock, hard rock e heavy metal. Para Pantera Negra, porém, a trilha não poderia ser a mesma, e a Marvel soube perfeitamente como lidar com isso.
A prévia do filme protagonizado por Chadwick Boseman começa com muito estilo com a música "BagBak”, lançada este ano pelo rapper californiano Vince Staples, de seu último álbum Big Fish Theory. A música apresenta T’Challa chegando a Wakanda, mas ao meio do trailer a atmosfera muda. Com uma bela batida e grandes graves, o trailer arrebatou ao trazer ao fundo “The Revolution Will Not Be Televised”, clássico dos anos 70, escrito pelo poeta e músico Gil Scott-Heron, conhecido como o padrinho do rap. A mistura das duas músicas embala a jornada do herói e a apresentação do vilão Killmonger.
“The Revolution Will Not Be Televised” é um poema musicado que traz como título e refrão o slogan do movimento negro da década de 60 nos Estados Unidos. A letra traz referências a diversas séries e elementos da cultura do entretenimento americano da época, e parecia dizer que a luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos seria algo abafado pela mídia. Não era isso que Heron quis enfatizar, segundo ele mesmo. Em entrevista ao programa The 90’s, o músico explicou: “A primeira mudança tem que acontecer na sua cabeça. Você precisa mudar sua mente antes de mudar o mundo em que você vive. Então quando dizíamos que a revolução não seria televisionada, queríamos dizer que o que precisa mudar nas pessoas é algo que nunca será capturado em vídeo”.
A mistura das duas músicas evidencia que os problemas enfrentados pela comunidade negra não mudaram tanto quanto deveriam com o passar dos anos. O tema de Staples, apesar de ter menos bagagem histórica que Heron, também é – assim como diversas letras de rap – sobre racismo: “Rezo para que a polícia não me mate por causa da minha cor”, diz ele na letra.
O primeiro filme de um super herói negro do universo da Marvel não poderia passar batido, como se fosse mais um. O triunfo da Marvel foi em perceber que o Pantera Negra precisaria de outro estilo, que afirmasse ainda mais a importância do personagem. E não é a primeira vez que o material de divulgação do longa assume essa responsabilidade. O primeiro pôster, por exemplo, fazia referência a um retrato de líder dos Panteras Negras - veja aqui.
A ideia de trazer duas trilhas de épocas contrastantes e uni-las em um tema para um personagem marcante, deu muito certo. Seu impacto é ainda maior em uma era em que os Estados Unidos caminha perigosamente nesta questão. A postura do líder do país, em questões como os protestos em Charlottesville (para usar o exemplo mais óbvio e recente), evidencia um país problemático. E é por isso que talentos como Heron e Staples continuarão se manifestando em rima. O uso de suas poesias por parte da Marvel, em um filme predominantemente negro, é tomar uma postura. Como Heron disse, a mudança nunca será capturada em vídeo. Mas a Marvel, pelo menos, caminha na direção certa.
Pantera Negra estreia em 15 de fevereiro.