“Hoje eu vou tentar falar um pouco de português. Mas vou falar mais inglês”. Quem já presenciou os últimos shows do Paul McCartney no Brasil conhece o discurso, que permanece o mesmo desde 2010. Mas por mais que o falatório permaneça o mesmo, o show do Macca, que passa agora pelo Brasil na Freshen Up Tour, se moderniza toda vez que volta. Em 2019, foi a vez do Beatle trazer o seu 17º álbum de estúdio, Egypt Station.
A inclusão do novo álbum na sua primeira apresentação no Brasil em 2019 foi modesta, mas representativa. Com um setlist tradicionalmente extenso, o show de Paul McCartney em São Paulo reservou quatro de 33 músicas para Egypt Station, mas os hits “Come On To Me” e principalmente “Fuh You” temperam muito bem um novo show repleto dos mesmos clássicos de Beatles, Wings e carreira solo. Com a exceção das novas faixas, o show é parecido com o que passou por aqui em 2017.
Pontualmente, o baixista subiu ao palco do Allianz Parque já ouvindo os gritos de um estádio de ingressos esgotados. Emendando um início de “A Hard Day’s Night” e “Save Us”, Paul já mostrou aquela disposição surpreendente. Já não é mais o mesmo que pulava no palco e corria de um lado para o outro, mas seu pique continua lá, já que ele encontrou uma maneira perfeita de compor a apresentação: a primeira metade é predominantemente serena, trazendo o músico no violão durante hits dos Beatles como “Love Me Do” ou “I’ve Just Seen A Face”, mas é depois de grandes baladas como “My Valentine” e “Maybe I’m Amazed”, ele acelera. A partir de “Lady Madonna” até o final do show, com a trilogia de fechamento do Abbey Road, Macca mostra porque reservou a voz até então. Ele já tinha exibido alguns trechos de um vozeirão rasgado em momentos do show, mas no fim, quando ele entrega uma performance impecável em “Live and Let Die”, é difícil não sair impressionado.
O show da Freshen Up Tour trouxe uma grata surpresa formada por um trio de metais, posicionado no meio da pista. De surpresa, no início do show, o grupo surgiu no meio de “Letting Go”, trazendo um dos primeiros momentos que o público inteiro vibrou intensamente. A animação da plateia, como sempre, é exemplar. Há fãs de todos os tipos e idades, que se animam em momentos diferentes do show. Os consensos da noite, além dos tradicionais coros e luzes em “Eleanor Rigby”, “Something” e “Hey Jude” foram os gritos da plateia em “Let ‘Em In” e um clima de agradecimento em “Back In Brazil”, uma das novidades do setlist, dedicada ao país. A música é tranquila e passa como uma brisa, mas o sentimento do público que se sentiu homenageado pela composição de Paul foi claro.
Em termos de carisma, Paul também continua o mesmo. As dancinhas curtas que marcam sua performance, pequenas piadas, riscos em português, tudo continua lá. O músico é um exemplo de presença de palco e conexão com o público, por menos que ele se mexa energicamente no palco nos últimos anos. Paul faz questão de animar o público geral, pedindo coros de cada um dos lados do estádio, e seu genuíno agradecimento a todos os fãs no fim do show é de aquecer o coração. Já foram nove passagens do músico pelo Brasil, mas parece que nada faz a apresentação ficar velha. Completando uma performance linda de ver e totalmente entregue ao público, antes de sair do palco o Beatle faz mais uma vez a velha promessa: “até a próxima”, ele diz em português. Pode voltar sempre, Paul.
Confira o setlist do show em 26 de março:
Hard Days Night
Save Us
All my Loving
Letting go
Who cares
Got to get you into my life
Come on to me
Let me roll it
I´ve got a feeling
Let´em in
My valentine
1985
Maybe I´m amazed
I´ve just seen a face
In spite of all the danger
From me to you
Dance tonight
Love me do
Blackbird
Here today
Queenie eye
Lady Madonna
Eleanor Rigby
Back in Brazil
Fuh you
Being For the Benefit of Mr. Kite
Something
Obla di Obla da
Band on the run
Back in the USSR
Let it be
Live and let die
Hey Jude
Hi hi hi
Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band (Reprise)
Helter Skelter
Golden Slumbers
Carry That Weight
The End
