Clarice Starling (Rebecca Breeds) é uma mulher traumatizada em Clarice, série de suspense que chegou ao Prime Video nesta sexta-feira (26). Se o nome da protagonista parece familiar, é porque é: a personagem foi criada pelo escritor Thomas Harris em seu livro O Silêncio dos Inocentes, e vivida por Jodie Foster (em performance vencedora do Oscar) na adaptação para o cinema do thriller, lançada em 1991.
A história da série, no entanto, se passa depois de O Silêncio dos Inocentes. Clarice ganhou fama como a agente do FBI que derrubou o serial killer Buffalo Bill (Ted Levine), e no processo se tornou objeto de obsessão do terrível Hannibal Lecter (Anthony Hopkins). O canibal ainda está foragido, de forma que o seu espectro assombra os episódios da primeira (e única) temporada de Clarice - mas ele nunca de fato aparece em tela.
Fãs da mitologia criada por Harris não se surpreenderão tanto com a ausência, no entanto, já que o segundo encontro entre Clarice e seu algoz é retratado em Hannibal, livro lançado em 1999. Em 2001, Hopkins retornou ao papel para a adaptação cinematográfica desta obra, enquanto Clarice foi interpretada por Julianne Moore após Foster recusar o projeto. Ao contrário de O Silêncio dos Inocentes, Hannibal não venceu estatuetas do Oscar e nem agradou a maior parte dos fãs, apesar da boa bilheteria (US$ 350 milhões).
A nova série, portanto, se passa entre essas duas histórias - mas é mais importante saber o que acontece em O Silêncio dos Inocentes, visto que Clarice lida bastante com as consequências desses eventos. Não só acompanhamos a agente do FBI enquanto ela passa por terapia para lidar com seus sentimentos sobre permanecer no trabalho após os traumas de seu primeiro caso, como também sua notoriedade pública é incentivo para que a procuradora-geral dos EUA, Ruth Martin (Jayne Atkinson), a escale como a “estrela” de seu novo time de investigadores, dedicado a casos de criminosos violentos e serial killers.
A presença de Clarice não agrada o líder do time, no entanto… até porque ele é ninguém menos do que Paul Krendler (Michael Cudlitz), o teimoso e metódico agente de escalão superior que a protagonista precisou contornar para conseguir capturar Buffalo Bill. E as conexões não acabam por aí, uma vez que descobrimos que a procuradora Martin é mãe de Catherine (Marnee Carpenter), a jovem que Clarice conseguiu resgatar do covil do serial killer no clímax de O Silêncio dos Inocentes, e cujos próprios traumas começam a se confundir com os da agente do FBI.
Em seus 13 capítulos, Clarice costura todas essas ligações com “casos da semana” (normalmente, criminosos violentos que a protagonista e seu time precisam capturar), flashes do passado da agente que nos ajudam a entendê-la de forma que as obras de Harris nunca fizeram, e uma trama maior envolvendo um teste farmacêutico muito suspeito e o desaparecimento de dezenas de mulheres e meninas.
Teremos mais Clarice?
A resposta curta é: muito provavelmente, não.
O caso da renovação ou cancelamento de Clarice é bastante curioso. Os episódios que chegaram agora ao Prime Video foram exibidos entre fevereiro e junho de 2021 nos EUA, pelo canal CBS, o maior da TV aberta americana. Por lá, Clarice falhou em encontrar a sua audiência, como evidenciado pelos estimados 1.99 milhão que assistiram ao season finale “Family is Freedom” (1x13) em sua primeira exibição - parece muito, mas o que se qualifica como um hit para a CBS é um NCIS (média de 11.9 milhões de espectadores por semana), um FBI (10.2 milhões) ou um Young Sheldon (9.2 milhões).
Exatamente no momento em que Clarice estava fracassando na CBS, no entanto, a empresa-mãe da emissora (a Paramount Global) estava se preparando para lançar o serviço de streaming Paramount+. Em maio, foi anunciado que duas outras séries da CBS com índices de audiência abaixo do padrão da emissora (Evil e SEAL Team) estavam renovadas, mas exibiriam seus novos episódios diretamente na plataforma, ao invés de na programação linear da CBS.
Ao mesmo tempo, o Deadline dizia que Clarice estava “em negociações” para ter o mesmo destino… e essa foi a última vez que ouvimos qualquer atualização sobre a série. Sem cancelamento ou renovação oficial, a produção ficou na lista de programas “na bolha” em vários sites especializados até que o silêncio sepulcral da Paramount esgotou a paciência de fãs e jornalistas, e Clarice foi resignada ao status de “finalizada”.
A diferença fundamental entre Clarice e suas duas ex-companheiras de CBS, claro, é que Clarice era coproduzida e distribuída pela MGM, enquanto Evil e SEAL Team pertenciam inteiramente à Paramount. As tais “negociações” para colocar a produção em um streaming do qual a Paramount seria a maior beneficiária financeira podem ter se complicado a partir daí, especialmente se o estúdio não estivesse disposto a oferecer uma quantia que a MGM considerasse justa pelo licensiamento da série.
Onde (e em que ordem) eu devo ver a franquia Hannibal?
A saga organizada em torno do serial killer Hannibal Lecter é meio parecida com todas as de Hollywood hoje em dia: sua timeline se confundiu com o passar dos anos, especialmente devido à produção de prequels e remakes.
Mesmo assim, com algumas exceções, é possível assistí-las em uma cronologia quase exata, que acompanha o psiquiatra canibal de sua infância perturbadora até suas ligações com os investigadores Will Graham e Clarice Starling - confira:
- Hannibal: A Origem do Mal (2007) - somente mídia física;
- Hannibal (2013-2015) - Prime Video;
- Dragão Vermelho (2002) - Netflix, Star+; ou
- Caçador de Assassinos (1986) - Oldflix;
- O Silêncio dos Inocentes (1991) - Prime Video;
- Clarice (2021) - Prime Video;
- Hannibal (2001) - Netflix, Star+
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