[Cuidado com grandes spoilers de The Boys!]
No episódio final da segunda temporada de The Boys, nossa equipe protagonista finalmente enfrentou a Stormfront (ou Tempesta) frente a frente, em um dos momentos mais icônicos da série até hoje. Em um campo aberto, Starlight (Luz Estrela), Hughie, Kimiko, MM (Leitinho da Mamãe) e Frenchie (Francês) confrontaram a grande vilã deste ano, e ao reunir as heroínas na ação, a cena me transportou a alguns anos atrás, quando Vingadores: Guerra Infinita inseriu um momento “girl power” no meio da batalha em Wakanda. Ou talvez um ano depois disso, quando a Marvel fez um repeteco da sequência, na batalha final do MCU.
Dessa vez, no entanto, as coisas fizeram muito mais sentido. Em uma cena memorável, uma série do Amazon Prime Video se provou mais capaz de fazer um grande momento feminista de ação do que um dos maiores estúdios de Hollywood. A diferença? Coerência. E muito mais sutileza.
Quando assisti àquele momento de Guerra Infinita, confesso que revirei os olhos. Por que a Feiticeira Escarlate precisaria de ajuda? Por que as mulheres dos Vingadores batalharam isoladamente contra a única mulher da gangue de Thanos, a Próxima Meia-Noite? Se é para fazer um momento de mulheres empoderadas, não faria mais sentido colocá-las contra um dos capangas do gênero masculino? Ou só mulheres batalham contra mulheres?
Com Vingadores: Ultimato o sentimento foi ainda pior. Qual seria o sentido da união espontânea de mulheres de um lado do campo da maior batalha de todos os tempos? A intenção foi boa, a execução, barata. Com essas duas sequências, o MCU capitalizou no movimento de empoderamento feminino sem realmente dar profundidade a ele, tornando as duas cenas simplesmente insustentáveis.
A diferença de The Boys
Quando chegou a hora do confronto final contra Stormfront, já estavamos preparados para a luta entre a super nazista e a mais poderosa integrante dos Boys, Kimiko. Mas quando Starlight se juntou, e Maeve apareceu dos céus, o momento se tornou a maior luta corpo a corpo do episódio, unindo exclusivamente mulheres. Com a maior naturalidade.
O que me surpreendeu nesse momento é que, até então, eu nem havia percebido que as integrantes mais poderosas do “lado do bem” de The Boys são mulheres. Eu não tinha nem notado que um confronto só de mulheres poderia ocorrer. Mulheres poderosas sempre fizeram parte da trama de The Boys, sem precisarem ser destacadas de seu contexto, como uma força à parte. O engraçado é que esse mesmo elemento parece ter sido surpresa também para os homens da equipe. A expressão na cara de todos que assistiram à luta foi de um momento inesperado. Nada havia nos preparado para aquele momento.
Diferentemente das lutas de mulheres da Marvel, nossas protagonistas não precisam jogar em um campo separado ou serem retiradas de um contexto maior para provar seu poder. Os homens não ficaram esperando a luta acontecer também, mas foram deixados de escanteio por terem se provado literalmente fracos demais perto dos poderes da inimiga. Só a força das mulheres unidas poderia derrotar a nazista, e isso foi algo que The Boys fez acontecer sem precisar se dar aquele tapinha de aprovação no próprio ombro.
Não estou aqui para encher a Marvel de porrada; o estúdio tem evoluído muito com o passar dos anos e tudo indica que novas produções, começando por Viúva Negra nos cinemas e indo até a vindoura série da Mulher-Hulk, saibam se colocar ao lado do movimento do empoderamento feminino de forma mais sábia. Mas o que The Boys fez foi construir uma cena violenta e natural de poder das mulheres, de um jeito que o MCU não fez até hoje, para provar que elas dão conta mesmo.
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