Após dominar os cinemas com terror de baixo orçamento, a Blumhouse Productions (Sobrenatural, Fragmentado) começa a criar seu legado como uma produtora de televisão. Depois de Sharp Objects, minissérie da HBO produzida pelo próprio fundador Jason Blum, a próxima da fila é The Purge, adaptação televisiva da franquia Uma Noite de Crime (ou 12 Horas para Sobreviver).
O projeto da USA Network (Mr. Robot) traz a mesma premissa que consagrou os filmes: em um futuro não-tão-distante, o governo dos Estados Unidos aprova e incentiva um evento anual chamado Expurgo, em que todo crime imaginável é permitido por um período de 12 horas. De relance parece um conceito limitado para ser trabalhado na televisão, mas a verdade é que a saga combina perfeitamente com os benefícios de contar uma história ao longo de dez horas ao invés de duas.
O criador James DeMonaco nunca escondeu os temas políticos e sociais por trás de The Purge, mas também nunca conseguiu debatê-los com propriedade nos longas. O resultado são quatro filmes - com A Primeira Noite de Crime (2018) prestes a estrear nos cinemas brasileiros - que ficam entre exaltar violência explícita e ter algo a dizer. Fica claro que o cineasta usará a nova oportunidade para se consagrar.
O piloto, chamado de "What is America?", apresenta todos os núcleos que serão desenvolvidos: o ex-fuzileiro Miguel (Gabriel Chavarria) em busca de sua irmã Penélope, agora parte de um culto de suicidas; a mulher de negócios Jane (Amanda Warren) que é forçada a trabalhar durante a noite do Expurgo, rodeada de pessoas tentando tomar seu lugar; e o casal Joe (Lee Tergesen) e Jenna (Hannah Emily Anderson), que tentam fechar um importante acordo com endinheirados entusiastas do massacre.
As três tramas cobrem diferentes perspectivas do evento: a visão de quem está na rua durante o banho de sangue; dos integrantes de grupos que surgem em meio ao caos; de quem precisa desconfiar de seus conhecidos; e, claro, da elite que vê a matança como uma oportunidade de enriquecer ainda mais. Ainda que apenas tenha sido introduzida, essa pluralidade recorta os destaques de cada um dos filmes os coloca em contraste para investigar o que realmente se passa numa sociedade onde algo terrível assim é parte do cotidiano.
Os núcleos de Miguel e Jane seguem a lógica já estabelecida por Uma Noite de Crime (2013) e Anarquia (2014), com buscas heróicas e terror psicológico, respectivamente. Já a subtrama do casal é a mais interessante, pois utiliza sua realidade paralela para discutir lobby, diferenças sócio-econômicase a relação entre os ricos e o governo - ao mesmo tempo que indica que os protagonistas, abertamente contra o Expurgo, podem ser facilmente levados ao ator de matar por meros problemas do dia a dia, como um vizinho irritante. Não que as demais tramas deixem a desejar, mas é aqui que a intenção original de DeMonaco dá mais as caras.
The Purge tem bastante potencial. Essa afirmação é algo que se repete a cada novo filme lançado na franquia, mas agora parece que as coisas vão para frente. Tudo indica que a produção tem uma narrativa forte nas mãos e uma noção de onde quer chegar. Resta ver se o visual barato ou a tentativa de deixar ganchos de continuidade não vão novamente resultar em algo que só fica na expectativa.
The Purge é transmitida no Brasil pelo Amazon Prime Video, porém o seriado não terá dublagem brasileira ou sequer legendas em português até o mês de novembro - entenda.