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Alan Moore continua disparando contra mercado de quadrinhos dos EUA

"25% do mercado se sustentar do meu trabalho não é sadio", diz o quadrinista

24.09.2009, às 00H00.
Atualizada em 29.11.2016, ÀS 06H05

Alan Moore, definitivamente, quer ver o circo pegar fogo. Totalmente desencantado com o mercado de quadrinhos mainstream dos EUA, ele resolveu dar mais uma entrevista na qual reclama de tudo, de todos e, imodesto, diz que "25% do mercado de quadrinhos se sustenta no meu trabalho".

A entrevista está sendo publicada em partes no website Mania. Na primeira, ele deu sua opinião sobre o negócio Marvelman/Marvel Comics. A segunda é voltada para uma discussão sobre os quadrinhos de super-heróis. Confira alguns trechos abaixo.

Allan Moore

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Sobre Watchmen e outros de seus trabalhos terem criado uma onda de heróis sombrios:

"Nunca foi minha intenção que toda HQ fosse como aquela. A razão pela qual a fiz daquele jeito é que não havia nada igual. Eu queria fazer algo diferente. Caso eu, Deus me livre, estivesse fazendo HQs de super-herói hoje, como meu trabalho na America's Best Comics de alguns anos atrás, eles seriam muito diferentes do padrão Watchmen e Marvelman. Seriam mais divertidos - no sentido de intelectualmente divertidos ou de pura diversão - do que revisionistas. Penso que a abordagem que eu trouxe - pegar personagens já existentes e reinterpretá-los - provavelmente levou a quadrinhos muito cruéis e chatos. Eu não queria que todo mundo copiasse o que eu fazia. E, se era para copiar, preferia que tivesse sido a originalidade das ideias - ou se tentassem trazer um pouco da alegria que colocávamos em Watchmen, em Marvelman, no Monstro do Pântano."

Sobre A Piada Mortal, sua reverenciada graphic novel com Batman e Coringa:

"Nunca gostei da minha história em A Piada Mortal. Acho que ela deu uma carga muito melodramática a um personagem que nunca foi projetado para tanto. Foi muito indecente, muito violenta. Algumas coisas delas são boas, mas em termos dos meus textos, não é dos meus trabalhos preferidos. Se, como eu disse, Deus me livre, eu voltasse a escrever um personagem como Batman, provavelmente faria algo no estilo daquele período 'tio bobão' com desenhos de Dick Sprang, quando você tinha Ace, o Bat-Cachorro, o Bat-Mirim, o Batman zebra - quando era mais bobo. Porque naquela época havia mais imaginação, mais diversão. Acho que o mundo não precisa de mais vingadores psicopatas. Nem sei se algum dia precisou."

Sobre a falta de ideias e o uso do seu trabalho no mercado dos EUA:

"É uma pobreza de imaginação. Esses dias notei que a DC parece ter baseado um de seus últimos crossovers em algumas histórias do Lanterna Verde que escrevi 25 ou 30 anos atrás. Eu diria que isso parece um ato de desespero ou humilhação. Quando eu disse em entrevistas que o mercado de quadrinhos norte-americano não teve ideias próprias nos últimos 20 ou 30 anos, eu só quis ser maldoso. Eu não esperava que as editoras a que me referia dissessem, tipo, 'Pois é, é verdade. Vamos tentar achar outra história dele de 30 anos atrás para transformar em uma saga espetacular'. É trágico. Os gibis que eu lia quando criança me inspiravam e me enchiam de ideias. Eles não precisavam que um inglês metido viesse aqui e explicasse a eles como fazer quadrinhos. Eles já tinham muitas ideias boas. Mas hoje em dia, eu cada vez mais sinto como se a indústria de quadrinhos estivesse revirando minha lixeira, como um guaxinim no meio da noite."

"Pelo amor de deus, vão ter idéias próprias! Não é tão difícil. Vocês costumavam ter várias! Também ouvi que, aparentemente, um quinto do mercado de comic shops é do meu trabalho. 20%! Imagino que as vendas em lugares como a Borders e as grandes livrarias, onde fica uma parte cada vez maior do mercado, a porcentagem seja maior."

[O entrevistador menciona que Watchmen está no topo da lista de graphic novels mais vendidas do New Yok Times]: "Isso quer dizer que 25% do mercado de quadrinhos se sustenta no meu trabalho! Isso não é sadio."

Em outros trechos da entrevista, Moore comenta que parou de comprar gibis da Marvel quando a editora entrou em conflito com Jack Kirby na década de 80 - recusando-se a devolver as páginas do desenhista. E ainda defende que o atual estado do mercado, e a forma errada como trata seus criadores, em parte é culpa dos fãs: "Se eles se importassem menos com o Hulk do que com a pessoa que criou o Hulk; se eles se importassem menos como o Homem-Aranha, e mais com Steve Ditko".

Para ler o texto completo, em inglês, clique aqui.

Leia a entrevista que fizemos com Alan Moore em 2007 - Parte 1 / Parte 2

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