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Aqui Dentro e Lá Fora

Hellboy: The Wild Hunt, Picabu 4 e Beleléu

09.12.2009, às 22H00.
Atualizada em 18.11.2016, ÀS 03H09

Agora, as colunas AQUI DENTRO e LÁ FORA se fundem e ganham uma periodicidade semanal. Era um projeto antigo e que vai servir pra gente dar mais vazão para as coisas que saem no Brasil e manter você também atualizado sobre o que está acontecendo longe das nossas bancas.

Vamos lá?

Picabu

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Beleléu

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Hellboy - The Wild Hunt

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LÁ FORA: Hellboy: The Wild Hunt

O QUÊ: Mais uma minissérie de Hellboy, publicada em oito edições pela Dark Horse.

QUEM: Mike Mignola continua a só fazer roteiros e capas para as histórias. Os desenhos ficam a cargo de Duncan Fegredo (Enigma, Kid Eternity) - que se esforça muito para imitar o estilo de Mignola.

POR QUÊ: Reza a lenda que Mike Mignola previu início, meio e fim para a saga de Hellboy quando criou o personagem no início da década de 90. Quase todas as suas histórias fazem alusão a um grande plano sobre o destino do garoto do inferno - um destino geralmente sombrio.

O que Mignola não havia previsto era o sucesso que seu personagem faria e os anos que as adaptações para o cinema lhe cobrariam. O resultado - mesmo que com ótimos filmes (melhores que os gibis, na minha opinião) - foi um atraso considerável neste grande plano com Hellboy.

The Wild Hunt é a sexta grande história do personagem. Começa com um convite a Hellboy para participar de uma grande caça a gigantes, na Inglaterra, que logo se revela uma cilada, e acaba com uma importante revelação sobre o passado do personagem, que envolve a mítica espada Excalibur. A conclusão também dá a entender que a grande guerra entre as diversas forças místicas e mitológicas que habitam o mundo de Hellboy está muito, muito próxima.

Das primeiras histórias até esta, Hellboy ganhou uma certa sisudez, talvez em função da fama. No início, era um personagem mais divertido, enfrentando monstros nazistas gigantes. Aos poucos, Mignola começou a inserir elementos das mitologias de várias culturas, densamente pesquisados, tanto para serem "vilão do mês" quanto para construir a própria mitologia de Hellboy.

Nestas últimas histórias, se você não acompanhou atentamente a mitologia construída por Mignola, fica difícil entender o que se passa. A complexidade de referências está alta demais para quem só lembra vagamente de ter lido os outros volumes da saga, anos atrás. A única solução parece ser esperar que a saga saia completa para entender o tal grande plano - e Mignola já disse que vai demorar para concluí-lo.

É importante destacar em The Wild Hunt a arte de Duncan Fegredo. Apesar de ter um forte estilo próprio, ele é forçado a desenhar como Mignola aqui. Mas não consegue ser tão sintético quanto o mentor, deixando passar um pouco das suas opções. O resultado agrada tanto a quem já gostava de Mignola quanto quem também aprecia Fegredo.

ONDE E QUANTO: Cada edição da minissérie, lançada entre dezembro de 2008 e novembro de 2009 nos EUA, custa US$ 2,99 (R$ 5,20). A coletânea da série sai em março e vai custar US$ 19,99 (R$ 34,50).

AQUI DENTRO: Picabu 4 / Beleléu

O QUÊ: Duas antologias independentes reunindo trabalhos de vários quadrinistas brasileiros ainda pouco conhecidos no mercado.

QUEM: Beleléu é organizada por quadrinistas do Rio de Janeiro e do Distrito Federal. Picabu 4 é de autoria do grupo Bestiário, com base no Rio Grande do Sul.

POR QUÊ: O mercado de quadrinhos brasileiro cresceu muito em 2009. Mas cresceu para certos lados, e não como um todo. Um dos lados mais visíveis é o das adaptações literárias, que levou várias editoras a investir em HQ de olho nos editais de compra de livros do governo. O outro é o da HQ com tendências artístico-literárias, do estilo que a Quadrinhos na Cia., a Zarabatana e a Conrad publicam.

Nada a reclamar, é óbvio. O mercado está amadurecendo e espera-se que continue em ascensão. Mas quero chegar no seguinte ponto: falta uma coisa ao mercado brasileiro, que é fomentar novos talentos.

Nenhum dos nomes como Guy Delisle (Shenzhen), Robert Crumb (Gênesis), Craig Thompson (Retalhos) ou Chris Ware (Jimmy Corrigan) começou a carreira lançando belas graphic novels por grandes editoras. Eles ganharam notoriedade se autopublicando ou buscando espaço em antologias. Nos grandes mercados, essas compilações reúnem em volumes o trabalho de vários artistas, como confirmou a editora Sierra Hahn, em entrevista ao Omelete. É a partir de uma história curta que um editor vê potencial para contratar um quadrinista para um projeto que esteja armando, como uma adaptação literária, ou mesmo para algo totalmente original como uma graphic novel.

Os EUA publicam muitas antologias todo mês. A França, por sua vez, tem suas revistas de quadrinhos, mensais ou semanais, como laboratório. Quando os caras mostram serviço por ali, pode apostar que em um ou dois anos estarão estourando com álbuns próprios.

Como não estamos nos EUA nem na França, aqui os futuros-novos-talentos têm que correr por conta própria. E aí passam por uma série de entraves, desde o despreparo do sistema de gráficas e distribuição até o problema maior: o fato da criatividade artística e o tino comercial-gerencial raramente nascerem juntos. O resultado é um empilhamento de material independente que sofre com a falta de um editor, com a má distribuição e até com o despreparo dos criadores em aceitar as inevitáveis críticas negativas (comuns para os primeiros trabalhos) ou mesmo o descaso de público e crítica.

Dito tudo isso, as duas antologia independentes mais bem acabadas que chegaram às minhas mãos este ano foram a Beleléu e a Picabu #4. A primeira reúne principalmente autores do Rio de Janeiro em histórias curtíssimas com humor negro e surrealismo. A segunda foi feita por um pessoal do Rio Grande do Sul e contém contos bastante variados.

Chama atenção na Picabu e na Beleléu, primeiramente, o acabamento gráfico praticamente perfeito. Depois, um processo de seleção ou de produção - edição, enfim - apurado das histórias. É algo profissional, por gente que quer mostrar profissionalismo.

Não sobrou muito espaço para falar do conteúdo delas aqui. Mas vale ressaltar que ambas as antologias cumprem muito bem o objetivo principal de apresentar gente nova e talentosa. Agora falta que as grandes editoras vejam nessas compilações uma forma de renovação e manutenção do mercado e comecem a publicar suas próprias antologias.

ONDE E QUANTO: Para comprar as edições, entre em contato direto com os organizadores em http://www.bestiariopicabu.blogspot.com/ e http://revistabeleleu.wordpress.com/. Ambas custam R$ 20.



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