Agora, as colunas AQUI DENTRO e LÁ FORA se fundem e ganham uma periodicidade semanal. Era um projeto antigo e que vai servir pra gente dar mais vazão para as coisas que saem no Brasil e manter você também atualizado sobre o que está acontecendo longe das nossas bancas.
A Revolta de Canudos
Ato 5
Detective Comics #858
Vamos lá?
LÁ FORA:
Detective Comics #858
O quê: a série deu um descanso ao Batman e agora traz as aventuras solo da nova Batwoman - internacionalmente conhecida como "a heroína lésbica".
Quem: Greg Rucka (Whiteout, Superman, Queen and Country), um dos criadores da personagem, é o roteirista. Os desenhos são de J.H. Williams III (Promethea).
Por quê: A melhor arte nos quadrinhos, neste momento nos EUA, está em Detective Comics.
J.H. Williams III passou por um batismo de fogo. Usou todas as técnicas de ilustração e provavelmente inventou algumas novas enquanto desenhava Promethea para Alan Moore. O que se faz depois de chegar a esse ápice?
Bom, você provavelmente faz o que quiser. E Williams Terceiro está aproveitando a oportunidade. Cada página das histórias de Batwoman é uma obra de arte. Nas cenas de ação, ele explora sem limites as possibilidades da HQ de forma a criar tanto uma ordem de leitura dinâmica e interessante quanto uma página que, vista no todo, é simplesmente fantástica. Além disso, cada mudança de cena é motivo para uma mudança de estilo.
Williams é incansável. Os cenários são detalhadíssimos - ele faz questão de desenhar as plantas de cada "locação" da história. Quando um determinado momento pede uma imagem mais dramática, ele não desenha, mas sim pinta em aquarela (ou materiais variados) o trecho.
E o roteiro acompanha a grandiosidade dos desenhos? Nem tanto. A história de Rucka é convencional. No primeiro arco, Batwoman enfrenta uma vilã chamada Alice, líder da Religião do Crime - cuja única validade é dar várias cenas de ação fantásticas para Williams desenhar. A última edição publicada iniciou o arco "Go", na qual é contada a infância da personagem. Aí se vê os méritos de Rucka - a sequência final da primeira edição, com o trágico sequestro da família Kane, é brilhante.
Ah, e o "componente lésbico" também está presente, mesmo que não chegue a cenas de sexo - e nem beijos homossexuais. Mas há cenas da Kate Kane, alter ego de Batwoman, com suas namoradas e inclusive a tensão sexual entre ela e sua primeira vilã.
Onde e quanto: nas comics shops importadoras. O preço de capa de cada edição (as histórias de Batwoman começaram na #854) é US$ 3,99 (R$ 7). Uma coletânea em capa dura das primeiras histórias, Batwoman: Elegy, está prevista para sair nos EUA somente em junho do próximo ano e vai custar US$ 24,99 (R$ 44).
AQUI DENTRO: A Revolta de Canutos e Ato 5
O quê: duas HQs da dupla André Diniz / José Aguiar. A primeira uma adaptação didática da Guerra de Canudos, a outra uma história independente sobre uma companhia de teatro que atravessa os anos de chumbo da ditadura militar brasileira.
Quem: André Diniz é o roteirista das duas histórias. Tem vários trabalhos produzidos no circuito independente e álbuns como Chalaça: O Amigo do Imperador e 7 Vidas (Conrad), além de dirigir a editora Nona Arte. José Aguiar é desenhista, também com vários álbuns publicados: Quadrinhofolia (HQManiacs), Folheteen (Devir) e Ernie Adams (da francesa Editions Paquet), entre outros.
Por quê: Antes de mais nada, vale lembrar que José Aguiar é um ilustre cozinheiro do Omelete, embora não participe mais com tanta frequência. É decisão sua, como leitor, dizer se a gente tem isenção para avaliar as obras do nosso amigo. Já nós, como amigos, achamos que precisamos falar francamente.
A Revolta de Canudos é um álbum com grande potencial. É um dos pontos mais trágicos da história do Brasil, que já rendeu um livro considerado marco na literatura brasileira (Os Sertões, de Euclides da Cunha), além de documentários e um filme (Guerra de Canudos, de Sergio Rezende, esquecível). Adaptá-lo para HQ, quando se quer um crescimento do quadrinho nacional, é uma ótima sacada.
O resultado, porém, fica aquém do esperado. O álbum parece ser curto demais para dar conta do tamanho da história. Por vezes, há um destaque mais lento para certas cenas importantes. Mas a maior parte do álbum carrega nos textos para fazer a história seguir em frente. Comparado, por exemplo, a Chibata!: João Cândido e a Revolução que Abalou o Brasil - com o mesmo propósito de adaptar um momento importante da história brasileira -, parece que há um tom mais didático em Canudos do que o de explorar as possibilidades da linguagem em quadrinhos.
Reforça essa aparência de ênfase no didatismo a má apresentação do volume, que tem capa com imagem recortada de páginas internas. A intenção aparente é produzir um livro que atenda os interesses do PNBE, do Ministério da Educação, que tem investido milhões em quadrinhos que possam ser utilizados em escolas. Pena que a única preocupação pareça ser essa.
O que sobra são algumas belas páginas (veja o preview aqui) - como a 36, com revoltosos de armas em punho, que ficou marcada na minha memória -, mas que dão a impressão de que poderiam ser mais.
Ato 5, por sua vez, apesar de ter menos páginas, tem um ritmo mais delicado e apropriado às HQs. Aqui os autores estão trabalhando com suas próprias ideias, ao invés de recontar uma história.
A trama lembra Subversivos, outra HQ de Diniz que trata da ditadura: fala do período a partir das experiências de um grupo de pessoas na época. A arte de Aguiar, por sua vez, parece viajar entre vários estilos, sem se ater a um único. O efeito, embora produza algumas belas imagens - como a da página final -, às vezes dá a impressão de inconstância na produção da HQ.
Além disso, depois de ver Canudos colorida, parece que há uma perda nos desenhos em preto e branco em Ato 5.
Onde e quanto: A Revolta de Canudos está em algumas livrarias e comic shops, e no site da editora Escala Educacional, com preço sugerido de R$ 22,90. Ato 5 está em algumas comic shops por R$ 5 (ou Cr$ 5, como diz a capa).