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Aqui Dentro: Os lançamentos de HQs no Brasil

Che, 10 pãezinhos, Battle Royale e Crise infinita

09.01.2007, às 00H00.
Atualizada em 09.11.2016, ÀS 15H05
Che Editora Conrad
3 ovos
Battle Royale Editora Conrad
4 ovos
10 pãezinhos: Mesa para dois Editora Devir
4 ovos
Crise Infinita 1 Panini Comics
2,5 ovos
Na coluna irmã da LÁ FORA , o Omelete mergulha nas bancas e livrarias para comentar os principais lançamentos recentes. Nesta edição: Che, Battle Royale, 10 pãezinhos: Mesa para dois
e Crise infinita .

Che

Ernesto Guevara de la Serna (1928-1967), nome que foi cinzelado na história como Che Guevara, já teve sua história contada no cinema, na literatura, na televisão, nos games (alguém se lembra de Guerrilla War, do Nintendo?) e, agora, também nos quadrinhos.

O manhwa (quadrinho coreano) de Kim Yong-Hwe conta a vida do argentino desde a juventude confortável em Rosário, até sua morte, faminto e desamparado, nas selvas da Bolívia. Pela complexidade da história, a indústria do entretenimento nunca havia tentado abranger toda a vida do icônico herói revolucionário, mas Yong-Hwe não se abalou com a dificuldade da tarefa. Em 248 páginas mostra a viagem de Che e Alberto Granado pela América Latina (contada no filme Diários de Motocicleta), o início da conscientização política, o encontro com Fidel Castro, a invasão de Cuba, as lutas armadas pelo controle da ilha, a subida ao poder e, enfim, a inquietação perante a estagnação administrativa e o desejo de levar o ideal revolucionário a outros países da América Latina.

Trata-se portanto de uma verdadeira saga em quadrinhos, um relato bastante fiel dos momentos mais heróicos de uma das personalidades mais atraentes do século 20. Todavia, o autor é maniqueísta, não faz qualquer comentário sobre o lado podre da administração de Castro, ou como derrubou-se um ditador apenas para que outro subisse ao poder. Yong-Hwe parece fascinado demais com o potencial quase mitológico da história para permitir que sua obra faça uma análise mais criteriosa da política cubana - ou o papel que Che teve nela -, mantendo a aura de santidade de seu personagem principal, algo que o próprio governo de Cuba sabe fazer muito bem através da propaganda política.

Apesar dessa visão unilateral, o autor faz um excelente trabalho de pesquisa e sintetiza bastante bem momentos complexos - como a Crise dos Mísseis e a Guerrilha em Sierra Maestra. Mas há outra escolha de Yong-Hwe a ser questionada. Ao optar por um mangá misto, que coloca lado a lado seriedade e traços mais cartunescos, a obra resulta instável, irritante em alguns momentos. A primeira página é exemplo gritante disso. Nela o autor tenta criar um paralelo incompreensível entre Neo (de Matrix!) e Che. Talvez ele estivesse tentando se relacionar com o público jovem, mas a idéia é um tanto patética e só enfraquece uma obra que, sem essas gracinhas, seria muito mais relevante.

(Che) Roteiro e arte: Kim Yong-Hwe. Editora Conrad. Formato: 14 x 21. 248 páginas em preto e branco. 23,50 reais.

Battle Royale 1

Finalmente chega ao Brasil o polêmico mangá Battle Royale. A HQ adapta o romance homônimo, escrito por Koushun Takami e best-seller no Japão. Escrito pelo próprio autor do livro e desenhado por Masayuki Tagushi, a obra está sendo lançada por aqui em 15 volumes mensais.

Na trama, o governo da fictícia Grande República do Leste Asiático (que já foi o Japão), mantém um programa de estudos comportamentais que coloca estudantes colegiais em um jogo mortal. As regras são simples: numa ilha secreta, apenas um pode sobreviver. Comida, armas e mapas são distribuídos a todos, além de um colar explosivo preso em seus pescoços, que impede tentativas de fuga.

Carregado de uma violência explícita (a HQ, sem censura, é imprópria para menores de 18 anos), Battle Royale promete críticas pesadas aos rumos da sociedade e governo - algo que ainda é difícil de notar na primeira edição, fora a citação à onda de violência juvenil nas escolas do Japão e do mundo -, além de uma exploração, estilo "reality show", das relações entre os participantes. Aguardemos os próximos volumes, portanto.

(Battle Royale) Roteiro: Koushun Takami. Arte: Masayuki Taguchi. Editora Conrad. Formato: 13,4 x 20,2 cm. 224 páginas em preto e branco. 12,90 reais.

10 pãezinhos - Mesa para dois

Nem é preciso falar muito sobre a série 10 pãezinhos. Desnecessário também alongar-me em elogios aos seus autores, Fábio Moon e Gabriel Bá. A dupla e sua criação já estão devidamente registradas nas mentes, corações e estantes dos apreciadores de boas histórias em quadrinhos.

Como em boa parte das demais edições da série-nascida-fanzine, Mesa para dois traz uma história urbana, romântica e sensível. Quase como se um filme indie estadunidense despretensioso fosse elevado da sétima à nona arte. A trama? Melhor que eles mesmos expliquem: "uma história sobre aquelas coisas que estão bem debaixo do nosso nariz, as pessoas com quem trabalhamos, o quanto sabemos sobre elas e elas sobre nós".

História e Arte: Fábio Moon e Gabriel Bá. Editora Devir: 16,5 cm X 24,0cm. 56 páginas em preto e branco.

Crise infinita 1

Depois de meses de preparação, pistas espalhadas por todas as revistas do universo DC e uma longa contagem regressiva... começou finalmente no Brasil a tão alardeada e esperada Crise Infinita.

A série já bagunçou a Distinta Concorrência lá fora, culminando numa reformulação total dos personagens, títulos e status quo do universo de Batman, Super-Homem, Mulher-Maravilha e Detetive Chimp (é isso aí... até macaco de quinta categoria ganhou espaço nos holofotes da piração editorial - e pior, ele é até divertido). Aqui, começa na primeira parte de uma minissérie em sete, provando que merece mesmo a palavra "Crise" no título.

Uma das mais memoráveis histórias da DC, Crise nas Infinitas Terras sacudiu há 20 anos esse mesmo universo, com resultados bastante interessantes. Duas décadas depois, o safanão cósmico atinge a outra face. A diferença é que agora não tem Marv Wolfman e George Pérez, mas seus discípulos aplicados, Geoff Johns e Phil Jimenez, dão conta do recado. A profusão de acontecimentos por quadrinhos é estonteante... as referências, idem. O problema é que se tudo isso fazia sentido na minha cabeça descansada pré-adolescente, agora, ao norte dos 30, a "crise" da transição parece mesmo é uma salada difícil de engolir, uma grande crise de criatividade, isso sim.

Resta torcer para que o resultado, o universo que resultará da bagunça, empregue autores e artistas decentes, já que esse é o único elemento que efetivamente faz diferença numa história em quadrinhos verdadeiramente memorável. Ou você nunca notou que nove entre as dez melhores HQs de qualquer lista são histórias sem qualquer preocupação cronológica?

(Infinite Crisis 1) Por Geoff Johns (Flash, Novos Titãs) e Phil Jimenez (Mulher-Maravilha). Panini Comics. Formato americano. 5,50 reais.

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