HQ/Livros

Artigo

Apenas uma Garota | "Espero que o que eu escreva seja arte antes de ativismo", diz Meredith Russo

Autora lança no Brasil livro sobre adolescente transexual

07.08.2017, às 15H56.
Atualizada em 07.08.2017, ÀS 16H32

Recentemente, chegou às livrarias o primeiro romance sobre uma adolescente transexual escrito por uma mulher trans: Apenas uma garota, da norte-americana Meredith Russo, publicado pela Editora Intrínseca.

Lançado em junho, o mês do Orgulho LGBT, a trama gira em torno de Amanda Hardy, que, após passar pela redesignação sexual, tudo que mais quer é viver como uma garota qualquer. Para que seu passado não a impeça de ter um futuro, ela muda de cidade, e por lá existe esperança. O que ninguém sabe, inclusive seu crush, é que, na verdade, Amanda não nasceu Amanda.

Apesar do tema não ser novo, muitos ainda não entendem a transexualidade. Em conversa com o Omelete, a autora explica o conceito em linhas rápidas:. “Para uma pessoa muito religiosa, eu diria que transexual é aquele cujo corpo não corresponde à alma. Para ateus, eu diria que existem algumas pessoas para as quais passar pela transição de gênero as faz se sentirem melhores e não quererem se suicidar”, afirmou. "Pode soar ativista, mas não tem o que discutir. Independentemente de sua ideologia, somos seres humanos e temos direito de ser quem somos.”

Por muitas décadas, a cultura escondeu a existência de transgêneros. Foi em meados de 1930 que a primeira mulher trans passou pelo processo de redesignação sexual. No entanto, foram quase cem anos para que sua história chegasse ao grande público e, quando o fez, foi com ressalvas – ao menos na visão de Russo: Lili Elbe era uma mulher muito complexa e, no filme, caiu em estereótipos. A Garota Dinamarquesa prestou um desserviço a ambos cisgêneros e transgêneros ao fazê-la parecer uma caricatura feminina, em vez de uma mulher de verdade que estava enfrentando grandes dificuldades e tomando decisões difíceis.”

Felizmente, não é o caso de Apenas uma garota, que traz representatividade inclusive na capa, para a qual uma modelo transgênero foi fotografada. Aos 30, a autora conta que escreveu o livro que gostaria de ter lido quando adolescente. “Assim que chegamos à puberdade, nos tornamos extremamente infelizes. Não há muito que fazer além de ler, assistir e jogar. Por isso, inclusive, muitos trans são nerds”, relata. “Minha maior intenção era escrever algo que jovens trans pudessem ler e se sentir menos sozinhos, porque muita gente se inspira no Super-Homem, no Batman ou até mesmo na Bella, de Crepúsculo, mas todos esses personagens são queridos e atingem seus objetivos. Isso cansa, pois muitos de nós não temos quem nos sirva de inspiração. Além disso, ao mesmo tempo em que esses mundos paralelos servem como ótimos escapes, existe muita gente retrógrada e cheia de ódio dentro do mundo nerd.”

“Histórias desempenham um papel muito mais importante do que a maioria das pessoas acreditam”, diz. “Quanto mais houver histórias com diversidade e representatividade, mais empáticas as pessoas se tornarão para com indivíduos diferentes de si. As minorias, por sua vez, entenderão o quão poderosas e capazes são.”

Ciente de que o Brasil é o país que mais mata transexuais em todo o mundo, Meredith diz se sentir especialmente honrada com a publicação de Apenas uma garota em português. “É de partir o coração, mas também nos lembra do quão fortes podemos ser. Se você cria algo que não tem nada a dizer, não é verdadeiramente arte. Espero que o que eu escrevo seja arte antes de ativismo, mas é uma tremenda honra saber que meu livro agora pode chegar às mãos dessas mulheres extremamente vulneráveis e tornar o dia delas um pouquinho mais feliz”, finalizou.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.