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O que esperar da continuação de Me Chame Pelo Seu Nome

Desfecho do livro tem mais a oferecer à história de Elio e Oliver

22.01.2018, às 15H22.
Atualizada em 23.01.2018, ÀS 19H03

Assim como O Senhor dos Anéis, o romance que deu origem ao filme Me Chame Pelo Seu Nome acaba umas três vezes antes de terminar de fato. Se a adaptação ao cinema pega o momento mais climático para encerrar a história de Oliver e Elio, o livro de André Aciman estica a ruptura e escolhe um caminho mais conciliador, que enforma melhor a narrativa como um bildungsroman sobre Elio - quem ele foi ao longo do livro, quem se tornou depois.

Sony Pictures Classics/Reprodução

No livro, afinal, Elio é o narrador que divide conosco todo o seu fluxo de consciência, seus medos e suas vontades, e Aciman parece se sentir obrigado a nos mostrar, pelo menos panoramicamente, como o amor de juventude do menino impactou sua vida adulta, e toda a última parte do romance transcorre como um epílogo, em que Elio revisita seus sentimentos por Oliver a título de reflexão. No filme de Luca Guadagnino é diferente, não há narração e os protagonistas interiorizam tudo nos primeiros contatos (Elio só verbaliza angústias quando escreve os bilhetes em voz alta para Oliver). Mais do que o livro, o filme tem o caráter do efêmero, do amor de verão - daí seu final parece feito mais na medida.

Já o livro tem personagens (como a menina doente) e situações (como a noitada boêmia em Roma com o poeta e os literatos) que sugerem um acúmulo maior do tempo e das experiências sociais, que extrapolam a simples relação do menino com o americano. Me Chame Pelo Seu Nome, o filme, faz essas escolhas conscientemente, encerrando sua narrativa na bolha dos dois protagonistas naquele verão na Itália, e eliminando aquilo que poderia sugerir que o amor de Elio e Oliver se irradia a partir deles para outras pessoas, outros espaços, outros tempos.

Assim, se Guadagnino se dispuser mesmo a criar uma continuação, essa deve se emancipar bastante do livro e também do que foi o primeiro filme, porque uma sequência dessa história pressupõe que o amor de Elio e Oliver se transformou em outras relações, permeou outros círculos sociais, tocou questões afetivas e profissionais apenas como evocação. Uma adaptação fiel como foi a de Me Chame Pelo Seu Nome seria impossível, afinal, porque o final do livro aborda os próximos vinte anos das vidas de Elio e Oliver como um grande mosaico de instantâneos.

Guadagnino já disse em entrevista que imagina continuar essa história como François Truffaut havia feito nos filmes sobre a infância, a adolescência e a vida adulta de Antoine Doinel. Isso significa que veríamos Elio em fases dintintas de sua vida, cercado de personagens novos, mas mantendo os traços de personalidade, de inquietação e de costumes que o definem. Essa não parece, porém, a escolha mais viável do ponto de vista comercial, para os fãs que esperam os reencontros de Oliver e Elio. De qualquer forma, se Guadagnino seguir um caminho similar ao da trilogia de Richard Linklater com Julie Delpy e Ethan Hawke, então os próximos filmes de Me Chame Pelo Seu Nome, numa adaptação minimamente fiel do desfecho do romance de Aciman, estariam cheios de melancolia e reminiscências.

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