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Por que a origem da Mulher-Maravilha nos Novos 52 é a melhor para o filme

Releitura de Brian Azzarello nos quadrinhos pode ajudar a adaptação a desarmar seu aspecto mais fantasioso

25.11.2015, às 14H08.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H43

Neste mês a DC Comics começou a publicar uma minissérie infantojuvenil, intitulada The Legend of Wonder Woman, para apresentar a Mulher-Maravilha a novos leitores. Essa HQ segue a origem consagrada da heroína, em que Diana é concebida quando sua mãe, a Rainha Hipólita, pede uma filha aos deuses do Olimpo - que concedem o desejo e sopram vida a um bebê feito com o barro da orla da ilha Temíscera, lar das amazonas.

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Não é essa origem, porém, que será contada no filme estrelado por Gal Gadot, que começou a ser rodado também neste mês e chega aos cinemas em junho de 2017. No ano passado, o produtor Charles Roven disse em entrevista que o longa-metragem seguiria a origem como foi recontada pelo roteirista Brian Azzarello nos Novos 52, a reformulação editorial da DC ocorrida em 2011. Nessa versão corrente hoje nas HQs, Diana é fruto de uma relação de Hipólita com Zeus, e as histórias escritas por Azzarello exploram bastante o panteão do Olimpo a partir dessa premissa de que Diana é uma semideusa.

Nada garante que esse episódio seja recontado em detalhes no filme, com Hipólita e Zeus duelando por dias antes de se deitarem, mas é possível argumentar que a origem dos Novos 52 é a que melhor pode funcionar no filme dirigido por Patty Jenkins - e não só por livrar o Universo DC do cinema, tão afeito às explicações pseudocientíficas com que se desenha desde O Homem de Aço, do constrangimento de convencer o público de que sua principal super-heroína é feita de barro.

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Antes de mais nada, não seria um absurdo seguir a origem clássica. A ideia das figuras moldadas em barro seria aceitável não só porque tem respaldo bíblico (e portanto é minimamente familiar a boa parte do público) como faz parte de mitologias importantes do Ocidente, que já estão arraigadas na cultura pop - basta ver todas as releituras do Golem judaico que já apareceram nas telas, de Supernatural a Os Simpsons. O Golem, porém, a figura de barro por excelência, está muito mais próximo das deformidades, como Frankenstein, do que de um ideal de beleza helênico.

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O que torna a origem dos Novos 52 mais adequada não só para o Universo DC das telas como para os gostos do público "incrédulo" de hoje é que ela própria desarma o seu aspecto mais fantástico e fabular. Quando criança, Diana é convencida de que veio do barro, vira por isso motivo de piada entre outras guerreiras, e mais velha descobre a verdade não apenas sobre sua mãe mas também sobre a reprodução das amazonas (que atacam embarcações de homens para procriar e depois os matam no mar). Não é difícil imaginar que, no filme, essa revelação incentivaria ainda mais Diana a deixar Temíscera; é uma virada que tem mais peso dramático do que simplesmente a curiosidade por desbravar o mundo exterior.

Quando a DC realizou a sua primeira grande reformulação editorial, pós-Crise nas Infinitas Terras em 1986, estabeleceu-se que as amazonas são imortais e foram criadas pelos deuses como reencarnações de almas de mulheres mortas pelas mãos dos homens. É difícil imaginar num blockbuster americano uma premissa tão francamente depressiva. Nesse sentido, as ideias de Azzarello parecem mais compatíveis com as narrativas do cinemão hoje - em que as lendas servem mais como pano de fundo para uma releitura modernizante.

De resto, a noção de que os deuses da mitologia grega descem à Terra, relacionam-se com mortais e podem viver entre nós está mais do que consagrada (certamente é mais aceita do que o conceito do Golem) e se repete de tempos em tempos no cinema, de Percy Jackson às releituras de Fúrias de Titãs. Não parece ser uma concessão tão grande assim para o Universo DC sombrio-e-realista. Que venha, então, a Mulher-Maravilha semideusa.

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