Em mais de meio século de existência, os personagens da Turma da Mônica nunca tiveram suas histórias narradas em romances ou contos. Foi então que o Grupo Editorial Autêntica e a Maurício de Sousa Produções convidaram quatro autoras juvenis para escreverem uma coletânea para Mônica, Magali, Denise e Marina, lançada na 18ª Bienal do Livro do Rio de Janeiro.
No livro Uma Viagem Inesperada, as personagens partem do Limoeiro para o mundo. Enquanto Mônica vai para Coreia do Sul e Marina desenvolve seu lado artístico em Londres, Denise é mandada de castigo para a Serra Catarinense e Magali tem seus planos virados de cabeça para baixo em Paraty. O guia turístico fica por conta de Babi Dewet, Melina Souza, Pam Gonçalves e Carol Christo, que juntas arrastam multidões de adolescentes ávidos pelo conteúdo que produzem na internet e nas páginas.
“É uma experiência bem diferente do gibi”, explica Carol, que, além de autora, foi idealizadora e editora do projeto. “Por ser uma narrativa mais longa e detalhista, o leitor passa mais tempo com os personagens. É mais imersivo”.
Fãs da Turma da Mônica desde criança e cientes da responsabilidade que tinham em mãos, as autoras foram guiadas pela equipe de Mauricio de Sousa da sinopse à publicação. “Os personagens estão no imaginário dos leitores há décadas. Não dá para levá-los a qualquer lugar”, observa Pam, que escreveu sobre Denise. “Para me adequar à voz da Magali, tive que ler e reler muitos gibis. A pedido da Maurício de Sousa Produções, cheguei a reescrever meu conto quase que por inteiro”, completa Carol. “Felizmente, por ser editora, estou acostumada e aceitei as críticas facilmente.”
O auxílio, na verdade, foi mútuo. Das 24 ilustrações que permeiam as 333 páginas da coletânea, muitas foram idealizadas pelas próprias autoras. “Sugerimos até as roupas de alguns personagens, e o Estúdio acatou praticamente tudo”, conta Carol.
Limitadas com relação às personagens, a liberdade criativa ficou em grande parte no guia turístico das histórias. Melina fez sua estreia na escrita de ficção levando Marina à cidade de seus sonhos, Londres, que visitou mais de uma vez. “Eu não tinha pretensão alguma de escrever ficção, mas quando descobri que era sobre Turma da Mônica, não consegui recusar o convite”, conta. Enquanto isso, Babi, autora das trilogias Sábado à Noite e Cidade da Música, nunca visitou a Coreia do Sul, mas estuda a cultura do país há tantos anos, que chegou a lançar um guia sobre o assunto: K-POP: Manual de sobrevivência. “Não tive dificuldades para descrever o cenário da história. Eu levei Mônica a lugares que conheço bastante, por meio da internet e de amigos”, afirma.
Em solo brasileiro, Pam, BookTuber que iniciou a carreira de escritora recentemente com os romances Boa noite e Uma história de verão, levou Denise, viciada em redes sociais, para o isolamento da Serra Catarinense. Já Carol, autora de O último mestre Pokémon, publicado em sete países, levou Magali a Paraty. “Primeiro, pensei em levá-la à Itália. Depois, senti que poderia faltar cenários brasileiros nos contos, e Paraty é uma cidade histórica, bonita, com praia e uma gastronomia muito atrativa, o que faz todo sentido para Magali”, afirma.
Mesmo após meses trabalhando no projeto, até a primeira sessão de autógrafos do livro nem todas as autoras conheciam Maurício pessoalmente, que autografou 50 cópias em meio a uma multidão de centenas de fãs. “Ele disse que estava ansioso para nos conhecer e elogiou muito nosso trabalho. Começamos a chorar instantaneamente”, conta Dewet. “Foi um encontro de gerações. Tinham muitos adolescentes, que também foram por conta da gente, adultos chorando de emoção ao ver o Maurício e levando os filhos. Algumas crianças disseram que este é o primeiro livro que vão ler na vida”, relembra, emocionada.
Considerado por muitos o Walt Disney brasileiro, aos 81 anos Maurício de Sousa dirige seu estúdio ciente dos detalhes de cada um dos muitos projetos em desenvolvimento – como o primeiro live-action da Turma, que deve estrear em 2018. Para ele, o texto em prosa é um dos novos caminhos que pretende trilhar a partir de agora. “Se der certo, penso em uma coletânea para os personagens masculinos e até mesmo em livros mais ambiciosos, com mais páginas”, finaliza.
