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Venda das HQs de Mark Millar à Netflix volta a colocar os desenhistas em questão

Autor compara o negócio à compra da Marvel pela Disney

08.08.2017, às 12H25.
Atualizada em 08.08.2017, ÀS 13H00

O quadrinista Mark Millar vendeu seu chamado Millarworld à Netflix. Isso significa que as HQs escritas pelo roteirista - com exceção de Kingsman Kick-Ass, já negociados com estúdios de Hollywood - podem virar séries de TV e filmes pelo serviço de streaming. O fato de séries como Empress, Nemesis e O Legado de Júpiter serem também criação dos seus respectivos desenhistas ficou em segundo plano e Millar celebra o acordo comparando-o à venda da Marvel para a Disney.

Os desenhistas não foram negligenciados no processo. Ao Omelete, o desenhista Rafael Albuquerque, que criou a minissérie Huck com Millar, diz que a negociação vinha desde o fim de 2016. "Cada uma das propriedades foi negociada com cada artista/co-criador. No caso do Huck, tanto eu quanto ele decidimos vender [para a Netflix]", diz o brasileiro.

Huck saiu no ano passado e, antes mesmo de sua publicação, Millar e Albuquerque já tentavam emplacar uma adaptação em Hollywood. Nomes como Sam Raimi se mostraram interessados em adaptar a aventura sobre um sujeito simples de uma pequena cidade dos EUA que tenta manter seus superpoderes em segredo, enquanto faz o bem às pessoas. Millar chegou a dizer que imaginava Channing Tatum no papel.

O "Millarworld" não é uma editora, nem mesmo um selo, e sempre serviu para que Millar pudesse transformar ainda mais seu nome numa marca reconhecível além do mercado de quadrinhos. Huck saiu pela Image Comics, editora que desde sua fundação há 25 anos ficou conhecida por não deter a propriedade de suas séries; os donos das HQs são os roteiristas e desenhistas que as criam. Com a venda, Huck agora pode ter outros desenhistas caso continue nos quadrinhos, e Albuquerque não pode ser forçado a desenhá-la no futuro. Esse caso deve valer também para séries como Empress, Reborn, Chrononauts e outras que saíram e saem pela Image.

Títulos do "Millarworld" que estão em outras editoras, como Superior e Nemesis (publicadas pelo selo Icon da Marvel, que opera sem as restrições de criação das HQs normais do Universo Marvel, em que os autores trabalham por encomenda), e American Jesus (pela Dark Horse) e O Procurado (pela Top Cow), devem ter passado por pente-fino semelhante nos últimos meses para que Millar viabilizasse a venda para a Netflix. Embora já tenha sido adaptado ao cinema pela Universal em 2008, O Procurado não se enquadra no mesmo caso de Kick-Ass e Kingsman.

Embora os desenhistas envolvidos tenham sido consultados - e Millar os agradece na carta que publicou, dizendo que "desenhistas frequentemente são omitidos nesse tipo de notícia" e que "as obras só ficam tão lindas por que o Millarworld trabalha com os melhores artistas dessa geração" - a venda acontece num momento em que a indústria problematiza o papel supostamente secundário que os desenhistas tomam em relação aos roteiristas. Durante a discussão pública da sua crise nas vendas, há três meses, a Marvel alegou que "desenhista não vende HQ" e em seguida a DC Comics respondeu anunciando um novo selo, Dark Matter, que seria feito para colocar os desenhos em primeiro lugar.

Historicamente, a indústria tenta compensar e honrar o legado de desenhistas que ajudaram a criar alguns dos personagens mais populares dos quadrinhos. Bill Finger passou a ser creditado no ano passado como o cocriador do Batman; até então o Morcego era entendido publicamente como uma obra do roteirista Bob Kane. Por sua vez, na Marvel, o centenário de nascimento do desenhista Jack Kirby, que se completa neste mês, não deixa de ser uma oportunidade para relembrar que ícones como Hulk, Quarteto Fantástico e X-Men não se criaram apenas como manifestação do gênio de Stan Lee.

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