Um legítimo crossover: Os novos nomes dos quadrinhos brasileiros encontram os novos nomes da literatura brasileira. É o projeto, ainda sem nome, criado pelo escritor Joca Reiners Terron - a princípio, cinco álbuns em quadrinhos, com histórias inéditas e previsão de lançamento para o fim de 2009.
Terron (Sonho Interrompido por Guilhotina) escreve para Rubens Matuck (O Olho Bom do Menino) desenhar; Daniel Pellizzari (Dedo Negro com Unha) trabalha com Rafael Grampá (Mesmo Delivery); Daniel Galera (Mãos de Cavalo) com Rafael Coutinho (filho do cartunista Laerte, que já publicou em Irmãos Grimm em Quadrinhos); Índigo (autora de diversos livros infantis) com André Kitagawa (Chapa Quente); e Emilio Fraia (O Verão do Chibo) com DW (do estúdio Candyland Comics).
"A proposta é criar romances gráficos sem propostas, ou seja, com liberdade total para os criadores. A idéia toda surgiu do desejo de reunir quadrinistas e escritores brasileiros da nova geração para a criação de histórias originais", explicou Terron, em entrevista ao Omelete.
A dinâmica das colaborações foi definida por cada dupla, com algumas definições prévias. "São histórias originais criadas pelos escritores. Cada autor arranjou uma forma de contar sua idéia para que o parceiro quadrinista interferisse. Uns criaram contos, outros apenas fizeram reuniões e começaram a trabalhar em conjunto no roteiro para somente depois acrescentarem os textos propriamente ditos. O fundamental é que o quadrinista entre com seus conhecimentos de storytelling em quadrinhos para que o trabalho inicial do escritor se adeque à narrativa gráfica."
O autor adiantou que os contratos já prevêem a possibilidade de adaptação das HQs para o cinema - estendendo o crossover a outra forte e crescente indústria criativa nacional.
No momento, o projeto não está vinculado a nenhuma editora, mas há negociações avançadas. "A coleção ainda não tem nome pois talvez não seja propriamente uma coleção, já que muitas editoras atualmente não gostam de trabalhar com esse conceito. E estamos negociando com editoras interessadas, que não são poucas", diz Terron.
Quanto ao interesse pelos quadrinhos, Terron atribui ao pai, "um grande leitor de gibis até hoje". Da sua parte e dos outros escritores envolvidos no projeto, ele diz que não é nada além do esperado que sejam ligados em HQ. "Os quadrinhos são influentes na criação do imaginário pessoal dos escritores desde a sua consolidação como mídia, no início do século XX. Por exemplo, o italiano Dino Buzzatti produziu quadrinhos e grandes autores norte-americanos e brasileiros como John Updike e Sebastião Uchoa Leite produziram brilhantes artigos sobre o assunto."
Por fim, para deixar os aficionados por HQ mais entusiasmados, Terron tem uma lista de referências irretocável. "Eu sempre fui mais aficionado pelo quadrinho europeu de autor, mas hoje transferi meus interesses para os quadrinhos alternativos dos EUA e canadense, que vivem grande fase. Para fazer uma comparação, acho que os comics vivem a era de ouro da sua expressão como gênero autônomo, e Chris Ware é o James Joyce dos quadrinhos, assim como Seth é o Marcel Proust. Gosto muito também de Anders Nielsen, Daniel Clowes, Chester Brown, dos franceses Blutch e David B. e dos italianos Igor e Gipi, entre muitos outros", recomenda.
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