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Convergence | Crítica

Ponto de inércia (ou O fan service morreu de velho)

Omelete
3 min de leitura
01.06.2015, às 18H24.
Atualizada em 28.02.2024, ÀS 00H57

Como muitas histórias que servem primeiro a uma estratégia de negócios, a minissérie Convergence não consegue ir além da narrativa funcional. A saga que se presta, no novo Universo DC, a diminuir a importância da cronologia oficial e restabelecer o Multiverso, na tentativa de atrair leitores casuais daqui pra frente, é um réquiem triste e burocrático para a cultura do fan service.

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Na trama, situada em um planeta isolado, Brainiac usa seu acesso ao Ponto de Fuga, sequestra cidades de universos e tempos distintos e elege uma entidade, Telos, para organizar uma disputa entre os maiores heróis de cada uma delas. Enquanto esses embates específicos transcorrem em HQs paralelas (e algumas delas sabem aproveitar bem o retorno de versões do passado, como a sangrenta história do Aquaman maneta), a trama principal se ocupa do "grande plano" das coisas.

O problema de Convergence é que não há muito espaço para desenvolvimento de personagens, criação de expectativa ou arcos dramáticos quando a única coisa que importa é o tal "grande plano". Desde o princípio, o roteirista Jeff King parece mais preocupado em encher os quadros de easter eggs (na forma de personagens obscuros, dúzias deles) e cenas de ação grandiloquentes do que em eleger um ponto de vista que atraia o leitor para uma narrativa de fato pessoal.

É como se King - um nome mais conhecido como produtor de séries de TV como Continuum e White Collar - tivesse que provar seu conhecido a todo momento para ter seu crédito nerd aceito pelos leitores, tarefa que ele encara não apenas resgatando heróis pré-Crise, pré-Ponto de Ignição e pré-Zero Hora mas também fazendo referências a cenas clássicas (como o tiro que Dick Grayson toma do Coringa no mesmo ângulo daquele que aleijou Barbara Gordon em A Piada Mortal).

O resultado é uma minissérie negligente (ou no mínimo distraída) que depende de um interesse prévio do leitor para engajá-lo nos pequenos dramas que King levanta e larga pelo caminho (como o envolvimento de Guerreiro e os demais personagens de Skartaris). Poucas vezes uma saga exigiu tanto repertório do seu leitor quanto Convergence - e não exatamente para entender a trama mas, antes disso, para se importar com ela.

O desfecho da história, que primeiro envolve Paralax num embate anti-climático com o vilão Deimos e depois recorre aos Flash e Supergirl pré-Crise para refazer um dos momentos mais cruciais da história da DC Comics, 30 anos depois, coloca em dúvida a relevância dramática do fan service: a cena que restabelece o Multiverso é resolvida numa linha de diálogo e King sequer se preocupa em narrar o que acontece. Dada a sua importância, Crise nas Infinitas Terras merecia pelo menos um tratamento à la De Volta para o Futuro 2, com a cena revisitada por inteiro de um outro ponto de vista - um retcon digno, e não uma canetada.

A julgar pela inércia com que o passado é tratado em Convergence - mais uma peça de museu do que uma memória que precisa ser alimentada para continuar viva - vem em boa hora essa prometida abertura da DC em direção a uma renovação. Está na hora de mudar. Só não precisava se despedir do velho de forma tão melancólica.

Nota do Crítico
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