Existe muita gente entendida de Arte que, na melhor das intenções, tenta explicar Arte a quem não "entende" de Arte e se esforça para não usar conceitos e palavras complicadas, sem aquilo que muitos enxergam como pedantismo. Apesar das boas intenções, poucos conseguem. O discurso segue distante, deslocado do mundo real e, acima de tudo, a Arte continua lá, com "A" maiúsculo.
Juanjo Sáez trata a arte com "a". Sua proposta em A Arte: Conversas Imaginárias com Minha Mãe é minar ao máximo o perigo do pedantismo. Ao invés de um livro de arte ou didático, fez um livro em quadrinhos. Ao invés de dar uma aula, diz que quer fazer uma conversa sobre o que ele, pessoalmente, pensa da arte. Ao invés de imaginar um leitor em algum ponto entre o entedido e o desentendido da arte, resolve conversar (imaginariamente) com a mãe - que só conhece cozinhar, cuidar da avó doente e admirar igrejinhas de cidade pequena. Mas que é sua mãe, e mãe merece respeito.
A arte, para Sáez, é Joan Miró, Pablo Picasso e Andy Warhol. Mas também é seu amigo Rafa, que sai pela rua comendo seu prato de arroz com salsichas, pois havia acabado de preparar o jantar e queria acompanhar o amigo até o metrô. A arte, nesse sentido, é tudo que provoque uma emoção de que você goste, seja pelo descompasso com a realidade ou por dar um novo jeito de ver as coisas. E o importante é que VOCÊ goste.
No caso do autor, ele não tem problema algum em dizer que não gosta de Salvador Dalí, nem de vários artistas da geração atual que apelam para o choque. Os curadores, os museus, as bienais, os críticos podem olhar, apontar e dizer "isto é arte" e "isto não é arte". Para Sáez, num dos pontos altos do álbum, o melhor museu do mundo está na cabeça de cada um.
X-Men, Kim Gordon do Sonic Youth, Lars Von Trier e clipes do White Stripes pelo Michel Gondry também fazem parte da seleção pessoal do autor do que é arte, ajudando-o a explicar à mãe que emoções eles conseguem provocar, pelo menos nele. A comparação que ele faz entre as escolas de arte e a Escola para Jovens Superdotados do Professor Charles Xavier é das mais divertidas e mais verdadeiras da HQ.
Sáez tem 40 anos e uma carreira na ilustração, nos quadrinhos e na publicidade na Espanha. Sua produção de livros é mais recente. Fora A Arte, que está saindo em várias partes do mundo, ele alcançou mais destaque recentemente com Viviendo del Cuento, por enquanto só no país natal - e virou um dos expoentes do mercado fértil de HQs que pulula por lá.
Pela característica do desenho do autor, que faz as letras à mão e ainda deixa os rabiscados das palavras ou trechos que escreveu errado, a tradução e o letreiramento são um desafio especial para as editoras que se arriscam a verter a obra para outro idioma. Por isso, o trabalho cuidadoso de Lilian Mitsunaga nas letras é um destaque da edição brasileira, também cuidadosa em todos os outros aspectos.