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Hawkeye | Crítica

Fase de Matt Fraction na HQ do Gavião Arqueiro chega ao fim com lição de dinamismo e movimento

27.07.2015, às 14H36.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H42

Deve ter sido em nome do suspense que a Marvel Comics demorou cinco meses para publicar Hawkeye #22, a última edição da HQ do Gavião Arqueiro escrita por Matt Fraction. Celebrada pela crítica como um marco nas séries com viés mais autoral dentro da editora, essa fase iniciada em 2012 e encerrada na semana passada merece de verdade toda uma despedida cerimonial.

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Mas o fato é que o forte da HQ que David Aja e Annie Wu desenharam impecavelmente - ele nas edições estreladas por Clint Barton em Nova York, ela nos números intercalados que acompanharam a Gaviã Arqueira Kate Bishop em Los Angeles - está na sua simplicidade. Se no arco inicial os diálogos espertinhos de Fraction davam o tom de tramas rápidas de ação, aos poucos a HQ desacelerou o passo, e Aja e Wu puderam valorizar o básico e exercitar seu poder de síntese nos gesto, nos enquadramento, nos traços de fisionomia.

Que a história principal escolhida por Fraction para essa fase também seja essencialmente simples acabou facilitando o trabalho dos desenhistas: duas tramas de cerco tipo Davi-contra-Golias que vinham sendo preparadas há várias edições, Clint acossado no seu prédio e Kate impedida de deixar L.A., com uma massa de vilões caricatos (a gangue do moletom, os capangas de bell boy) para demarcar bem o maniqueísmo. Não é por acaso que o título desse último arco seja "Rio Bravo" - a inspiração de Fraction, o clássico de Howard Hawks citado na edição 21, sobre um cerco de bandidos ao xerife John Wayne e ao bêbado Dean Martin, talvez seja o filme mais simples já feito no cinema americano.

Muita gente vai lembrar dessa fase de Fraction pela superestimada edição 11, narrada como um organograma à la Chris Ware do ponto de vista do cachorro Lucky, mas, olhando sua Hawkeye como um todo, essa edição hoje parece mais um capricho indie para testar limites dentro da máquina das HQs de super-herói. A alma da HQ esteve não nos recursos de impacto mas nos momentos feitos para criar empatia com os personagens, principalmente os coadjuvantes, e seus pequenos dramas, desde a inundação da casa do pai de Grills até a importante cena entre Kate e o Palhaço no jantar.

Quando, já perto do fim dessa fase, Aja recorre a linguagem de sinais para fazer o leitor prestar mais atenção aos gestos do que ao texto, esse esforço serve apenas para sublinhar um trabalho que já vinha há meses privilegiando mais a narrativa visual. Nos close-ups, nos ângulos e nos enquadramentos que cortavam rostos para representar personagens falhos e frágeis, o desenhista já conseguia exprimir sentidos que não caberiam numa caixa de recordatório. O clichê da imagem que vale mais do que mil palavras serve bem a Hawkeye, não só no trabalho de Aja mas também no de Annie Wu, que representa bem os tipos tortos e afetados de Los Angeles com seu traço caricatural.

No fim, a linguagem de sinais acaba servindo como manifesto para toda essa fase: enquanto os vilões são incapazes sequer de entender as placas do aeroporto ("bro!"), os heróis se fazem no gesto, no movimento - e Clint se supera diante de um antagonista que justamente faz do gesto sua expressão, o mímico matador. Eis aqui um herói de ação, num gibi de ação. Ver o Gavião Arqueiro "multiplicado" em três quando atravessa a janela, rola no chão e se posiciona com seu arco deixa de ser só uma ferramenta tradicional de narrativa visual (para dar dinamismo dentro de um único quadro) e de fato transforma o personagem num super-herói, muitos homens em um.

Nota do Crítico
Excelente!

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