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Enquanto Isso... nos Quadrinhos | Mais brasileiros em 2021

Lelis, Ing Lee, Deborah Salles e Wagner Willian. E também: Tiziano Sclavi, Asterix, aniversários e flexões pra Omnibus

08.01.2021, às 19H11.
Atualizada em 08.01.2021, ÀS 23H37

O que você produziu de melhor em 2020?

E quais são seus projetos para 2021?

Mandei essas duas perguntas para uma lista de quadrinistas do Brasil. Vou publicar as respostas na coluna durante janeiro. Comecei na coluna passada.

Quanto ao melhor de 2020, vale tudo: uma HQ inteira, uma página, uma tira, uma capa, uma charge, uma ilustração. Só pedi que me enviassem uma imagem.

Quanto a 2021, cada um pode interpretar como quiser, falando sobre a vida ou sobre trabalho.

LELIS, INCERTO

O mineiro Marcelo Lelis, ou só Lelis, teria um álbum novo para lançar na França no início de 2021. A pandemia bagunçou tudo, então o livro sai só em 2022.

Pandemia foi o tema que atravessou seu trabalho em 2020. Como ilustrador do jornal Estado de Minas, ele tem trabalhado muito em torno do tema e das repercussões. Uma das ilustrações está acima e mostra tanto o domínio de Lelis na aquarela quanto sua capacidade de imaginação. Tem mais no Instagram.

Além do projeto com a editora francesa, “há um outro, mais pessoal. Mas ficou tudo tão incerto que nem sei o que vai acontecer em 2021 nesse meio editorial”, ele me contou por e-mail.

A última publicação de Lelis no Brasil foi Reconexão, em 2019. Seu álbum com Popeye, Un homme à la mer, em colaboração com Antoine Ozanam (com quem ele fez Goela Negra) e lançado só na França também em 2019, continua inédito por aqui.

ING LEE AJUDANDO A HALMEONI

“A nostalgia dos anos 2000 e uma infância regada a Pokémon e outras quinquilharias” foi o tema de “Ao Meu Eu Criança”, uma das HQs que Ing Lee publicou em 2020. Foi feita a convite do Faísca Festival Internacional de Risografia. Esta é sua página preferida.

A risografia – aquela técnica de impressão numa maquininha japonesa que rende cores gritantes – é onde Lee gosta de brincar. Seu primeiro trabalho a chamar atenção, Karaokê Box, saiu em amarelo flúor e rosa balinha.

E o tema que passa por suas HQs são as raízes coreanas, sua própria ascendência. Seu próximo trabalho, Banca Jeong, tem a ver com elas.

“Será a minha primeira HQ mais longa”, ela me contou por e-mail. Trata de uma jovem coreano-brasileira que tem que assumir a banca de jornais da sua halmeoni (“vovó”) no Liberdade, em São Paulo, depois que a idosa sofre um acidente.

“Eu tô aqui numa loucura insana pra produzir. Neste exato momento tô numa pausa da roteirização, hehe.” A previsão de lançamento é março.

DEBORAH SALLES NO EDIFÍCIO

O Edifício Blaster da Deborah Salles tem cachorros donos de cachorros, gente que tosse no elevador e deixa os vizinhos com medo, crianças com tédio e muita máscara e álcool gel. Igual ao seu edifício.

São tiras, produzidas para o limite de dez quadros do Instagram. “Anexei aqui a que mais gostei de fazer em 2020” – a de cima. Ela continua publicando no ig e no seu site.

“Sobre os planos pra 2021, por enquanto é continuar fazendo essas tirinhas do Edifício Blaster, mas sem ficar presa a uma frequência específica de produção – fazer quando der. A ideia é publicar um zine no futuro, mas no momento acho mais realista (e mais prazeroso, no fim das contas) pensar num projeto menos ambicioso do que um livro...”

A estreia de Salles em livro foi Viagem em volta de uma ervilha (com Sofia Nestrovski, editora Veneta), sobre uma gata perambulando e pensando num apartamento, de 2019.

WAGNER WILLIAN, NON-STOP

“Projeto: sobreviver. Em seguida, meu quadrinho infantil Onça-me deve sair no primeiro semestre. Depois virão duas adaptações literárias. Uma, de um escritor gringo cinco estrelas. Outra, de uma historiadora cinco estrelas. Ao que parece, todos os quadrinistas suplentes da Lei Aldir Blanc foram contemplados. Se a lenda for verdadeira, ano que vem publicarei Todas as Pedras no Fundo do Rio. Terceira edição de Martírio de Joana Dark Side tem que sair. Um livro infantil que comecei no final deste ano deve vir à tona: Quanto Você Vale? Se der tempo, alguma história curta, poética (tenho dessas também). Talvez publique algo de fora pela Texugo Editora.”

Wagner Willianprêmio Jabuti 2020 de Quadrinhos por Silvestre – não para. Mas tive que pedir para ele parar, tomar um fôlego e me explicar algumas partes do tijolo de parágrafo que soltou no e-mail.

Texugo é o nome da sua própria editora, por onde ele lança trabalhos próprios (como O Martírio de Joana Dark Side, esse que vai para terceira edição) e de estrangeiros (como Strannik, de Anna Rakhmanko e Mikkel Sommer).

Quanto a Todas as Pedras No Fundo do Rio: “é uma HQ sobre segredos enterrados onde um descendente russo, apaixonado pelo Brasil, rompe com dogmas conservadores, sinistros e seculares de sua família; um neto de escravos manifesta-se contra a segregação e o violento racismo contra negros e indígenas; e uma feminista com faculdades mediúnicas luta pelos diretos civis. Três personagens em busca da verdade e justiça no final dos anos 40 em um país fictício, saturado, vizinho ao Brasil, mas isolado do continente.”

Quanto às adaptações de literatura de autores cinco estrelas: “A do gringo, pronta. Pelo menos a minha parte. A outra, tá só no comecinho do comecinho.”

Quanto ao melhor de 2020, ele mandou uma página da “polêmica” (aspas dele) Sex Education. Aí em cima.

“Na verdade, tenho uma porrada de projetos, cara, mas nunca dá tempo de realizar todos. No final, o lance mesmo será continuar vivo e bem. Espero que você também.”

ANO DE ENCHER OS COFRIX

No meio da bagunça de início do ano, o Journal du Dimanche francês anunciou que este ano tem novo álbum de Asterix. Será o 39º da série, o quinto pela dupla Jean-Yves Ferri e Didier Conrad, e o primeiro sem a benção dos autores originais – o desenhista Albert Uderzo faleceu em março.

Novo álbum de Asterix significa muita grana no mercado de quadrinhos francês. Aliás, no mercado editorial francês. Cada Asterix inédito sai com tiragem de 5 milhões, simultaneamente em vários idiomas, e fica algumas semanas acima de todos os livros mais vendidos na França.

O nome do álbum ainda é segredo. Ferri e Conrad só divulgaram a página acima – que não faz parte da HQ e é só para divulgação. O que se sabe é que Asterix e Obelix vão fazer mais uma viagem. O lançamento é em 21 de outubro.

Outras novidades no universix: o cachorrinho Ideiafix vai ganhar uma série animada na France Télévision em setembro. E de abril a fim de novembro o Castelo de Malbruck, no departamento de Moselle (fronteira com a Alemanha), sediará a exposição “Asterix, o Europeu”, sobre as viagens do baixinho pelo continente.

No Brasil, Asterix está sem editora há cinco anos e seus dois últimos álbuns (em breve três) continuam inéditos.

SCLAVI, O RECLUSO

O jornal inglês Guardian foi saber mais de um dos personagens mais interessantes do quadrinho italiano: Tiziano Sclavi. Que criou um outro personagem interessante, chamado Dylan Dog.

Seria uma matéria sobre a curiosidade que é Dylan ser um britânico que os leitores britânicos não conhecem. Mas Sclavi é uma figura mais curiosa que o investigador do pesadelo.

“Nunca foi a Londres”, diz o escritor. “Nunca entrei num avião, nunca vou entrar. Em relação a trens, tenho claustrofobia e acho que ia ter um ataque cardíaco no Eurotúnel. Eu sei dirigir, mas hoje em dia dirijo pouco. Eu me incomodo de ir na cidade vizinha, a um quilômetro, pra fazer compras. Mas, em sonhos, já estive várias vezes em Londres.”

Segundo a reportagem, Sclavi mora numa propriedade rural na fronteira da Itália com a Suíça, com a esposa e sete cachorros linguicinha. Sai raramente, sobretudo para levar os cães no veterinário.

“Faz mais de 20 anos que, com raras exceções, eu não leio jornal nem assisto tevê. Sou praticamente um desinformado, mas as poucas notícias que me contam me assustam. Sinto que vivemos num mundo horrível, e particularmente num país repulsivo: a Itália.”

Sclavi andava meio brigado com a Bonelli, editora de Dylan Dog, mas a editora publicou uma série de capas duras para comemorar seu retorno ao personagem no final do ano passado. Ele concluiu, por exemplo, a trilogia colorida I Racconti di Domani (com Giorgio Pontrelli), que devia ter saído na comemoração de 30 anos de Dylan. O investigador completa 35 em setembro deste ano.

No Brasil, Dylan Dog tem duas séries pela Mythos, a titular e a Nova Série, que se alternam bimestralmente. Todo ano sai uma graphic novel do personagem, a cores. O editor Júlio Monteiro de Oliveira me confirmou que a trilogia Domani sai por aqui até o ano que vem.

VIRANDO PÁGINAS

No dia 14 de janeiro faz 50 anos que as bancas dos EUA receberam Mister Miracle n.1, quarto título do Quarto Mundo de Jack Kirby – e o que mais durou. Foi a estreia do personagem escapista, que fez sucesso recente na série de Tom King e Mitch Gerards.

Este mês, Nexus, o personagem super-herói-sci-fi-matador de Mike Baron e Steve Rude, completa 40 anos. Ele estreou na Nexus n. 1, também estreia da Capital Comics no mercado, em janeiro de 1981.

Sandman: os Caçadores de Sonhos, de Neil Gaiman e Yoshitaka Amano, da editora Conrad, começava a movimentar os quadrinhos em livrarias no Brasil em  janeiro de 2001, há vinte anos.

E foi também há vinte anos, em 12 de janeiro, que faleceu Gian Luigi Bonelli, pai fundador da editora com seu nome e um dos criadores de Tex.

FLEXÕES = DESCONTO

Leitores já estão exibindo pelas redes seus tijolos de Quarteto Fantástico por John Byrne vol. 1, segundo Omnibus que a Panini lança no país. É tanto um dos maiores quadrinhos que já saiu por aqui – com 1096 páginas – quanto o mais caro que já se viu pelo preço de tabela – R$ 349.

Mas, se você estiver mal de grana e tiver histórico de atleta, existe uma solução.

A loja Azuos Metal, de São Paulo, oferece o Omnibus a R$ 149 a quem fizer 100 flexões. Até o chão, contadinhas, aos olhos do dono, por chamada de vídeo.

“Um tijolo daquele? Se o cara não tiver bom de braço, ele não consegue ler. É o mínimo”, diz David Carvalho, proprietário da “loja do geek maromba”. O Omnibus do Quarteto pesa 3,5 kg.

Carvalho diz que os marombas de academia veem ele lendo gibi “e não entendem nada”. Os geeks o encontram nos eventos “chacoalhando um shake de whey, leite e farinha de aveia e não entendem nada.” Foi seu jeito de unir os dois mundos.

“Eu precisava oferecer um produto de grande impacto a um excelente preço, estimulando a prática de exercícios numa comunidade majoritariamente sedentária”, ele me explicou por WhatsApp.

Concorrentes ao desafio têm que se inscrever e entrar numa fila. Até este momento, a fila já tem sete pessoas – se um não chegar às 100 flexões, o próximo tenta e assim por diante. Apenas um exemplar do Omnibus será vendido com este desconto.

As regras estão aqui. O prêmio de consolação a todos os participantes é 0,2% de desconto por flexão em qualquer produto da loja.

“O participante fará o desafio de sua própria casa ou local de preferência e eu estarei aqui do outro lado, supervisionando”, ele diz. “Ofereço orientação adequada para realização, o que inclui um bom aquecimento para evitar lesões e outras coisinhas. Mas atenção à regra número zero: não vale flexão do Bolsonaro!”

(o)

Sobre o autor

Érico Assis é jornalista da área de quadrinhos desde que o Omelete era mato.

Sobre a coluna

Toda sexta-feira, virando a página da semana nos quadrinhos. O que aconteceu de mais importante nos universos das HQs nos últimos dias, as novidades que você não notou entre um quadrinho e outro. Também: sugestões de leitura, conversas com autores e autoras, as capas e páginas mais impactantes dos últimos dias e o que rolar de interessante no quadrinho nacional e internacional.

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