O Festival de Angoulême, a mais importante premiação europeia de quadrinhos, está sendo alvo de polêmica porque seu principal prêmio, o Grand Prix, não tinha uma única mulher listada para a sua edição de 2016. A notícia gerou um movimento de boicote - e o êxodo de indicados começou.
Inicialmente, o festival francês listou 30 nomes de criadores; os cerca de 3.000 profissionais de quadrinhos que votam no festival então escolheriam um premiado, por sua carreira e sua contribuição à arte sequencial. Os nomes listados inicialmente são:
Brian M. Bendis
Christian Binet
Christophe Blain
Françoise Bourgeon
Charles Burns
Pierre Christin
Daniel Clowes
Richard Corben
Cosey
Etienne Davodeau
Nicolas de Crécy
Edika
Carlos Giménez
Emmanuel Guibert
Hermann
Alejandro Jodorowsky
Stan Lee
Milo Manara
Taiyô Matsumoto
Lorenzo Mattotti
Frank Miller
Alan Moore
Quino
Riad Sattouf
Joann Sfar
Bill Sienkiewicz
Jirô Taniguchi
Naoki Urasawa
Jean Van Hamme
Chris Ware
Primeiramente, Sattouf recusou sua indicação, por não haver nenhuma mulher presente na lista. Um movimento de boicote ganhou corpo e outros indicados também pediram para serem desconsiderados. Até agora já são dez: Sattouf, Blain, Christin, Manara, Davodeau, Burns, Clowes, Sfar, Bendis e Ware. Provavelmente Moore se juntará ao grupo, porque ele tradicionalmente é indicado ao Grand Prix e sempre pede para ser retirado do páreo.
Nesta quarta-feira, a organização do festival divulgou um texto em que dá o braço a torcer e adiciona duas quadrinistas na lista: Marjane Satrapi e Posy Simmonds. Angoulême diz, porém, "que não é sua função reescrever a história dos quadrinhos", e que em anos anteriores essas duas criadoras, agora adicionadas, já haviam recebido poucos votos desses 3 mil criadores. Paralelamente, o festival lembra que sua programação de debates inclui painéis sobre o papel da mulher nos quadrinhos francobelgas e sobre as diferenças entre aspectos femininos e masculinos nas HQs.
Ao rever a lista e adicionar Satrapi e Simmonds, o festival diz que reconhece "que as mulheres e os homens hoje são sensíveis à questão da presença de mulheres quadrinistas nas HQs, e que isso também inclui a dimensão simbólica de ser um evento-vitrine, uma oportunidade para as pessoas verbalizarem essa preocupação e defenderem essa causa".
Em anos recentes, Angoulême deixou de privilegiar o quadrinho francobelga e abriu sua lista do Grand Prix a nomes de outros continentes. O americano Bill Watterson, criador de Calvin e Haroldo, levou o Grand Prix em 2014, e o japonês Katsuhiro Otomo, criador de Akira, ganhou em 2015. O favorito em 2016 é o belga Hermann, que no ano passado ficou em terceiro lugar, atrás de Otomo e Alan Moore. Tradicionalmente, o vencedor de um ano se torna presidente da edição seguinte, então o festival deste ano - que acontece entre 28 e 31 de janeiro - é presidido pelo japonês.