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Gaiman X McFarlane

Gaiman X McFarlane

02.10.2002, às 00H00.
Atualizada em 06.11.2016, ÀS 12H08

Neil Gaiman


Mi
racleman


Todd McFarlane


Angela

Tudo começou em 1992.

Era o auge das publicações independentes, início da Era Image, reinava um espírito de boa vontade entre os profissionais dos quadrinhos e todos pareciam estar do mesmo lado. Nesse espírito de colaboração, Alan Moore, Neil Gaiman, Dave Sim (Cerebus) e Frank Miller toparam escrever edições de Spawn. Moore, Gaiman e Sim não assinaram termo legal algum com McFarlane, firmando apenas contratos verbais.

A gibi escrito por Gaiman (Spawn 9) vendeu cerca de 1,1 milhão de exemplares e introduziu a personagem Ângela no universo do feioso. De acordo com Gaiman, seu acordo com McFarlane seria o de manter os direitos sobre a personagem, recebendo royalties por todas as suas aparições subseqüentes. O conde Cagliostro também fez seu debut na mesma edição, tendo aparecido não só em revistas posteriores, mas também conquistando papel de destaque na mitologia do Soldado do Inferno, inclusive no filme e na série animada da personagem.

Dois anos depois, em 1994, Gaiman escreveu Ângela, mini-série em três partes, também na base do acordo verbal. Ele ofereceu a McFarlane um argumento para Spawn 26 que, segundo algumas fontes, não foi aproveitado. Outras já dizem o contrário. McFarlane é um dos que afirma que não foi aproveitado e, apesar de não tê-lo solicitado, teria pago ao escritor pelo trabalho.

Em 1996, McFarlane adquiriu os direitos sobre personagens publicadas pela editora Eclipse em um leilão. No meio delas, estariam os direitos sobre Miracleman. Os direitos sobre a personagem está agora em disputa, entre o supracitados McFarlane e Gaiman, bem como Dez Skinn, que publicara o herói originalmente na Inglaterra. Na verdade, a disputa não é pela totalidade dos direitos de publicação de Miracleman, apenas pelo controle majoritário dos mesmos. Tanto Alan Moore quanto Neil Gaiman já detêm partes desses direitos.

Os motivos do processo atual tem sua origem em 1997, quando, de acordo com Neil Gaiman, ele e McFarlane teriam negociado uma troca dos direitos. O escritor inglês abriria mão de Ângela e McFarlane, de Miracleman. Os dois teriam sentado e conversado cara a cara na WonderCon de Abril a fim de discutir a proposta. Daí pra frente, começou a boataria baseada em Neil disse isso, Todd disse aquilo.

De acordo com Gaiman, os dois teriam firmado um acordo pela troca dos direitos, e esse é o principal motivo do processo. Já McFarlane decidiu acionar Gaiman, alegando que nunca houvera tal acordo, a despeito dos inúmeros faxes que ambos trocaram em julho daquele ano. McFarlane admite, no entanto, ter pago a Gaiman uma bela quantia pelos royalties referentes ao Spawn Medieval, assim como ter enviado ao escritor inglês os fotolitos de Miracleman publicado pela Eclipse.

Entre 1997 e 2001, a disputa seguiu em um impasse, enquanto que as personagens disputadas continuavam a estrelar em Spawn, apesar da aparente morte de Ângela em Spawn 100. No ano passado, quando as coisas começaram a esquentar, o alter ego de Miracleman, Michael Moran, fez uma ponta em Hellspawn 8. McFarlane ainda anunciou que o próprio Miracleman apareceria na edição 13 do título. Na época, Gaiman denunciou quebra do acordo. McFarlane negou que fosse o caso, uma vez que jamais houve acordo. No entanto, o criador de Spawn voltou atrás, haja vista que a edição 13 chegou às lojas sem o herói britânico.

Ainda em 2001, Gaiman concordou em escrever uma mini-série em seis edições para a Marvel, intitulada 1602. A editora, por sua vez, dispôs-se em doar os lucros para Marvel and Miracles, LCC, uma sociedade criada por Gaiman voltada para a recuperação dos direitos de Miracleman. Boatos dão conta de que, assim que Gaiman tiver sucesso na empreita, a Marvel reimprimiria a revista nos Estados Unidos. Miracleman teria seu nome original, Marvelman, de volta. Claro que Joe Quesada e Bill Jemas não perderiam uma oportunidade de ouro como essa não? Afinal, uma das coisas que a dupla mais gosta de fazer é aparecer na mídia...

Em janeiro deste ano, Gaiman entrou com um processo contra McFarlane na corte de Madison, Winsconsin. Alega quebra de contrato, violação de direitos autorais, fraude e propaganda enganosa, dentre outros itens. Em março, McFarlane respondeu acionando Gaiman, alegando, dentre outras coisas, que ambos trabalharam em conjunto em Spawn 9 e que, neste caso, não poderia ser processado por violação de direitos autorais.

O julgamento teve início no dia 27 de setembro passado, com a seleção do júri e deve durar o resto da semana. No entanto, o caso deve durar mais, uma vez que o perdedor, com toda certeza, contestará a decisão, o que deve garantir mais uns aninhos de quebra-pau.

O julgamento é aberto ao público e está acontecendo em Wisconsin. Detalhes sobre o processo podem ser obtidos no site www.wiw.uscourts.gov.

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