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História e História em Quadrinhos - Parte 4

História e História em Quadrinhos - Parte 4

24.01.2002, às 01H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H12
As Histórias em Quadrinhos, como todas as formas de arte, fazem parte do contexto histórico e social que as cercam. Elas não surgem isoladas e isentas de influências. Na verdade, as ideologias e o momento político moldam, de maneira decisiva, até mesmo o mais descompromissado dos gibis. É o que se vê nesta série de artigos.

OS ANOS ANTICOMUNISTAS

Se, na década de quarenta, os heróis foram convocados" para lutar na Segunda Guerra Mundial contra as potências do Eixo, os anos cinqüenta caracterizaram-se pela Guerra Fria e pela perseguição aos quadrinhos.

Monstros são corriqueiros nas HQs. Todavia, não raro a vida real também tem dessas criaturas com o detalhe de que se ocultam sob a forma humana. Um desses bichos-papões de carne e osso veio ao mundo sob o nome de Fredric Wertham, autor do livro Seduction of the Innocent (Sedução do inocente).

Nas 400 páginas de sua obra, o psiquiatra alemão esmiuçou suas idéias sobre o "verdadeiro intento subversivo" por trás dos quadrinhos. Dentre as hipóteses do tratado, havia a de que a Mulher Maravilha representava idéias sadomasoquistas, mas a mais famosa - e que ainda perdura em alguns meios - é a da homossexualidade da dupla Batman & Robin.


Namor enfrenta um comunista.
Note a foice e o martelo no capacete

O compéndio de Wertham foi a mais perfeita expressão no terreno das HQs da famigerada caça às bruxas vigente ao longo daquela década, que, numa onda sem precedente de conservadorismo, causou vítimas também no cinema, no teatro e na televisão.

O impacto da obra de Wertham foi tamanho, que, para se protegerem, várias editoras juntaram esforços e criaram a Comics Code Authority. O objetivo explícito desta entidade era autocensurar as histórias antes que elas fossem condenadas pela opinião pública e principalmente pelos distribuidores. Se estes últimos boicotassem um gibi, ele não chegaria aos pontos de venda e seria cancelado na certa. Todavia, a intenção não manifesta das empresas participantes era tirar do caminho a notável editora EC Comics, cujos gibis repletos de crime, terror e sexo estavam arrasando a concorrência.

Sob o facão do código, as revistas foram pausteurizadas e ganharam cores consideradas "apropriadas" para o público infanto-juvenil dos Estados Unidos. As revistas que tivessem passado pelo crivo da CCA, então, estampavam na capa o tranqüilizador selo do código. Papai e mamãe poderiam dormir sossegados. Seus filhinhos não seriam transformados em delinqüentes ou, pior, comunistas!!!


Capitão América... esmagador de comunas - Veja o Capitão América desafiar as hordas comunistas

Cabe ressaltar que a Comics Code Authority existe ainda hoje, mas felizmente suas garras estão muito menos afiadas. Numa mostra de sua fraqueza, meses atrás, a Marvel deixou de submeter seus quadrinhos à aprovação do Selo (leia mais aqui).

Nos anos cinqüenta, porém, o medo estava em toda parte. Os soviéticos tinham agora a bomba atômica e os americanos batiam-se contra tudo que soasse como ataque velado e subversivo dessa superpotência ao seu precioso "american way of life". Enquanto, na vida real, a população procurava comunistas debaixo da cama, nas páginas dos gibis, os heróis faziam sua parte. Afinal, com o fim do conflito mundial e a polarização de forças entre EUA e URSS, o alvo das investidas não era mais o mesmo. Nada de nazistas ou perigosos cientistas alemães, o inimigo agora trajava o vermelho da ameaça que vinha do leste. Eram tempos em que se confundiam marxistas com comedores de criancinha!

Numa demonstração de que comuna bom é comuna morto, Namor rechaçava insidiosos golpes de aquáticas foices e martelos, enquanto, de volta por um breve período no ano de 1954, o Capitão América ensaiava sopapos anticomunistas.

Leia também
História e História em Quadrinhos - Parte 1 (Super-Homem)
História e História em Quadrinhos - Parte 2 (Namor e Tocha Humana)
História e História em Quadrinhos - Parte 3 (Capitão América)


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