HQ: <i>Hellblazer - Hábitos perigosos</i>

De acordo com o próprio autor, o mago veio como resposta à sua necessidade de incluir o músico Sting como um dos coadjuvantes da publicação. Sua estréia deu-se em Swamp Thing 37 (No Brasil: Monstro do Pântano 1, janeiro de 1990) e sua popularidade acabou fazendo a DC publicar um título só seu, inicialmente a cargo do roteirista britânico Jamie Delano.

Além de ser a base do filme Constantine, o arco Hábitos perigosos (No Brasil: Vertigo 1 a 3 entre março e maio de 1995) tem grande importância na vida da personagem, pois inicia o período em que o roteirista Garth Ennis (Preacher, Justiceiro) redigiu o título. Enquanto permaneceu à frente de Hellblazer, Ennis produziu alguns de seus melhores trabalhos e estabeleceu uma mitologia bem interessante ao redor de John, não só criando novos coadjuvantes, como prestando homenagens aos escritores que vieram antes dele. Hábitos perigosos mostrou um John Constantine deveras humano, o que o tornou ainda mais notável.

A história começa com o mago encarando a própria mortalidade. Ele vai morrer. Dá-se conta disso certa manhã, quando tem uma crise de tosse, seguida de vômito. O que cai na pia, no entanto, não é apenas sangue, mas uma parte de si mesmo. Logo, o bruxo começa a imaginar o que, de sobrenatural, poderia estar acontecendo. Talvez a vingança de algum inimigo esquecido. Possivelmente, um ardil de Nergal, demônio cujo sangue corre em suas veias. No entanto, a resposta era bem mais mundana. John Constantine, um dos maiores e mais arrogantes bruxos do mundo, sofria de câncer de pulmão, resultado do consumo diário de um maço e meio dos cigarros Silk Cut. Quando diagnosticada, sua doença já se encontrava em estágio avançado e a medicina não poderia fazer nada, a não ser tornar mais confortáveis seus últimos meses de vida.

Constantine, então, resolve procurar ajuda sobrenatural, na forma de Brendan Finn, um antigo adepto das artes arcanas. Para seu azar, Brendan também morria da mesma doença. O câncer de Brendan atacara seu fígado e o deixara às portas da morte. Os dois moribundos decidem passar a noite desfrutando de uma cerveja especial, que Brendan produziu a partir de água benta. Quando sai pela porta, bêbado, Constantine topa com seu maior inimigo durante o período em que Ennis redigiu o título: O Primeiro dos Caídos.

Aqui cabe uma explicação. No Universo DC daqueles anos, ficou estabelecido que, assim como o Céu tinha sua Santíssima Trindade - Pai, Filho e Espírito Santo -, o Inferno também teria três regentes igualmente poderosos. Quando chegou sua vez de estabelecer os mandantes infernais - algo que já haviam feito Alan Grant e Neil Gaiman -, Ennis optou por denominá-los de o Primeiro, o Segundo e o Terceiro.

Voltando à trama, Constantine dá de cara com o Primeiro, que lhe conta que Brendan havia vendido sua alma em troca da capacidade de reunir uma coleção das melhores bebidas do mundo. O contrato, no entanto, tinha uma brecha, ao estabelecer que, se o Primeiro não reivindicasse a alma até a meia-noite do dia de sua morte, Brendan estaria livre. Valendo-se dessa cláusula, Constantine engana o demônio. Faz com que beba da cerveja produzida a partir de água benta. Com isso, ganha tempo para que a alma de Brendan escape do Inferno. Na contramão, porém, condena a si mesmo. Pelas regras estabelecidas, o demônio tem direito de posse sobre a alma daqueles que o desafiam.

Se no início, não queria morrer, depois disso, Constantine não ousa sequer considerar a possibilidade. Afinal de contas, sabe muito bem o que o espera quando chegar ao Inferno. Decidido a ganhar mais tempo, sai em busca de ajuda. Entre pedidos de auxílio e despedidas, John se encontra com personagens que foram ou seriam importantes na continuidade do gibi, tais como sua irmã Cheryl e sua sobrinha Gemma, o taxista Chas, a súcubo Ellie, cuja origem do relacionamento com Constantine seria revelada no futuro, e o Esnobe, que é ninguém menos do que o Arcanjo Gabriel (O tal que anunciou a gravidez da Virgem Maria). Kit, ex-namorada de Brendan e que manteria um relacionamento amoroso com John por algum tempo, também nos é apresentada em nesse arco.

No fim das contas, Constantine deduz que só pode contar consigo mesmo. Para escapar do Inferno, tem de se valer de toda a sua astúcia e arrogância, bem como um pouco de conhecimento arcano e muita sorte. O plano que elabora é tão simples quanto genial.

É claro que eu não vou contar o desfecho. Isso aí, caro Omelenauta, você vai ter que ler pra descobrir. Basta dizer que esse arco estabeleceu as bases para a mitologia que Garth Ennis exploraria enquanto à frente da revista. Sem sombra de dúvidas, uma história que qualquer fã - ou curioso - não pode deixar de conhecer.

Compre aqui as HQs de Constantine.