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HQ: Já lemos <i>Astérix - O Céu cai-lhe em cima da cabeça</i>

HQ: Já lemos <i>Astérix - O Céu cai-lhe em cima da cabeça</i>

17.10.2005, às 00H00.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 09H05
Astérix - O Céu cai-lhe
em cima da cabeça

Roteiro e arte: Albert Uderzo
2,5 ovos

Astérix - O Céu cai-lhe em cima da cabeça (Asterix, Le ciel lui tombe sur la tete), novo álbum dos irredutíveis gauleses, foi lançado de forma espetacular na última sexta-feria (14/10/2005). Nada menos que oito milhões de exemplares foram postos à venda em diversos países, sendo 120 mil apenas em Portugal (a título de comparação, a tiragem de lançamento do novo Harry Potter por lá foi de 150 mil exemplares!). Números impressionantes, mas será que o álbum os justifica? Bem, uma coisa é certa, este pode até não ser o último da franquia, mas será com certeza o álbum mais polêmico desde que Albert Uderzo assumiu o argumento da série, depois da morte do escritor original, o saudoso René Goscinny. Por quê? Bem, um resumo da história explicará melhor:

Astérix e Obélix retornam para a aldeia após uma caça a javalis e encontram todos os habitantes misteriosamente paralisados. A explicação para o evento surge logo, na forma de uma gigantesca espaçonave esférica! É o disco voador dos Wendysital (anagrama de Walt Disney, a quem o álbum é uma confessa homenagem), do qual surgem seres que parecem uma mistura de Mickey Mouse com Teletubbie. Eles chegaram de Wendalsity e o motivo da visita é a busca pela arma secreta dos gauleses, a poção mágica. Mas eles não vieram sozinhos. Logo atrás estavam os Nagma (anagrama de mangá), do planeta Gmana, que também querem a poção mágica para sua eterna luta com os Wendysital.

Os leitores mais atentos já perceberam que Uderzo criou uma metáfora para a luta entre as indústrias de quadrinhos norte-americana e japonesa, que se reflete também na França (onde, apesar da indústria local parecer invencível em sua dominância, o volume de publicações de comics e, em especial, de mangás aumentou exponencialmente nos últimos anos). É ou não é um tema curioso? Ainda mais para uma HQ voltada ao grande público, que dificilmente conseguirá entender a maior parte das referências. Para os que têm algum conhecimento do assunto, porém, a primeira metade do álbum é deliciosa, ainda mais quando vemos as armas dos Wendysital ("super-clones", criaturas superpoderosas que parecem o Arnold Schwarznegger usando o uniforme do Super-Homem!) e dos Nagma (robôs gigantes e golpes de caratê, claro!). Uderzo também aproveita a presença dos Wendysital para ironizar a cultura norte-americana (algo que normalmente não poderia ser feito em um álbum de Astérix) e até fazer sutis críticas à intervenção americana no Iraque! Uderzo faz aí algumas das melhores gags da série desde o distante "A odisséia de Astérix", seu melhor esforço solo com o personagem.

Até aí tudo bem, o grande problema é que as boas idéias da história (e as boas piadas) acabam umas oito páginas antes do fim do álbum em si. Há até um banquete nessa altura! Mas os quadrinhos continuam ainda por uma série de páginas que não acrescentam nada, nem mesmo uma gag digna de nota! Claramente o álbum foi alongado para além do seu término natural devido à necessidade de preencher as 44 páginas regulamentares. E isso enfraquece terrivelmente o resultado final. Ainda assim, o álbum é talvez o de leitura mais rápida de toda a série, porque Uderzo, talvez em homenagem às escolas de quadrinhos satirizadas no álbum, realiza diversas páginas com pouquíssimos quadrinhos (ao invés dos 9-12 painéis por página tradicionais do quadrinho franco-belga). A intenção pode ter sido boa, mas só reforça a idéia de que essa seria uma história mais adequada para uma HQ curta do que para um álbum de tamanho regular. A maior parte dos personagens secundários também aparece muito pouco (decerto não foi por falta de espaço...). Com tudo isso, o término da leitura não deixa a sensação de se ter lido uma história realmente ruim, mas sim uma sensação de ter faltado substância ao álbum. Desagradável, de qualquer modo.

Mas nem tudo são problemas. Descontados os momentos em que o número de quadrinhos por página desaba, a arte de Uderzo é magnífica como sempre. O líder dos Wendysital, Tune, tem as mesmas poses, expressões e "linguagem corporal" do Mickey dos quadrinhos, o visual dos Nagma é claramente inspirado nos animes de robô gigante dos anos 70 (com os quais Uderzo deve ter grande familiaridade, dada a popularidade destes na França). Percebe-se algumas diferenças em relação aos trabalhos mais antigos (certamente porque já há algum tempo Uderzo precisa utilizar arte-finalistas, devido aos problemas da idade, que o impedem de fazer o nanquim da arte com a precisão de passado), mas Uderzo continua mestre indisputado da piada visual, senhor das expressões corporais e um magnífico narrador de histórias. Uma pena que não consiga mostrar a mesma genialidade em seus roteiros...

Uma última coisa a destacar: desde que a Asa assumiu a publicação lusitana da série no lugar da agonizante Meribérica, os nomes em português de diversos personagens parecem ter sido alterados. O bardo da aldeia agora se chama Cacofonix e o chefe Matasétix, por exemplo. Não sei a razão de tais mudanças, mas parece que se trata de uma imposição dos editores franceses e que isso pode se refletir na futura nova edição brasileira da série (já prometida pela Record), que está sendo integralmente retraduzida neste momento. Preparem-se!

Astérix - O Céu cai-lhe em cima da cabeça

Formato álbum - 48 páginas com capa dura

Edições Asa - 12,00 euros

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