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<i>A princesa e o cavaleiro</i> - Nova resenha

<i>A princesa e o cavaleiro</i> - Nova resenha

03.10.2002, às 00H00.
Atualizada em 01.11.2016, ÀS 12H02

Já foram publicados muitos mangás no Brasil. Alguns são clássicos indiscutíveis (como Lobo Solitário), outros sucessos comerciais (DragonBall, Samurai X) e alguns são apenas trabalhos sem qualquer mérito (Guerreiros Errantes). No entanto, havia uma terrível omissão: Nenhum deles fora criado pelo mais renomado quadrinhista da história do Japão, Ozamu Tezuka. Nenhum... até agora!

A editora nipo-brasileira JBC vem finalmente corrigir esta injustiça com a publicação de um dos trabalhos de Tezuka mais conhecidos do público brasileiro, a série A princesa e o cavaleiro (Ribbon no kishi), cuja versão em desenho animado (produzida em 1967) foi exibida por aqui nos anos 70 e 80 (leia mais aqui).

A série foi originalmente serializada na revista para meninas Shojo Club entre 1953 e 1956, com um enorme sucesso. É considerada a pioneira do mangá Shojo (para meninas) moderno e inspirou um sem número de outras, incluindo alguns dos maiores clássicos do gênero como Lady Oscar e Utena.

A história é bastante simples. O atrapalhado anjo Ching comete um engano e dá a Safiri, uma criança destinada a nascer como menina, o coração de um menino. Para agravar a situação, Safiri é filha do rei da Terra de Prata, que precisa ter um herdeiro homem para evitar que o reino caia nas mãos do malévolo Duque Duralumínio. Por uma série de mal entendidos, a menina recém-nascida é anunciada como um menino, então se decide que ela deve ser criada como tal para que possa herdar o trono no futuro (a idéia de uma moça travestida em rapaz foi inspirada no teatro de Takarazuka, em que todos as personagens são interpretadas por atrizes, do qual Tezuka era grande fã). Porém, o vilão Duralumínio não está disposto a abrir mão do trono tão facilmente e, com ajuda de seu comparsa Nylon, tenta tirar Safiri do caminho. Ao mesmo tempo, Ching desce à Terra para retirar de Safiri seu coração de menino. E a própria Safiri tenta conciliar sua obrigação de se vestir e comportar como um príncipe com sua própria vontade de ser mais feminina e sua paixão pelo príncipe do reino vizinho, Franz Charming. Vale notar que, em inglês, príncipe encantado é prince charming. Tezuka adorava fazer jogos de palavras com os nomes de suas personagens, tanto que, no caso em questão, os heróis têm nomes de metais e pedras preciosas enquanto os vilões de materiais sintéticos.

A trama é excelente. Tezuka mistura elementos de fantasia, romance e aventura com o talento que lhe deu fama. Alternando momentos engraçados e dramáticos com mestria, faz a história avançar com um dinamismo e uma criatividade que humilham a maior parte dos artistas de mangá modernos (que estendem suas histórias além do limite da paciência).

A arte também não fica atrás. Embora simples e cartunesca, mesmo se comparada a outros trabalhos do autor, ela é bela e eficiente, com narrativa e enquadramentos perfeitos, e compreensível até pelos leitores com mais dificuldade em assimilar as técnicas narrativas dos mangás. Cabe ressaltar uma clara influência dos desenhos animados de Walt Disney, que Tezuka muito apreciava (embora, ironicamente, a maior parte dos fãs ocidentais de mangá despreze...), principalmente no visual dos animais.

Talvez o único defeito do trabalho seja o fato de ser claramente destinado ao público feminino, o que poderá afastar leitores do sexo oposto. Porém, o trabalho tem qualidade o suficiente para poder ser universalmente apreciado.

A edição nacional está sendo publicada nos moldes habituais da JBC, embora pareça ter sido um pouco mais bem cuidada do que os outros mangas da editora. A impressão está melhor, o papel (ainda de baixa qualidade) é mais branco, não há qualquer problema de escaneamento ou erros grosseiros de português. Sem dúvida um trabalho de qualidade! A editora já anunciou que a série terá um total de 8 números.

A versão do mangá que a JBC está publicando é a segunda produzida por Tezuka. Como Hergé (criador do Tintin), ele era um perfeccionista e refazia periodicamente seus trabalhos antigos cada vez que os republicava. Há pelo menos quatro versões diferentes desta história a seria interessante saber qual destas é a que estamos comprando. Mas esse é um detalhe menor e perfeitamente dispensável.

O que importa é que finalmente temos um trabalho do maior gênio dos mangás no Brasil. E um excelente trabalho, ainda por cima! Nota máxima para ele!

A princesa e o cavaleiro
Autor: Osamu Tezuka
Lançamento: Editora JBC
Revista mensal em 8 partes - 100 pgs.
Preço: R$ 3,50


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