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Bone | A história por trás da obra-prima de Jeff Smith

HQ leva épico digno de Tolkien para as histórias "fofinhas"

18.06.2003, às 00H00.
Atualizada em 09.04.2018, ÀS 22H00

Não se deixe enganar pela figura fofinha e sem músculos dos três primos Bone. Eles são um dos maiores sucesso em HQs do final do século 20. Em poucos anos, seu criador, Jeff Smith, conquistou não só o público mas também vários prêmios, como o Eisner, um dos mais conceituados dos Estados Unidos, entregue durante a Comic-Con de San Diego, na Califórnia.

Cartoon Books/Reprodução

Nas edições americanas de Bone, as seções de carta trazem elogios de gente como Neil Gaiman (Sandman) e George Perez (Novos Titãs), unânimes em dizer que Jeff Smith inovou numa área saturada por super-heróis e uniformes coloridos.

Na infância

Jeff Smith nasceu em Columbus, Ohio. Desde pequeno, demonstrou talento para contar histórias. Foi nessa época que criou os primeiros esboços dos Bones, que lembravam uma mescla de Smurfs com Shmoo (uma das criações mais instigantes da tira Ferdinando, de Al Capp). Quando adulto, somaram-se a eles Pogo, de Walt Kelly, o Tio Patinhas de Carl Barks e Peanuts de Charles Schulz.

Depois, já na Universidade Estadual de Ohio, Smith começou a trabalhar numa tira para o jornal de escola. Usando os pequenos seres de sua infância e Espinho (a musa de Fone Bone), a HQ tornou-se um grande sucesso. A tiragem do periódico The Lantern, onde a HQ era publicada, chegou a 50 mil exemplares! As histórias eram bem diferentes das apresentadas hoje, mas a base era a mesma. Inclusive algumas piadas foram mantidas.

Ao sair da faculdade, Smith enveredou por outro caminho - o da animação. Trabalhou em alguns longas conhecidos, como FernGully e Rover Dangerfield, além de vários comerciais para a televisão. Durante esse tempo, a história dos Bones ficava remoendo em sua cabeça, pedindo para ser contada. Sem grana para dirigir um longa com seus personagens, Smith partiu outra vez para os quadrinhos.

No início dos anos 1990, o autor fez uma pesquisa sobre o mercado e deparou com dois fatos que o ajudariam: a existência de comic stores, lojas especializadas na venda de HQs, e a possibilidade de vender revistas em preto e branco com apenas a capa colorida, com custo de produção baixo. Como havia largado as revistas em quadrinhos em 1972, Smith desconhecia essa realidade estabelecida e também ficou de fora do boom dos quadrinhos do final da década de 70 e durante os anos 80. A pesquisa bastou para que ele descobrisse como ser seu próprio editor e dono de companhia - e Smith resolveu resolveu que poderia contar por conta própria a história de como os três primos Bone fugirem de Boneville e ganharam o mundo.

Características pessoais

É muito fácil identificar as diferenças entre os três Bones. Bem, menos para as criaturas ratazanas, que insistem em confundir Fone Bone com Phoney Bone, mas elas são burras, criaturas ratazanas burras! Cada um deles representa uma parte distinta de seu criador. Fone é o lado amigável, gentil, sincero e sensível; já Phoney é frio, calculista e materialista ao extremo; Smiley não é o mais esperto e nem quem toma as melhores decisões, mas também está pouco se lixando para isso. É o lado maluco, despreocupado, irresponsável, que provavelmente diria: "Ei, por que não lançar minha própria revista em quadrinhos com personagens que não são super-heróis e vivem uma aventura sem monstros ou sagas intergalácticas?".

Espinho é uma mistura de várias mulheres que Smith conheceu durante sua vida, em especial de sua esposa, Vijaya. Ela tem uma personalidade forte e seu passado é a chave para entender boa parte da trama. Em seus sonhos com dragões, reis e princesas, está a resposta para todos os mistérios da saga de Bone. Já a Vovó Ben é a personagem preferida de Smith. Meio rude, porém com uma força sobre-humana (hum... talvez Bone não esteja tão longe dos super-heróis como se pensa...), todo ano ela participa de uma emocionante corrida de... vacas! O humor é um traço crucial de Bone e as vacas têm seu papel nisso.

Quando criou Bone, Smith quis contar uma aventura que ele, quando criança, adorava, onde os heróis enfrentassem situações de perigo real e imediato, ou onde as consequências de seus atos pudessem alterar definitivamente sua existência. No fundo, o autor diz que Bone tem a ver com o crescer, ficar adulto, deixar o lar pela primeira vez e se aventurar pelo mundo. Quando os três primos são expulsos de Boneville, o mundo fechado, hermético e previsível, eles se vêem no Vale, uma nova realidade desconhecida, onde tudo é aventura e novidade. Como na vida real.

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