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Como o personagem que deu início à Era de Ouro dos quadrinhos, o Super-Homem sempre carregou os elementos primordiais do gênero, como as tragédias pessoais. No caso específico dele, a destruição do utópico planeta Krypton e posteriormente a morte de seus pais adotivos Jonathan e Martha Kent. Dessa forma, o Homem de Aço encontrava-se efetivamente sozinho no universo, lutando para proteger seu novo mundo consciente de que, mesmo com todos os seus poderes, estaria impotente diante do destino final dos seres humanos.
Com tal terreno fértil à disposição, os roteiristas do passado souberam explorar o tema em histórias no estilo A Última Tentação do Super-Homem, em que o herói encontrava-se vivendo em seu planeta natal como se este não houvesse explodido, ou mesmo viajando no tempo para vivenciar aventuras ao lado de seus pais biológicos. Na clássica história Para o homem que tem tudo, de Alan Moore e Dave Gibbons, o Super-Homem foi infectado por um parasita mental que realiza seu maior desejo: a vida como homem normal em Krypton. Recentemente, o conto ganhou uma excelente adaptação em desenho animado na série Liga da Justiça Sem Limites. Com a polêmica reformulação empreendida por John Byrne após Crise nas Infinitas Terras, contudo, o elemento trágico da destruição de Krypton e a ligação deste com seu Último Filho foi quase desfeita. O personagem estava alijado de um elemento essencial em sua origem, com a infeliz desculpa de que, em sua nova encarnação, seria mais humano e de mais fácil identificação. A situação foi revertida com a entrada dos roteiristas Jeph Loeb e Joe Kelly, em 1999, e, finalmente, com a reinterpretação do mito que substituiu a visão de Byrne: O Legado das Estrelas (Birthright), de Mark Waid, lançada em 2003. Nesse contexto, temos a história Godfall - O Fim dos Deuses, arco em seis partes escrito por Michael Turner com reforço de Jor Kelly e desenhado por Talent Caldwell, lançada no Brasil em edição especial única pela Panini Comics.
De volta a Krypton
De início, a premissa é bastante familiar: o Super-Homem está vivendo em Krypton, casado com uma mulher chamada Lyla (alusão à personagem da mitologia pré-Crise, Lyla Lerrol), sem qualquer lembrança de seu destino como defensor da Terra. Teríamos, aparentemente, um remake da história de Alan Moore na cronologia atual do personagem. Não que a idéia seja totalmente descartável, mas conceitos novos devem ter preferência e, convenhamos, o autor de Watchmen ainda é insuperável. Felizmente, a trama de Michael Turner, contrariando a expectativa inicial, consegue apresentar situações originais e levar o personagem em direções imprevistas. Kal-El aparece não só vivendo como um estranho no paraíso, mas num paraíso onde impera toda sorte de problemas. Começa levando uma vida de funcionário público inferior, apesar de ter sido seu pai Jor-El o responsável pela Terraforja que evitou a destruição do planeta. Destacam-se o preconceito contra os não-nascidos em Krypton (grupo do qual Lyla faz parte), uma força policial opressora e um grupo de rebeldes que combatem em nome da liberdade. A questão da xenofobia, embora já tenha sido vista anteriormente, é abordada de forma distinta. A história abre com o herói tendo sonhos com o dom de voar, passa para uma cena doméstica com sua esposa, e desemboca num ataque por parte da milícia do "Krypton Livre".
O conflito ganha nova força quando os poderes do Homem de Aço começam a se manifestar, e ele percebe que a realidade não é exatamente o que aparenta. Julgando-se indigno do amor de Lyla, de sua posição como herdeiro da Casa de El e até de seu emprego de pouco prestígio, em meio aos confrontos, Kal-El acaba aparentemente responsável pela morte de inocentes. Mesmo que acidentalmente, o fato é suficiente para deixá-lo abalado e suscitar a ira de Preus, o implacável tenente da Tropa dos Patrulheiros dos Cidadãos. A partir deste ponto, a verdade começa a ser revelada, conduzindo a história na direção do despertar do Super-Homem e de um confronto em Metrópolis. As explicações agradam, é bom ressaltar, por lidarem com elementos importantes da cronologia do personagem que vinham sendo esquecidos em tempos recentes. Se a história não será celebrada nos anos vindouros, é por privilegiar a ação e as cenas de impacto em detrimento de um estudo do conflito interior do protagonista. Fica claro que o co-roteirista Joe Kelly, responsável por algumas das melhores histórias do Super-Homem em sua temporada na revista Action Comics, não se dedicou como de costume ou teve sua contribuição limitada por Michael Turner, visto que seus diálogos bem-humorados e dilemas éticos não aparecem com tanta força.
Ainda há muito que se admirar em Godfall, todavia. Em especial, a caracterização dos vilões; na verdade, heróis que caíram em desgraça, na melhor tradição dramática. Impossível não sentir certa afeição pelos personagens e desejar vê-los novamente numa próxima oportunidade. Mas com os roteiristas dedicados a outros projetos e as revistas do Super em nova direção, tal fato é improvável. Em seu desenvolvimento, a trama lida com o tema da fé e do fanatismo, da visão do Super-Homem como um deus. Uma revista de super-heróis que consiga nos divertir, diante da pobreza que por vezes assola o gênero, já é suficiente. Quando trata de questões relevantes de forma inteligente, então, temos um bônus a ser apreciado. O desenhista Talent Caldwell é notadamente um herdeiro da Era Image, explorando bastante a sensualidade de Lyla. Certamente, ele será mais bem aproveitado em WildCATS e Gen 13. Mesmo destoando da interpretação clássica de artistas como Curt Swan e seguidores modernos como George Pérez e Dan Jurgens, Caldwell apresenta um visual inovador que valoriza o trabalho final. Os personagens, às vezes, aparecem diferentes do que esperamos, mas ainda estão melhor representados do que por muitos artistas recentes como Carlos Meglia e Derec Aucoin.
Conseqüência da história de despedida do roteirista Seven T. Seagle, Godfall explora o período em que o Super-Homem esteve desaparecido da Terra, como em Estranho novo visitante, de Dan Abnett e Andy Lanning. Neste arco, publicado em Superman 33, os ex-roteiristas da Legião dos Super-Heróis introduziram Majestic, personagem da WildStorm, ao Universo DC, colocando-o em confronto com Superboy, Erradicador e Aço. Essas edições apresentaram também histórias curtas dos novos roteiristas Greg Rucka e Chuck Austen.
Fecharam-se assim as pontas soltas pendentes dos últimos anos, abrindo caminho para a nova temporada de histórias do Homem de Aço. E os fãs mais ansiosos já estão prontos para empreender sua viagem Para o amanhã com Brian Azarello e Jim Lee, que começa este mês no Brasil em Superman. Que continue a batalha-sem-fim.
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