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Lá Fora

Britpop em quadrinhos, John Lennon alienígena, celebridades superpoderosas e outras maluquices

11.06.2007, às 21H00.
Atualizada em 31.07.2017, ÀS 08H08

Na coluna "LÁ FORA", o Omelete lê e comenta todos os grandes lançamentos em quadrinhos nos Estados Unidos.

Phonogram 6 (de 6)

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Não sou um expert em música (só tenho quem me indique o que ouvir), mas um pouco da onda Britpop sincronizou com minha adolescência. Oasis, na verdade. Um pouquinho de Blur. Alguém deve ter tentado me passar os Manic Street Preachers, sem muito sucesso. E demorei muito, muito mesmo, pra descobrir Radiohead.

Seja como for, Phonogram, a minissérie dos ingleses Kieron Gillen e Jamie McKelvie, é uma alegoria daquela época. Numa Inglaterra onde a música funciona como magia (e não foi sempre assim?), o " phonomancer" David Kohl - um mago que manipula a energia contagiante da música pop a seu favor - descobre que há um plano para ressuscitar Britannia, a Deusa do Britpop. E o trabalho parece estar dando resultado, pois todos à sua volta começam a ter suas memórias do período alteradas - e o próprio Kohl sente mudanças na sua personalidade, tão ligada à música da época.

Se você não é um inglês de 30 anos que lê assiduamente a New Musical Express, vai ser complicado entender todas as referências que a mini faz a músicos, letras de música, álbuns e shows que Gillen joga pela história. Mas se você já ouviu um pouquinho do Blur, o glossário no final de cada edição ajuda a te colocar no ritmo da história e rir das piadas. Lendo os glossários a cada edição, faz todo sentido pra você ver David Kohl gritando "EU ODEIO KULA SHAKER!" no final da mini.

Enfim, é o tipo de história que deveria ter se juntado ao bom material da extinta revista carioca Mosh! (sendo que os desenhos de Jamie McKelvie lembram os de Fabio Lyra, e Lyra é melhor). Roteiro divertido, com ótima caracterização e aquele sarcasmo que só os bons escritores ingleses conseguem colocar no papel. Só isso já torna Phonogram uma leitura legal. Já se você foi afetado pelo Britpop, a leitura é simplesmente obrigatória.

Powers 24

Cheguei à conclusão de que Powers é a minha série preferida nos quadrinhos. Todos os gibis de super-heróis que cresci lendo servem de pano-de-fundo para as histórias, que se passam num universo onde pessoas com superpoderes são tratadas exatamente como as celebridades de hoje em dia.

Brian Bendis (roteiros) e Michael Avon Oeming (desenhos) trabalham numa sincronia fantástica, com experimentos de diagramação e narrativa que faltam às HQs tradicionais - embora Bendis tente levar um pouco disso pro seu trabalho mainstream, como Novos Vingadores. Oeming é exímio em representar muito com pouco - seus traços simplíssimos, quase de desenho animado, às vezes conseguem provocar um terror inimaginável.

O tempo áureo da série foi no fim do primeiro volume, quando saía pela Image. Desde que veio para a Marvel, houve uma ou duas histórias boas, mas falta um grande empurrão para trazer as aventuras dos detetives Walker e Pilgrim de volta ao estrelato. Parece que Bendis e Oeming têm algo planejado nesse sentido.

E outra: é a melhor seção de cartas dos quadrinhos! O próprio Bendis responde às mensagens dos fãs, sempre com poucas e geniais palavras. No fim, na seção " No Life", ainda fala dos quadrinhos, DVDs, videogames, seriados e CDs que têm consumido. Viver de Powers e do que Bendis recomenda já preenche todas suas necessidades de cultura pop.

Testament 18

Esta série recebeu muita atenção na época de seu lançamento, por trazer Douglas Rushkoff, um renomado acadêmico que escreve sobre cultura midiática e religião, para o mundo dos quadrinhos. Após 18 edições, porém, a novidade passou e a série está perdendo leitores hemorragicamente.

Testament busca comparar acontecimentos do futuro próximo (perfeitamente relacionáveis com nosso atual presente de terrorismo, guerra e governos linha-dura) aos ensinamentos do Torá, o livro sagrado judeu (que é um pedaço um pouco mais esmiuçado do Antigo Testamento).

Por exemplo: os EUA do futuro decidem implantar chips de vigilância no corpo de cada cidadão. O criador do sistema, que havia desenvolvido-o somente para localizar soldados em campos de batalha, rejeita o projeto governamental e decide poupar seu filho dos chips. Como paralelo, temos a história bíblica de Abraão e Isaac, o pai que deveria sacrificar seu filho para Deus.

Se fosse simples assim, a série até poderia ser interessante. Mas a história dos chips prossegue com o filho do cientista unindo-se a um grupo de ativistas que recorrem até ao terrorismo para impedir a instauração da cultura de vigilância. E, a cada arco, há a comparação com uma das histórias do Torá - e não necessariamente a interpretação comum destas histórias, mas uma mistura de interpretações que fazem parte dos estudos sobre religião que só conhece quem leu os livros de Rushkoff. E mais: cada história é testemunhada por uma bando de divindades, do Deus judaico a entidades egípcias, semitas ou fenícias - sem muita explicação do porquê de elas estarem ali.

Entendem-se algumas críticas que Rushkoff quer fazer aos EUA atual, mas elas estão tão misturadas na salada de referências que a série perde qualquer força que poderia ter. Para piorar, o desenhista Liam Sharp, que dedicou belíssimas páginas às primeiras edições, está fazendo um trabalho cada vez mais apressado (e deve deixar a série em breve).

Testament parece ter falhado pela falta de direcionamento editorial. Faltou alguém explicar a Rushkoff para pegar leve. Tudo bem o tom "cabeça", que faz você pensar ao mesmo tempo sobre os contos religiosos e a vida contemporânea. Mas alguém deveria ter pedido para ele esticar mais as histórias, aproveitar mais as ricas metáforas que desenvolveu, e criar uma HQ inteligível.

Wisdom 6 (de 6)

O maior destaque de Pete Wisdom - personagem-X criado em meados dos anos 90, um agente secreto mutante com o humor de John Constantine - era ter sido o namorado de Kitty Pryde no Excalibur. Esta minissérie da linha Marvel Max tenta dar nova vida ao herói.

E que vida: Wisdom agora é membro de uma divisão de espionagem do governo britânico responsável por problemas sobrenaturais, como uma invasão do reino das fadas ou um mutante que traz personagens ficcionais à realidade. Este último vilão é a grande ameaça da mini, cujas últimas edições mostram um terrível ataque a Londres pelos tripodes de A Guerra dos Mundos.

O destaque da mini é o humor. Wisdom é forçado a casar com uma fada para impedir a destruição da Inglaterra por forças místicas, mas logo acaba traindo a recém-esposa. No time que o ajuda nas missões, o destaque é John The Skrull, um skrull que vive com a aparência de John Lennon - e inclusive parte de uma turma de Beatles Skrull, que ajudam a defender Londres nas últimas edições.

O roteirista Paul Cornell é novo nos quadrinhos, tendo uma carreira na televisão escrevendo episódios de Doctor Who. É quase certo que a Marvel vá utilizá-lo para novos projetos. Já nos desenhos, a minissérie peca por escolher pessoal fraco: as primeiras edições, por Trevor Hairsine, são passáveis, mas as seguintes, por Manuel Garcia, deixam muito a desejar. Este é o tipo de projeto que teria uma projeção muito maior se passado a um bom desenhista - pois bom roteiro é o que não falta.

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