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Lá fora: Os lançamentos norte-americanos

Lá fora: Os lançamentos norte-americanos

08.06.2004, às 00H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H32

E voltamos à nossa programação normal.

A Lá fora, se é que você percebeu, gozou de férias forçadas, por uma série de fatores. Peço desculpas a quem estava acostumado a ler as resenhas toda semana e agradeço a todos que entraram em contato para reclamar. Finalmente, estou de volta.

Nas próximas semanas, a coluna deve dar uma acelerada para pegar tudo de interessante que foi lançado ultimamente, até ficarmos meio parelhos com o que há de mais novo nas lojas especializadas dos Estados Unidos.

Ah, sim! Para você que chegou agora, a Lá fora resenha os principais lançamentos em quadrinhos nos Estados.

Sem mais chorumela, vamos às resenhas da semana.

NEW X-MEN 154

Queira você ou não, Grant Morrison fechou sua temporada em New X-Men com todos os foguetes na edição 150. Este epílogo amalucado, o arco Here comes tomorrow, não passa de uma comemoração da Marvel por ter conseguido um contrato com Marc Silvestri (e ainda colocá-lo na prancheta) após vários anos. Morrison, tendo sugadas as últimas gotas do seu sangue para o X-Universo, trabalha meio que de má-vontade.

Na verdade, nada acontece em Here comes tomorrow. O escritor junta um amontoado de clichês e inventa um mundo 150 anos no futuro no qual as mortes de ******** (eu não posso contar) desencadeiam eventos que levam ao fim da humanidade e colocam os mutantes remanescentes em guerra. Morrison não se esforça nem um pouco para brincar com idéias malucas ou com aqueles conceitos lisérgicos que gosta de elaborar.

Bom, o que se percebe é que ele está apenas dando espaço para Silvestri fazer suas páginas duplas cheias de detalhismo irrelevante. O resultado é bastante similar aos gibis dos primórdios da Image: desenhos que o povo gosta, com um roteiro que não desce de jeito nenhum.

HARD TIME 1 / KINETIC 1 / FRACTION 1 / TOUCH 1

Das duas uma: ou a DC está fazendo um experimento bastante arriscado de estética ou acaba de realizar um dos piores investimentos da década. Com o slogan superpoderes, não super-heróis, a linha DC Focus lançou quatro novas séries com temática supostamente mais voltada para a dura realidade das nossas vidas, com um leve toque de super-heroísmo.

Todas as quatro publicações sofrem de um problema impressionante: as histórias têm uma estrutura maluca, própria de iniciantes que ainda não aprenderam o básico sobre timing, narratividade ou mesmo lay-out da página. Parece que há uma necessidade - ou força editorial - de entupir cada edição de cenas, mandando a estrutura pras cucuias. E olha que o mais novato dos escritores ali é David Tischmann, que escreve quadrinhos há uma década.

Touch e Fraction são casos perdidos - os clichês doem na alma. Kinetic - sobre um adolescente doente que descobre ter superpoderes - fica no meio termo, até porque é escrita por uma cara que de vez em quando surpreende, Kelly Puckett. Hard Time - história da vida de um garoto na prisão após participar de um tiroteio na sua escola - é a única que se salva. Escrita pelo veteranão Steve Gerber e com bons desenhos de um cara que veio da Oni, Brian Hurtt, parece ter um pouco de crítica social e verdadeira inventividade para contrabalançar os problemas de estrutura.

Porém, só um milagre (ou uma virada de 180 graus na qualidade) fará a linha durar mais de um ano. Ou mais de seis meses.

SMAX 5

Depois do complexo trabalho em Top Ten, Alan Moore dá destaque a suas duas personagens principais da série policial: Smax e Robyn. É a história do primeiro, o gigante azul, voltando à sua terra natal para encarar os segredos que tão bem guardou durante sua vida como agente da policia. E levando Robyn a tiracolo por um motivo inesperado.

Todavia, na real, Moore não está nem aí para a história de Smax. A desculpa aqui é para forçar sua veia sátira, e tirar sarro de contos-de-fada, RPGs, Senhor dos Anéis e todas estas histórias de dragões e princesas que você conhece. Às vezes com humor negro, outras com deliciosa ironia britânica, Moore brinca com tudo que há de sagrado no gênero.

E, mesmo brincando, o inglês safado ainda consegue tirar uma trama muito boa, nos limites do que o gênero espadas e magia tem de legal. Não é aquele trabalho pesado e intensamente inteligente que todo mundo espera de Moore. É, sim, uma oportunidade única para ver como ele também sabe fazer rir.

ARROWSMITH 6

Kurt Busiek estava realmente precisando de uma desintoxicação de Vingadores.

Após um agradável retorno a Astro City, sua nova criação, Arrowsmith, é daquelas boas histórias heróicas de antigamente, leves e com imaginação.

Pelo menos, era o que eu pensava na primeira edição. Nas seguintes, percebe-se que Busiek está apenas criando algo que pode vender para os estúdios de cinema. O roteiro tem as doses certas da aventura hollywoodiana em simplismo, clichês e efeitos especiais. Numa mistura de filmes sobre novos recrutas (não consigo lembrar o nome de nenhum agora; é daquelas coisas que você sabe que já viu em algum lugar) com Harry Potter, um jovem deixa sua pacata vida rural nos Estados Unidos e alista-se para lutar na Primeira Guerra Mundial na França - onde soldados lutam nos ares guiados por seus dragões e por magia.

Busiek pode até tentar dizer alguma coisa com suas metáforas (coisa que faz bem em Astro City), mas não passa mensagem alguma. O final, aliás, é decepcionante. Uma vez que a história é construída como um filme, espera-se que a última edição seja grandiosa. E ela decepciona sendo apenas mais um ponto baixo, uma reles preparação para a nova minissérie do herói.

Arrowsmith tem um mérito indiscutível: Carlos Pacheco evolui a cada página como um dos melhores desenhistas de ação dos quadrinhos.

BATMAN 625

Por algum motivo, a indústria de quadrinhos americana elegeu Brian Azzarello como o novo grande roteirista da década. Eu ainda não entendi por quê. Tudo que Azzarello faz é imaginar mil maneiras de encaixar os mais baixos palavrões do inglês (coisa que Brian Bendis faz melhor), inventar as situações mais amorais possíveis (no que Garth Ennis e Warren Ellis são insuperáveis) e sempre, sempre, sempre encerrar a cena com o herói (o agente Graves de 100 Balas, John Constantine, Batman) voltando às sombras com um sorriso maléfico.

Há apenas uma única pessoa nos quadrinhos que domina essa última jogada - Frank Miller. É o único que sabe fazer isso com classe, timing e propriedade. E é justamente Miller que Azzarello e seu cúmplice Eduardo Risso estão tentando evocar neste arco de histórias em Batman. Broken city (edições 620 a 625) é simplesmente uma história de Sin City estrelada pelo Homem-Morcego. Tem até os tipos de corpo estranho - Fatman e Little Boy, os vilões em Broken city, não eram nomes de personagens de alguma minissérie Sin City? - do universo noir de Miller.

A trama: investigando um assassinato, Batman dá de cara com outro crime - um menino testemunha o assassinato de seus pais (pegou a referência?). A investigação leva-o a descobrir novas forças em ação no sujo submundo de Gotham City.

Repetindo: Frank Miller é classe. Brian Azzarello é um novato ganhando mais voz do que merece.

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