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Lá fora: Os lançamentos norte-americanos

Lá fora: Os lançamentos norte-americanos

11.10.2004, às 00H00.
Atualizada em 05.01.2017, ÀS 17H04

Na seção "LÁ FORA", o Omelete lê e comenta todos os grandes lançamentos em quadrinhos nos Estados Unidos.

Será que aquele projeto que foi tantas vezes notícia aqui rendeu alguma coisa boa ou foi decepcionante? Quais são as novas séries que estão agitando os leitores americanos? Onde estão surgindo os novos nomes, seja de escritores ou ilustradores?

Vamos conferir aqui, sempre atentos às lojas especializadas americanas, as respostas para estas e outras perguntas.

CLASSWAR 6

Pegue Watchmen e imagine-a na era Bush. Conseguiu?

Bom, Classwar não é e nem quer ser uma obra grandiosa e poderosa como Watchmen, mas a idéia é bem próxima.

American, um super-herói criado e controlado pelos Estados Unidos, descobre toda a verdade sobre os anos de missões que realizou para seu governo, e declara guerra ao país. Claro que o governo americano já imaginava que algo assim poderia acontecer. Por isso, já tem outros de seus heróis criados geneticamente para enfrentar o agora inimigo do estado.

Classwar deveria ter sido o carro-chefe da editora inglesa Com.X, mas teve um grave problema: levou dois anos para ser concluída, devido a problemas internos da editora e à desistência do desenhista Trevor Hairsine (logo incorporado à Marvel - veja Os Seis Sinistros em Marvel Millennium) na metade da mini. A editora não emplacou nenhum outro sucesso como esse.

A idéia é legal, e Rob Williams é um escritor muito competente - ainda mais considerando que se trata de seu primeiro trabalho publicado. No entanto, falta um pouco de estrutura à publicação, que tem como principal problema um fim apressado. Mesmo se comparada a Poder supremo, a série da Marvel com tema bem similar, Classwar fica prejudicada. Apesar de tudo, merece destaque por ser um dos poucos quadrinhos indie de super-herói a despertar um grande interesse da crítica. E vale a leitura.

LOVE FIGHTS 16

Love fights foi o primeiro gibi de Andi Watson que li (Namor não vale). Impossível não dizer: é uma experiência ao mesmo tempo estranha e muito legal. É como ler mangá pela primeira vez: aos poucos você vai se acostumando.

Watson não é sempre minimalista nos traços - suas páginas, às vezes, ficam carregadas, mas sua principal característica é ser econômico ao contar a história. Ele faz excelente uso das imagens, preferindo deixar o texto em segundo plano. Além disso, gosta de variar o estilo de desenho de acordo com a sensação que quer passar.

Quem ainda não leu nada de Watson pode estar pensando que é algo de outro mundo. Nem tanto. São histórias bem calminhas, leves, comuns, apenas contadas de um jeito diferente.

Love fights é a história da paixão entre um desenhista de quadrinhos, Jack, e uma jornalista, Nora, num mundo cheio de super-heróis - até o gato dele é um vigilante mascarado com superpoderes. O amor entre os dois vai e volta - daí o título - sempre em brigas envolvendo os malditos super-heróis...

A série seria mais legal se tivesse durado. Dá pra perceber que Watson estava apenas criando e mantendo o clima nos primeiros dez números. Nos dois finais, deu uma corrida para criar um fim.

Não era o sentido da vida, mas vou sentir falta.

BITE CLUB 6

Aceite a publicidade literalmente: é A família Soprano, em forma de vampiros.

Eduardo del Toro, líder da maior família mafiosa de Miami, é cruelmente assassinado. Segundo seus desejos, quem deve substituí-lo é Leto, o filho renegado que deixou a casa para seguir o sacerdócio (!). Claro que não é o que seus irmãos, nem sua mãe, nem todos aqueles vários comparsas e capangas da família estavam esperando. Se aceitar o pedido póstumo de seu pai, ele não só vai ter que vingar sua morte, mas também lidar com toda a tensão dentro de casa - o que é bem perigoso quando se tem um império criminoso a manter.

Se você gosta da Família Soprano, continue assistindo o seriado. É a mesma coisa: como numa novelinha, cada personagem está indo para um lado e tem que resolver seus problemas pessoais. O fato de todos serem vampiros é mero acessório, às vezes chega a ser totalmente insignificante. E Howard Chaykin, que já foi grande, continua descendo cada vez mais rumo à banalidade.

BLOODHOUND 1 / MANHUNTER 1

Veja só: a DC investindo em séries de super-heróis para público adulto. Se não me falha a memória, faz tempo que isso não acontecia. Lembra da época de Xeque-Mate, Esquadrão Suicida, Vigilante? Por enquanto, ainda não se chegou àquele nível. Mas voltamos a ter chance.

Bloodhound é sobre um ex-policial, preso anos atrás por um crime até agora não revelado, que ganha liberdade condicional por causa de sua especialidade: caçar supercriminosos como nenhum outro agente da lei. Os roteiros são de Dan Jolley, os desenhos de Leonard Kirk.

A nova versão de Manhunter traz uma promotora pública que decide fazer justiça com as próprias mãos quando os supercriminosos que tenta prender são soltos por um sistema judiciário ineficaz. Para isso, ela serve-se do depósito de aparelhos e uniformes de supervilões apreendidos pela polícia de Los Angeles. Roteiros de Marc Andreyko, desenhos de Jesus Saiz.

Até agora as duas revistas não deixaram muito claros seu propósito ou direção. Os roteiros, porém, são bons, bem estruturados, e os desenhos estão bastante adequados. Só falta algum toque especial para deixá-las imperdíveis.

Nenhuma delas traz advertências na capa quanto ao conteúdo adulto. Corre muito sangue pelas páginas, e os diálogos e situações não são nada infantis. Por quê? Pra ser adulto tem que ter sexo?

DC FOCUS

Detonei esta nova linha da DC quando foi lançada. Passados alguns meses, deu para encontrar uma constante: o que ela tem de bom, é muito bom; o que ela tem de ruim, é muito ruim. Agora a boa notícia: a parte ruim já se foi, sumariamente cancelada no número 6 pela DC.

Foi o caso de Fraction e Touch.

Em Fraction, quatro amigos criminosos (vigaristas, batedores de carteira, dessa laia menor) encontram uma armadura de alta tecnologia, tipo a do Homem-de-Ferro, e resolvem dividir suas partes - luvas, botas, capacete, torso - entre si para praticar seus crimes ou tentar levar uma vida mais decente. Touch é a história de um cara que pode dar superpoderes a qualquer um que tocar - dom que ele usa espertamente para criar astros do showbusiness. Apesar das idéias legais, as duas séries eram muito mal escritas (David Tischman e John Francis Moore, respectivamente) e muito mal desenhadas (pelos novatos Timothy Green e Wesley Craig). Já foram tarde.

Agora, Kinetic e Hard Time, as outras duas publicações da linha, estão ótimas.

Kinetic é minha predileta. É sobre um garoto adolescente que sofre de uma doença degenerativa rara, superprotegido pela mãe e com vários problemas de ajuste social, que, um dia, descobre ter superpoderes. É escrita por um dos gênios esquecidos da narrativa em quadrinhos, Kelley Puckett. Só merecia um desenhista melhor do que Warren Pleece.

Hard Time, o gibi da Focus que mais fez sucesso, é sobre outro adolescente que, condenado por um daqueles assassinatos em massa comuns nas escolas dos Estados Unidos, pega cinqüenta anos (!) de cadeia. O único jeito que ele encontra de sobreviver na prisão é com um estranho superpoder que se manifesta enquanto ele dorme. A narrativa intercala momentos durões e engraçados, com um roteiro cínico do veterano Steve Gerber.

Apesar da sujeira já ter sido jogada fora, as revistas da Focus não vão muito bem nas vendas. A linha corre o risco de ser um experimento tão ou mais decepcionante do que o Novo Universo da Marvel, de quase vinte anos atrás. Só vai se salvar se mais gente descobrir a qualidade que está ali.

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